DIGA MENOS DO QUE O NECESSÁRIO
Quando você procura
impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta
ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo
algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático.
Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você
fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira.
O poder é de várias maneiras um jogo de aparências, e, quando você
diz menos do que o necessário, inevitavelmente parecerá maior e mais poderoso
do que é. O seu silêncio deixará as pessoas pouco à vontade. Os seres humanos
são máquinas de interpretar e explicar e explicar: precisam saber o que o outro
está pensando. Se você controla cuidadosamente o que revela, eles não
conseguirão penetrar nas suas intenções ou nos seus pensamentos.
As respostas curtas que você
der e o seu silêncio os colocarão na defensiva, e eles, nervosos, se apressarão
a preencher o silêncio com diversos comentários que acabam revelando
informações valiosas sobre eles mesmos e as suas fraquezas. Eles sairão de uma
reunião com você sentindo-se roubados, e irão para casa pensar em todas as
palavras que você disse. Esta atenção extra às suas parcas observações só
aumentará o poder que você tem.
Dizer menos do que o
necessário não é só para os reis e estadistas. Em quase todas as áreas da vida,
quanto menos você diz, mais profundo e misterioso parece. Quando jovem, o
artista Andy Warhol teve a revelação de que era impossível convencer as pessoas
a fazer o que se queria delas apenas conversando. Elas se voltariam contra
você, subverteriam os seus desejos, desobedeceriam a você por simples
perversidade. Certa vez ele disse a um amigo, “Aprendi que na verdade você tem
mais poder quando fica de boca fechada”.
Falando menos do que o
necessário, você cria a aparência de significado e de poder. Também, quanto
menos você diz, menor é o risco de falar uma bobagem ou até algo perigoso. Em
1825, um novo czar, Nicolau I, subiu ao trono) da Rússia. Imediatamente houve
uma rebelião liderada por liberais que exigiam que o país se modernizasse — que
suas indústrias e estruturas civis se igualassem às do resto da Europa.
Esmagando brutalmente esta revolta (a Insurreição de Dezembro), Nicolau I
condenou à morte um de seus líderes, Kondrati Rileive. No dia da execução, Rileiev
subiu ao patíbulo, a corda no pescoço. O alçapão se abriu — mas, quando Rileiev
ficou suspenso no ar, a corda se rompeu e ele foi ao chão. Na época, essas
ocorrências eram sinal da providência ou vontade divina e quem se salvasse da
morte dessa forma costumava ser perdoado. Quando Rileive se levantou, sujo e
arranhado, mas acreditando que estava com o pescoço à salvo, gritou para a
multidão, “Estão vendo, na Rússia não sabem fazer nada direito, nem mesmo uma
corda!” Um mensageiro seguiu imediatamente para o Palácio de Inverno com a
notícia do enforcamento que não tinha acontecido. Apesar de irritado com essa
reviravolta frustrante, Nicolau I começou a assinar o perdão. Mas aí: Releiev
disse alguma coisa depois deste milagre?”, o czar perguntou ao mensageiro.
“Senhor”, o mensageiro respondeu, “ele disse que na Rússia não se sabe nem
fazer uma corda.” “Nesse caso”, disse o czar, “vamos provar o contrário”, e
rasgou o perdão. No dia seguinte, Rileiev foi para a forca de novo. Desta vez a
corda não se partiu.
Aprenda a lição: As
palavras, depois de pronunciadas, não podem ser tomadas de volta. Mantenha-as
sob controle. Cuidado particularmente com o sarcasmo: a satisfação momentânea
que se tem dizendo frases sarcásticas será menor do que o preço que se paga por
ela.
O INVERSO
Há momentos em que não é
sensato ficar calado. O silêncio pode despertar suspeitas e até insegurança,
especialmente nos seus superiores; um comentário vago e ambíguo pode expor você
a interpretações com as quais não contava. Ficar em silêncio e dizer menos do
que o necessário são técnicas que devem ser praticadas com cautela, portanto, e
na ocasião certa. Ocasionalmente, é mais sensato imitar o bobo da corte, que se
faz de tolo mas sabe que é mais esperto do que o rei. Ele fala e fala, e distrai
todo mundo, ninguém desconfia de que ele não é tão tolo assim.
Às vezes, as palavras também
funcionam como uma espécie de cortina de fumaça quando você quer enganar os
outros. Enchendo os seus ouvintes com palavras, você os distrai e hipnotiza;
quanto mais você falar, menos eles desconfiam de você. A verborragia não é
percebida como maliciosa e manipuladora, mas como sinal de incompetência e
ingenuidade. Isto é o inverso da política do silêncio utilizada pelos
poderosos: falando mais, e parecendo mais fraco e menos inteligente do que é,
você pratica a dissimulação com muito mais facilidade.
Não abra a boca antes dos seus subordinados. Quanto mais você
permanecer calado, mais rápido os outros começam a dar com a língua nos dentes.
Quando eles movem os lábios e dão com a língua nos dentes, eu posso compreender
suas verdadeiras intenções... Se o soberano não é misterioso, os ministros
terão oportunidade de se aproveitar.
Han-fei-tsé, filósofo
chinês, século 3 a .C.
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