ANIQUILE TOTALMENTE O INIMIGO
Todos os grandes líderes
sabem que o inimigo perigoso deve ser esmagado totalmente. Se restar uma só
brasa, por menor que seja, acabará se transformando em fogueira. Perde-se
mais fazendo concessões do que pela total aniquilação: o inimigo se recuperará,
e se vingará. Esmague-o, física e espiritualmente.
A idéia é simples: Seus
inimigos não gostam de você. O que eles mais querem é acabar com você. Se ao
combatê-los você parar no meio do caminho, ou mesmo depois de percorrer três
quartos do caminho, por misericórdia ou esperança de reconciliação, você só os
tornará mais determinados, mais amargurados, e um dia eles se vingarão. Eles
podem agir cordialmente por uns tempos, mas isso só porque você os derrotou.
Eles não têm outra escolha a não ser aguardar.
A solução: Não ter
misericórdia. Esmagá-los totalmente, como eles o esmagariam. A única paz e
segurança que você pode esperar dos seus inimigos é quando eles desaparecem.
O princípio por trás de
“esmagar o inimigo” é tão antigo quanto a Bíblia: o primeiro a colocá-lo em
prática foi Moisés, que a aprendeu com o próprio Deus, que abriu o mar Vermelho
para os judeus e depois deixou que as águas fluíssem novamente afogando os
egípcios que vinham logo atrás, de forma a “não sobrar nem um só deles”.
Moisés, quando desceu do Monte Sinai com os Dez Mandamentos e viu seu povo
adorando o Bezerro de Ouro, mandou matar todos os pecadores. E pouco antes de
morrer, ele contou ao seu povo, finalmente prestes a entrar na Terra Prometida,
que ao derrotarem as tribos de Canaã deveriam tê-las “destruído totalmente...
sem aliança e nem misericórdia”.
A vitória total como meta é
um dos axiomas da guerra moderna, e foi codificada como tal por Carl von
Clausewitz, o ministro filósofo da guerra. Analisando as campanhas de Napoleão,
von Clausewitz escreveu, “Nós sustentamos que a aniquilação total das forças
inimigas deva sempre ser a idéia predominante (...) Uma vez obtida uma grande
vitória não se pode falar em descansar, em respirar (...) mas apenas de
perseguir, de ir atrás do inimigo novamente, conquistar a sua capital, atacar
suas reservas e tudo mais que possa dar ao seu país ajuda e conforto”. Isso
porque depois da guerra vêm as negociações e a divisão de território. Se você
teve apenas uma vitória parcial, vai inevitavelmente perder nas negociações o
que lucrou com a guerra.
A solução é simples: não dê
opção aos seus inimigos. Aniquile-os e você é quem vai trinchar o território
deles. O objetivo do poder é controlar seus inimigos totalmente, fazê-los
sujeitar-se ao que você deseja. Você não pode se dar ao luxo de fazer concessões.
Sem outra opção, eles serão forçados a fazer o que você manda. Esta lei não se
aplica apenas ao campo de batalha. Negociações são como uma víbora insidiosa
que corrói a sua vitória, portanto não negocie nada com o inimigo, não lhe dê
nenhuma esperança, nenhum espaço de manobra.
Eles estão esmagados e ponto
final.
Entenda isto: na sua luta
pelo poder você vai despertar rivalidades e criar inimigos. Haverá pessoas que
você não conseguirá convencer, que permanecerão suas inimigas não importa o que
aconteça. Mas seja qual a dor que você lhes causar, deliberadamente ou não, não
leve o ódio delas para o lado pessoal. Reconheça apenas que não há
possibilidade de paz entre vocês dois, principalmente se você continuar no
poder. Se você deixar que elas fiquem por perto, elas vão procurar se vingar,
com tanta certeza quanto depois do dia vem a noite. Esperar que elas mostrem
suas cartas é tolice.
Seja realista: com um
inimigo assim por perto, você jamais terá segurança. Aprenda com os exemplos da
história, e com a sabedoria de Moisés: não faça concessões.
Não é uma questão de morte,
é claro, mas de exílio. Suficientemente enfraquecidos e depois banidos para
sempre da sua corte, seus inimigos se tornam inofensivos. Não têm mais
esperanças de se recuperar, de vir se insinuando e ferir Você. E se for
impossível bani-los, pelo menos saiba que eles estão tramando contra você, e
não dê atenção aos seus gestos fingidos de amizade. A sua única arma numa
situação dessa é a sua própria cautela. Se não puder bani-los imediatamente,
então planeje o melhor momento para agir.
O INVERSO
Raramente se deve ignorar
esta lei, mas acontece que às vezes é melhor deixar que os seus inimigos se
destruam, se isso for possível, do que fazê-los sofrer nas suas mãos. Na
guerra, por exemplo, um bom general sabe que atacando um exército encurralado
seus soldados lutarão com muito mais entusiasmo. Por isso, às vezes é melhor
lhes deixar uma saída de emergência, uma escapatória. Recuando eles se
desgastam, e a retirada os deixa mais desmoralizados do que qualquer derrota
nas mãos desse general no campo de batalha. Se você tem alguém com a corda no
pescoço, então — mas só se você tiver certeza de não haver chances de
recuperação — é melhor deixar que ele se enforque. Que ele mesmo seja o agente da
sua própria destruição. O resultado será o mesmo, e você não se sentirá tão
mal.
Finalmente, ao esmagar um
inimigo às vezes você o irrita tanto que ele passa anos a fio tramando uma
vingança. O Tratado de Versalhes teve esse efeito sobre os alemães. Há quem
diga que a longo prazo é melhor mostrar uma certa demência. O problema é que a
sua demência implica um outro risco — ela pode encorajar o inimigo, que ainda
guarda rancor, mas agora tem mais espaço para agir. Quase sempre é mais sensato
esmagar o inimigo. Se anos depois ele quiser se vingar, não baixe a guarda,
simplesmente esmague-o de novo.
Pois é preciso notar que os homens devem ser afagados ou então
aniquilados; eles se vingarão de pequenas ofensas, mas não poderão fazer o
mesmo nas grandes ofensas; quando ofendemos um homem, portanto, devemos
fazê-lo de modo a não ter de temer a sua vingança.
Nicolau Maquiavel, 1469-1527
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