quarta-feira, 19 de julho de 2017

Lares Celestiais—Famílias Eternas

Lares Celestiais—Famílias Eternas

PRESIDENTE THOMAS S. MONSON



Edificar um Lar Eterno

É com muita humildade que represento a Primeira Presidência como o último orador

desta reunião. Fomos inspirados e edificados pelas palavras do Élder Bednar, do Élder

Perry e da irmã Parkin. Nossos pensamentos se centralizaram no lar e na família ao

sermos relembrados que “o lar é a base de uma vida digna, e nenhuma outra coisa

pode substituí-lo nem cumprir suas funções essenciais”. 1

Um lar é muito mais do que uma casa construída com madeira, tijolos ou pedras. Um

lar é feito de amor, sacrifício e respeito. Somos responsáveis pelo lar que construímos.

Precisamos edificar com sabedoria, porque a eternidade não é uma viagem curta.

Haverá calmarias e ventos, sol e trevas, alegria e tristezas. Mas se realmente

tentarmos, nosso lar pode ser um pedaço do céu aqui na Terra. As coisas que

pensamos, as ações que praticamos, a vida que levamos, não apenas influenciam o

sucesso de nossa jornada terrena, como também assinalam o caminho para nossas

metas eternas.

Algumas famílias da Igreja são compostas de mãe, pai e filhos, todos em casa, ao

passo que outras testemunharam a triste partida de um, depois outro e mais outro de

seus membros. Às vezes, uma única pessoa compõe uma família. Seja qual for sua

composição, a família tem continuidade — porque as famílias podem ser eternas.

Podemos aprender com o Arquiteto Mestre — sim, o Senhor. Ele nos ensinou como

precisamos edificar. Ele declarou: “[Toda] casa dividida contra si mesma não

subsistirá” (Mateus 12:25). Mais tarde, admoestou: “Eis que minha casa é uma casa

de ordem (. . .) e não uma casa de confusão” (D&C 132:8).

Em uma revelação dada por intermédio do Profeta Joseph Smith em Kirtland, Ohio,

em 27 de dezembro de 1832, o Mestre aconselhou: “Organizai-vos; preparai todas as

coisas necessárias e estabelecei uma casa, sim, uma casa de oração, uma casa de

jejum, uma casa de fé, uma casa de aprendizado, uma casa de glória, uma casa de

ordem, uma casa de Deus” (D&C 88:119; ver também 109:8).

Onde poderíamos encontrar uma planta mais adequada com a qual Ele pudesse

edificar sábia e devidamente? Essa casa respeitaria o código de construção descrito

em Mateus, sim, uma casa construída “sobre a rocha” (Mateus 7:24, 25; ver também

Lucas 6:48; 3 Néfi 14:24, 25), uma casa capaz de suportar as chuvas da adversidade,

as enchentes da oposição e os ventos da dúvida, que estão sempre presentes em nosso

mundo desafiador e em constante mudança.

Alguns poderiam perguntar: “Mas essa revelação foi dada para orientar a construção

de um templo. Será que ela é relevante hoje em dia?”

Eu responderia: “Acaso não declarou o Apóstolo Paulo: ‘Não sabeis vós que sois o

templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?’” (I Coríntios 3:16).

Deixem que o Senhor seja o empreiteiro geral de nosso projeto de construção. Depois,

todos podemos ser mestres-de- obras, responsáveis por partes vitais do projeto inteiro.

Todos então seremos construtores. Além de edificar o nosso próprio lar, também

temos a responsabilidade de ajudar a edificar o reino de Deus aqui na Terra, servindo

fiel e eficazmente em nossos chamados na Igreja. Gostaria de prover-lhes diretrizes

divinas, lições de vida e pontos a ponderar ao começarmos a construir.

Ajoelhem-se para Orar

“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio

entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas

veredas” (Provérbios 3:5–6). Assim falou o sábio Salomão, filho de Davi, rei de

Israel.

Neste continente americano, Jacó, o irmão de Néfi, declarou: “Confiai em Deus com a

mente firme e orai a ele com grande fé” (Jacó 3:1).

Esse conselho divinamente inspirado chega até nós hoje tão claro quanto água

cristalina a uma Terra ressecada. Vivemos numa época complicada.

Há bem poucas gerações atrás, ninguém poderia imaginar o mundo em que vivemos

hoje e os problemas que nele existem. Estamos cercados pela imoralidade,

pornografia, violência, drogas e uma infinidade de outros males que afligem a

sociedade moderna. Temos o desafio, sim, a responsabilidade de não apenas manter-

nos “[imaculados]” (Tiago 1:27), mas também de guiar nossos filhos e outras pessoas

sob nossa responsabilidade com segurança através dos mares tempestuosos do pecado

que nos cercam, para que possamos voltar a viver um dia com nosso Pai Celestial.

A educação de nossa própria família exige nossa presença, nosso tempo e o máximo

de nosso empenho. Para sermos eficazes em nosso ensino, precisamos ser vigorosos

em nosso exemplo para os membros de nossa família estar disponíveis para passar

algum tempo com cada um deles e também para aconselhar e orientar.

Freqüentemente nos sentimos sobrecarregados com a tarefa que temos diante de nós.

Contudo, sempre contamos com ajuda. Ele que conhece cada um de Seus filhos

responderá nossa oração fervorosa e sincera, se buscarmos ajuda para guiá-los. Essa

oração resolverá mais problemas, aliviará mais sofrimentos, evitará mais

transgressões e proporcionará mais paz e alegria à alma humana do que qualquer

outra coisa.

Além de precisarmos dessa orientação para nossa própria família, fomos chamados a

cargos em que temos responsabilidade por outros: como bispo ou conselheiro, como

líder de um quórum do sacerdócio ou de uma organização auxiliar. Líder, você tem a

oportunidade de exercer uma grande influência na vida de outras pessoas. Pode haver

aqueles que têm familiares menos ativos ou não-membros; alguns podem ter-se

afastado dos pais, não dando atenção a suas súplicas e conselhos. Podemos muito bem

ser o instrumento nas mãos do Senhor para fazer algo importante na vida de alguém

em tal situação. Sem a orientação de nosso Pai Celestial, porém, não podemos fazer

tudo a que fomos chamados a fazer. Essa ajuda vem por meio da oração.

Foi perguntado a um famoso juiz americano o que nós, como cidadãos dos países do

mundo, poderíamos fazer para reduzir o crime e a desobediência à lei e trazer paz e

alegria à nossa vida e ao nosso país. Ele respondeu, pensativo: “Eu sugeriria uma

volta ao antigo costume de orar em família”.

Como povo, quão gratos somos pelo fato de a oração familiar não ser um costume

antiquado entre nós. Há um significado real neste conhecido ditado: “A família que

ora unida, permanece unida”.

O próprio Senhor ordenou que tivéssemos oração familiar, ao dizer: “Orai ao Pai no

seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que vossas mulheres e vossos

filhos sejam abençoados” (3 Néfi 18:21).

Como pais, professores e líderes em qualquer cargo, não podemos nos dar ao luxo de

tentar realizar essa jornada potencialmente perigosa pela mortalidade, sem o auxílio

celeste para ajudar-nos na orientação daqueles que estão sob nossa responsabilidade.

Ao oferecermos a Deus nossas orações familiares e pessoais, façamos isso com fé e

confiança Nele. Ajoelhem-se para orar.

Aceitem a Tarefa de Servir

Tomemos, como exemplo, a vida do Senhor. Tal como um brilhante facho de luz de

virtude foi a vida de Jesus, ao ministrar entre os homens. Ele deu força aos membros

do inválido, visão aos olhos dos cegos, audição aos ouvidos dos surdos e vida ao

corpo dos mortos.

Suas parábolas pregavam Seu poder. Com a parábola do bom samaritano Ele ensinou:

“Ama teu semelhante” (ver Lucas 10:30–35). Por meio de Sua bondade para com a

mulher apanhada em adultério, Ele ensinou a compreensão compassiva (ver João

8:3–11). Em Sua parábola dos talentos, Ele nos ensinou a progredir e a esforçar-nos

para alcançar a perfeição (ver Mateus 25:14–30). Ele bem poderia estar nos

preparando para nosso papel na edificação de uma família eterna.

Cada um de nós — seja um líder do sacerdócio ou de uma organização auxiliar — é

responsável por seu chamado sagrado. Fomos designados para o trabalho ao qual

fomos chamados. Em Doutrina e Convênios 107:99 o Senhor disse: “Portanto agora

todo homem aprenda seu dever e a agir no ofício para o qual for designado com toda

diligência”. Ao ajudarmos a abençoar e fortalecer os que estão sob nossa

responsabilidade em nossos chamados na Igreja, estamos de fato, abençoando e

fortalecendo sua família. Assim, o serviço que realizamos em nossa família e em

nossos chamados na Igreja pode ter conseqüências eternas.

Há muitos anos, como bispo em uma ala grande e heterogênea, de mais de mil

membros, localizada no centro de Salt Lake City, enfrentei inúmeros desafios.

Certa tarde de domingo, recebi o telefonema do proprietário de uma drogaria que

ficava dentro dos limites de nossa ala. Ele disse que naquela manhã, um rapaz tinha

ido até sua loja e comprado um sorvete. Ele pagara a compra com dinheiro que havia

tirado de um envelope e depois, quando saiu, esqueceu de levar o envelope. Quando o

proprietário teve a chance de examiná-lo, descobriu que era um envelope de oferta de

jejum com o nome e o telefone de nossa ala impresso nele. Ao descrever-me o menino

que estivera em sua loja, imediatamente identifiquei quem era: um jovem diácono de

nossa ala que fazia parte de uma família menos ativa.

Minha primeira reação foi ficar chocado e desapontado ao pensar que um de nossos

diáconos havia coletado dinheiro de oferta de jejum para ajudar os necessitados e

tinha ido a uma loja no domingo para comprar guloseimas com /’esse dinheiro. Decidi

visitar aquele menino naquela tarde para ensiná-lo a respeito dos fundos sagrados da

Igreja e ‘/de seu dever como diácono de coletar e proteger esse dinheiro.

Ao dirigir-me para sua casa, fiz uma oração silenciosa pedindo orientação sobre como

abordar a situação. Cheguei e bati na porta. A mãe do menino abriu a porta e me

convidou para entrar na sala de estar. Embora a sala estivesse mal iluminada, pude ver

que era pequena e pobre. Os poucos móveis que ali havia estavam bem estragados. A

própria mãe parecia muito cansada.

Minha indignação pelos atos do filho naquela manhã desapareceu de meus

pensamentos ao me dar conta que ali estava uma família realmente necessitada. Senti-

me inspirado a perguntar à mãe se havia comida na casa. Com lágrimas nos olhos, ela

admitiu que não havia nada. Disse-me que o marido estava desempregado havia

algum tempo e que eles estavam precisando desesperadamente não apenas de comida,

mas também de dinheiro para pagar o aluguel para que não fossem despejados

daquela casa tão pequena.

Não mencionei o assunto das doações de oferta de jejum, pois me dei conta de que o

menino provavelmente estava desesperadamente faminto quando parou na farmácia.

Em vez disso, cuidei imediatamente para que a família fosse ajudada, para que

tivessem alimento para comer e um teto sobre a cabeça. Além disso, com a ajuda dos

líderes do sacerdócio da ala, conseguimos arranjar emprego para o marido para que

ele pudesse prover o sustento da família no futuro.

Como líderes do sacerdócio e das auxiliares, temos o direito de receber a ajuda do

Senhor ao magnificarmos nossos chamados e cumprirmos nossas responsabilidades.

Busquem a ajuda Dele e, quando a inspiração chegar, sigam essa inspiração para

saberem aonde ir, quem visitar, o que dizer e como dizê-lo. Podemos ter uma idéia e

pensar nela constantemente, mas somente quando a colocamos em prática, é que

abençoamos vidas humanas.

Sejamos verdadeiros pastores dos que estão sob nossa responsabilidade. John Milton

escreveu este poema, “Lycidas”: “As ovelhas famintas erguem os olhos e não são

alimentadas” (linha 125). O próprio Senhor disse ao profeta Ezequiel: “Ai dos

pastores de Israel que (...) não [apascentam] as ovelhas” (Ezequiel 34:2–3).

Temos a responsabilidade de cuidar do rebanho, das preciosas ovelhas, dos ternos

carneiros que estão em toda parte — em casa em nossa própria família, nas casas de

nossos parentes e esperando por nós em nossos chamados na Igreja. Jesus é nosso

exemplo maior. Ele disse: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas” (João

10:14). Temos a responsabilidade de ser pastores. Que cada um de nós aceite a tarefa

de servir.

Estendam a Mão para Resgatar

Em nossa jornada pela trilha da vida, haverá vítimas. Algumas saem da estrada que

conduz à vida eterna, para descobrir que o atalho escolhido conduz a uma rua sem

saída. A indiferença, a negligência, o egoísmo e o pecado, todos trazem sérias

conseqüências em termos de vidas humanas. Há aqueles que, por motivo inexplicado,

seguem por um caminho diverso, para mais tarde descobrirem que seguiram o

caminho da dor e do sofrimento.

Em 1995, a Primeira Presidência, pensando naqueles que se perderam do rebanho de

Cristo, publicou uma declaração especial chamada “Um Convite para Voltar”. A

mensagem continha este apelo:

“Para você que por qualquer motivo estiver fora do convívio da Igreja, dizemos:

Volte. Convidamos você a retornar e partilhar da felicidade que conheceu. Você

encontrará muitos com os braços abertos para recebê-lo, ajudá-lo e dar-lhe consolo.

A Igreja precisa de sua força, amor, lealdade e devoção. Há um curso traçado e seguro

pelo qual uma pessoa pode voltar a ter as bênçãos plenas de ser membro da Igreja, e

estamos prontos para receber todos os que desejarem fazê-lo.”

Talvez uma cena freqüentemente repetida vá ajudá-los a compreender melhor suas

oportunidades pessoais de estender a mão para resgatar. Vejamos uma família que

tem um filho chamado Jack. Durante toda a juventude de Jack, ele e seu pai brigaram

muito. Certo dia, quando estava com 17 anos de idade, eles tiveram uma briga

particularmente feia. Jack disse ao pai: “Essa foi a gota d’água. Vou sair de casa para

nunca mais voltar!” Ele foi até o seu quarto e fez uma mala. A mãe implorou que ele

ficasse, mas ele estava zangado demais para ouvir. Deixou-a chorando junto à porta.

Saindo para o quintal, ele estava para atravessar o portão, quando ouviu o pai chamá-

lo: “Jack, sei que grande parte da culpa por você sair de casa é minha. Eu realmente

sinto muito por isso. Quero que saiba que quando quiser voltar, você será sempre

bem-vindo. E eu tentarei ser um pai melhor para você. Quero que saiba que eu amo

você e sempre o amarei”.

Jack não disse nada, mas foi para a estação rodoviária e comprou uma passagem para

um lugar distante. Enquanto estava sentado no ônibus vendo os quilômetros passarem,

seus pensamentos se voltaram para as palavras do pai. Ele começou a se dar conta de

quanta coragem e quanto amor foram exigidos do pai para que ele dissesse aquilo. O

pai tinha pedido perdão. Tinha-o convidado a voltar, e suas últimas palavras ficaram

soando no ar quente de verão: “Eu amo você”.

Jack sabia que o próximo passo deveria ser seu. Deu-se conta de que a única maneira

de ter paz consigo mesmo era mostrar ao pai o mesmo tipo de maturidade, bondade e

amor que o pai mostrara para com ele. Jack desceu do ônibus. Comprou uma

passagem de volta e começou a viagem de volta para casa.

Chegou pouco depois da meia-noite, entrou na casa e acendeu a luz. Ali na cadeira de

balanço estava seu pai, com a cabeça baixa. Quando ergueu o rosto e viu Jack, ele

ergueu-se da cadeira. Os dois correram um para os braços do outro. Jack disse mais

tarde: “Aqueles últimos anos que fiquei em casa estiveram entre os mais felizes da

minha vida”.

Ali estava um pai que, suprimindo a paixão e dominando o orgulho, estendeu a mão

para resgatar seu filho, antes que ele se tornasse parte daquele imenso “batalhão

perdido”, que resulta de famílias separadas e lares desfeitos. O amor é o grande

remédio, o bálsamo que cura; o amor tão freqüentemente sentido, tão raramente

expresso.

Do monte Sinai ressoa em nossos ouvidos: “Honra teu pai e tua mãe” (Êxodo 20:12).

E mais tarde, daquele mesmo Deus, veio o mandamento: “Juntos vivereis em amor”

(D&C 42:45).

Sigam a Planta do Senhor

Ajoelhem-se para orar. Aceitem a tarefa de servir. Estendam a mão para resgatar.

Cada uma dessas coisas é uma página essencial na planta de Deus para fazer da casa

um lar, e do lar, um pedaço do céu.

O equilíbrio é a chave para nós em nossas sagradas e solenes responsabilidades em

nosso próprio lar e em nossos chamados na Igreja. Precisamos usar de sabedoria,

inspiração e bom senso ao cuidarmos de nossa família e cumprirmos nossos chamados

na Igreja, pois cada uma dessas coisas é de fundamental importância. Não podemos

negligenciar nossa família; não podemos negligenciar nossos chamados na Igreja.

Edifiquemos com aptidão, não tomemos atalhos e sigamos Sua planta. Então, o

Senhor, nosso inspetor de construção, poderá dizer-nos, como disse quando apareceu

a Salomão, um construtor de outra época: “Santifiquei a casa que edificaste, a fim de

pôr ali o meu nome para sempre; e os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os

dias” (I Reis 9:3). Teremos então um lar celestial e uma família eterna e seremos

capazes de ajudar, fortalecer e abençoar outras famílias também.

Oro com muita humildade e sinceridade para que essa bênção seja concedida a cada

um de nós. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Nota

1. Carta da Primeira Presidência, de 11 de fevereiro de 1999; ver A Liahona,

dezembro de 1999, p.1.