LEI 2
NÃO CONFIE DEMAIS NOS
AMIGOS. APRENDA A USAR OS INIMIGOS
Cautela com os amigos - eles
o trairão mais rapidamente, pois são com mais facilidade levados à inveja. Eles
também se tornam mimandos e tirânicos. Mas contrate um ex-inimigo e ele lhe será
mais fiel do que um amigo, porque tem mais a provar. De fato, você tem mais o
que temer por parte dos amigos do que dos inimigos. Se você não tem inimigos,
descubra um jeito de tê-los.
Ninguém acredita que um
amigo possa trair.
Amigos são como os dentes e
a mandíbula de um animal perigoso, se você não toma cuidado eles acabam
mastigando você.
É natural querer empregar os
amigos quando você mesmo está passando por dificuldades. O mundo é árido e os
amigos o suaviza. Além do mais você os conhece.
Por que depender de um estranho quando se tem um amigo à mão?
O problema é que nem sempre
se conhece os amigos tão bem quando se imagina. Eles costumam concordar para
evitar discussões, disfarçam suas qualidades desagradáveis para não se
ofenderem mutuamente. Acham graça demais nas piadas uns dos outros. Visto que a
honestidade raramente reforça a amizade. Você talvez jamais saiba o que um
amigo realmente sente. Eles dirão que gostam de poesia, adoram a música,
injevam o seu bom gosto para se vestir – talvez estejam sendo sinceros, com
freqüência não estão.
Quando você
decide contratar um amigo, aos poucos vai descobrindo as qualidades que ele, ou
ela, estava escondendo. Curiosamente, é o seu ato de bondade que desequilibra
tudo. As pessoas querem sentir que merecem a sorte que estão tendo. O recibo
por um favor pode ser opressivo: significa que você foi escolhido porque é um
amigo, não necessariamente porque merece. Existe quase um ato de
condenscendência no ato de contratar os amigos que no íntimo os aflige. O dano vai surgindo lentamente: um pouco mais de honestidade, lampejos de
inveja e ressentimento aqui e ali e, antes que você perceba, a amizade se foi.
Quanto mais favores e presentes você distribuir para reavivar a amizade, menos
gratidão receberá em troco.
A ingratidão tem uma longa e profunda história. Ela tem
demonstrado seus poderes há tantos séculos que é realmente interessante que as
pessoas continuem subestimando-os. Melhor prestar atenção. Se você nunca espera
gratidão de um amigo, vai ter uma agradável surpresa quando eles se mostrarem
agradecidos.
O problema de usar ou contratar amigos é que isso
inevitavelmente limitará o seu poder. É raro o amigo ser a pessoa mais capaz
de ajudar você; e, afinal, capacidade e competência são muito mais importantes
do que sentimentos de amizade.
Todas as situações de trabalho exigem uma certa distância
entre as pessoas. Você está tentando trabalhar, não fazer amigos; a amizade
(real ou falsa) só obscurece esse fato. A chave do poder, portanto, é a
capacidade de julgar quem é o mais capaz de favorecer os seus interesses em
todas as situações. Guarde os amigos para a amizade, mas para o trabalho
prefira os capazes e competentes.
Seus inimigos, por outro lado, são uma mina de ouro
escondida que você deve aprender a explorar.
Como disse Lincoln, você destrói um inimigo quando faz
dele um amigo.
Sem inimigos a nossa volta, ficaríamos preguiçosos. Um
inimigo nos calcanhares aguça a nossa percepção, nos mantém concentrados e
alertas. Às vezes, então, é melhor usar os inimigos como inimigos mesmo, em vez
de transformá-los em amigos ou aliados.
Um inimigo nitidamente definido é um argumento muito mais
forte a seu favor do que todas as palavras que você conseguir usar.
Jamais deixe que a presença de inimigos o perturbe ou aflija
- você está muito melhor com um ou dois adversários declarados do que quando
não sabe quem é o seu verdadeiro inimigo. O homem de poder aceita o conflito,
usando o inimigo para melhorar a sua reputação como um lutador seguro, em quem
se pode confiar em épocas incertas.
O INVERSO
Embora em geral seja melhor não misturar trabalho com amizade, há
momentos em que um amigo pode ser mais eficaz do que um inimigo. Um homem de
poder, por exemplo, freqüentemente precisa fazer um trabalho sujo, mas, para
salvar as aparências, é melhor deixar que outros façam isso por ele: os amigos
são os melhores, visto estarem dispostos a se arriscar pelo afeto que sentem
por ele. Além disso, se os seus planos gorarem por algum motivo, o amigo é um
bode expiatório muito conveniente. Esta “queda do favorito” era um truque usado
com freqüência por reis e soberanos: eles deixavam que o seu melhor amigo na
corte assumisse a responsabilidade por um erro, visto que o público não
acreditaria que eles deliberadamente sacrificassem um amigo com esse
propósito. E claro que, depois de fazer essa jogada, você perdeu o seu amigo
para sempre. E melhor, portanto, reservar o papel de bode expiatório para
alguém chegado a você, mas não muito.
Finalmente, o problema de trabalhar com amigos é que isso
confunde os limites e as distâncias que o trabalho exige. Mas, se ambos os
parceiros no arranjo compreendem os perigos envolvidos, um amigo pode ser muito
eficaz. Você não deve jamais baixar a guarda nessa aventura, entretanto, fique
sempre atento a qualquer sinal de perturbação emocional, tal como inveja e
ingratidão. Nada é estável no reino do poder, e mesmo os amigos mais chegados
podem se transformar nos piores inimigos.
“Os homens
apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é
um peso e a vingança um prazer.”
Tácito
“Muita gente pensa que um
príncipe sábio deveria, tendo oportunidade, incentivar astuciosamente uma
inimizade uma inimizade, de forma que, ao elimina-la, ele possa aumentar a sua
grandeza. Os príncipes especialmente os novos, encontraram mais fé e utilidade
naqueles homens a quem, no início do seu poder, viam com suspeita, do que
naqueles em quem começaram confiando.”
Nicolau Maquiavel
“Saiba tirar vantagem dos
inimigos. Você precisa aprender que não é pela lâmina que se segura a espada,
mas pelo punho, para poder se defender. O sábio lucra mais com seus inimigos do
que o tolo com seus amigos.”
Baltasar Gracián.
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