LEI 1
NÃO OFUSQUE O BRILHO DO MESTRE
Faça sempre que as pessoas acima de você se sintam
confortavelmente superiores. Querendo agradar ou impressionar, não exagere
exibindo seus próprios talentos ou poderá conseguir o contrário - inspirar medo
e insegurança. Faça com que seus mestres pareçam mais brilhantes do que são na
realidade.
Todos têm as suas
inseguranças. Quando você se expõe ao mundo e mostra os seus talentos é natural
que isso desperte todos os tipos de ressentimentos, invejas e outras
manifestações de insegurança. É de se esperar que isso aconteça. Você não pode
passar a vida preocupando com os sentimentos mesquinhos dos outros. Mas com
quem está acima de você, é preciso adotar outra abordagem: quando se trata de
poder, brilhar mais do que o mestre talvez seja o maior erro.
Quem conquista um alto
status na vida é como os reis e as rainhas: quer se sentir seguro na sua posição
e superior aos que os cercam em inteligência, perspicácia e charme. É uma falha
de percepção mortal, porém comum, acreditar que exibindo e alardeando os seus
dons e talentos você está conquistando o afeto do senhor. Ele pode fingir
apreço, mas na primeira oportunidade vai substituir você por alguém menos
brilhante, atraente e ameaçador.
Duas regras:
1ª - é possível
inadvertidamente brilhar mais do que o senhor sendo simplesmente você mesmo.
Existem senhores que são mais inseguros do que outros. A lição é simples se não
for possível evitar ser charmoso e superior, você deve aprender a evitar esses
monstros de vaidade. É isso ou descobrir
um jeito de apagar as suas boas qualidades quando estiver com o superior.
2ª - não imagine que pode
fazer tudo o que quiser só porque o senhor gosta de você. Livros inteiros
poderiam ser escritos sobre favoritos que caíram em desgraça por considerar
garantido o seu status por ousar brilhar.
Sabendo dos perigos de
brilhar mais do que o seu senhor, você pode tirar vantagem desta lei. Primeiro
você precisar elogiar e cortejar o seu senhor. A bajulação explícita pode ser
eficaz, mas tem seus limites; é por demais direta e óbvia e causa má impressão
aos outros cortesãos. Cortejar discretamente é muito mais eficaz. Se você é mais
inteligente do que seu senhor, por exemplo, aparente o oposto, deixe que ele
pareça mais inteligente do que você. Mostre ingenuidade. Faça parecer que você
precisar da habilidade dele. Cometa erros inofensivos que não afetarão você a
longo prazo, mas lhe darão chance de pedir a sua ajuda. Os senhores adoram
essas solicitações. O mestre que não consegue presenteá-lo com sua experiência
pode deixar cair sobre você a sua ira e má vontade.
Se a suas idéias são mais
criativas do que as do seu mestre, atribua-as a ele da maneira mais pública
possível. Deixe claro que seu conselho está simplesmente repetindo um conselho
dele.
Se você for mais esperto do
que seu mestre, tudo bem em representar o papel de bobo da corte, mas não o
faça parecer frio e mal humorado em comparação. Apague um pouco o seu senso de
humor se necessário e descubra com fazer parecer que é ele que está divertindo
e alegrando os outros.
O INVERSO
Você não pode ficar se preocupando em não
aborrecer todas as pessoas que cruzam o seu caminho, mas deve ser seletivamente
cruel. Se o seu superior é uma estrela cadente não há perigo nenhum brilhar
mais do que ele. Não tenha misericórdia – seu senhor não teve escrúpulos na sua
ascensão a sangue frio até o topo. Calcule a força dele. Se for fraco apresse
discretamente a sua queda: supere-o, seja mais encantador, mais inteligente do
que ele nos momentos-chave. Se ele for muito mais fraco e estiver prestes a
cair, deixe a natureza seguir o seu curso. Não arrisque brilhar mais do que um
superior frágil – pode parecer crueldade ou despeito. Mas se o seu senhor está
firme na sua posição e você sabe que é mais capaz do que ele, tenha paciência e
espere o momento mais propício. O curso natural das coisas é o poder acabar
enfraquecendo. O seu senhor cairá um dia e, se jogar direito, você vai
sobreviver, e um dia brilhar mais do que ele.
“Evite
brilhar mais do que o seu senhor. Toda superioridade é odiosa, mas a
superioridade de um súdito com relação ao seu príncipe não só é estúpida como
fatal.”
Baltasar Gracián
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