PLANEJE ATÉ O FIM
O desfecho é tudo. Planeje
até o fim, considerando todas as possíveis conseqüências, obstáculos e reveses
que possam anular o seu esforço e deixar que os outros fiquem com os louros.
Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando
parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com
antecedência.
A maioria dos homens segue o
coração, não a cabeça. Seus planos são vagos e, diante de obstáculos, eles
improvisam. Mas a improvisação o levará você até a próxima crise e não
substitui, jamais, a previsão das próximas etapas e o planejamento até o final.
Existe um motivo muito
simples para a maioria dos homens não saber quando sair do ataque. Eles não têm
uma idéia concreta do seu objetivo. Obtida a vitória, eles querem mais. Parar —
visar a um objetivo e não se desviar dele —parece quase inumano, de fato;
porém, nada é mais importante para se manter o poder. Quem exagera nos seus
triunfos cria uma reação que inevitavelmente leva a um declínio. A única
solução é planejar a longo prazo. Prever o futuro com a mesma clareza dos
deuses no Monte Olimpo, que vêem através das nuvens o desfecho de todas as
coisas.
Segundo a cosmologia dos
antigos gregos, os deuses teriam a visão total do futuro. Eles viam tudo que
aconteceria, nos mínimos e intrincados detalhes. Os homens, por sua vez, eram
vítimas do destino, prisioneiros do momento e das suas emoções, incapazes de
ver além do perigo imediato. Heróis como Ulisses, capazes de enxergar além do
presente e planejar vários passos com antecedência, pareciam desafiar o
destino, aproximar-se dos deuses na sua capacidade de determinar o futuro. A
comparação continua válida — quem pensa com antecedência e, pacientemente,
conduz seus planos à realização parece ter um poder divino.
Como a maioria das pessoas
está presa demais ao momento para planejar com este tipo de previsão, a
capacidade de ignorar perigos e prazeres imediatos se traduz em poder. É o
poder de ser capaz de superar a tendência natural humana de reagir às coisas
conforme elas vão acontecendo, em vez de treinar dar um passo atrás, imaginar
as coisas maiores tomando forma além do seu campo imediato de visão. As
pessoas, na sua maioria, acreditam que têm consciência do futuro, que estão
planejando e pensando com antecedência. Em geral, se iludem. Na verdade, o que
elas fazem é sucumbir aos seus próprios desejos, ao que elas querem que o
futuro seja. Seus planos são vagos, baseados na imaginação e não na realidade.
Elas podem acreditar que estão pensando em tudo até o fim, mas estão na verdade
focalizando apenas o final feliz, e se iludindo com a força do seu desejo.
Os perigos remotos, que
avultam à distância - se pudermos vê-los tomando forma, quantos enganos
evitaríamos. Quantos planos abortaríamos instantaneamente se percebêssemos que,
evitando um pequeno perigo, só fazemos cair em outro maior. Há tanto poder, não
no que você faz, mas no que você não faz — naquelas ações tolas e precipitadas
de que você se abstém, antes que elas o metam em maiores confusões. Planeje
todos os detalhes antes de agir — não permita que a indefinição dos seus planos
lhe cause problemas. Haverá conseqüências não previstas? Surgirão novos
inimigos? Alguém vai tirar proveito do meu esforço? Finais infelizes são muito
mais comuns do que os felizes — não se deixe iludir pelo final feliz que você
está imaginando.
As eleições de 1848 na
França se resumiram a uma luta entre Louis Adolphe Thiers, o homem da ordem, e
o general Louis Eugène Cavaignac, o agitador de direita. Quando Thiers percebeu
que tinha ficado inevitavelmente para trás nessa corrida, procurou desesperado
uma solução. Seu olhar caiu sobre Luís Bonaparte, sobrinho-neto do grande
general Napoleão, e um modesto representante no parlamento. Este Bonaparte
parecia meio imbecil, mas bastava o seu nome para elegê-lo num país que ansiava
por um governante forte. Ele seria um marionete nas mãos de Thiers e, no final,
seria empurrado para fora de cena. A primeira parte do plano funcionou
perfeitamente, e Napoleão foi eleito com grande vantagem. O problema foi que
Thiers não previu um fato muito simples: o “imbecil” era, na realidade, um
homem de enormes ambições. Três anos depois ele dissolveu o parlamento,
declarou-se imperador e governou a França por mais dezoito anos, para o horror
de Thiers e o seu partido.
O desfecho é tudo. É ele que
determina quem fica com a glória, o dinheiro, o prêmio. O seu desfecho deve ser
cristalino, e você não deve perdê-lo de vista. Você deve também descobrir como
se livrar dos abutres que ficam rondando lá em cima, tentando sobreviver das
carcaças da sua criação. E você deve prever as muitas crises possíveis que o
tentarão a improvisar. Bismarck venceu estes perigos porque planejou até o fim,
manteve o curso em meio a todas as crises e jamais deixou que lhe roubasse a
glória. Alcançado o seu objetivo, ele se encolheu como uma tartaruga no casco.
Este tipo de autocontrole é divino.
Quando você prevê várias
etapas com antecedência, e planeja seus movimentos até o fim, não será mais
tentado pela emoção ou pelo desejo de improvisar. Sua lucidez o livrará da
ansiedade e da indefinição que é a razão básica de tantos deixarem de concluir
com sucesso as suas ações. Você enxerga o desfecho e não tolera desvios.
Não entrar é tão
mais fácil do que ter de sair! Devemos agir ao contrário do junco que, ao
primeiro despontar, lança uma haste longa e reta mas depois, como que
exausto... faz vários nós densos, indicando que não possui mais o vigor e o
impulso original. É melhor começar gentil e tranqüilamente, poupando o fôlego
para o embate e os golpes vigorosos para concluir o nosso trabalho. No início,
nós é que orientamos os negócios e os mantemos em nosso poder; mas,
freqüentemente, uma vez colocados em ação, são eles que nos guiam e nos
arrastam.
Montaigne, 1533-1592
Veja o desfecho, não importa
o que esteja considerando. Com freqüência, Deus. permite a um homem um de
felicidade para, em seguida, arruiná-lo totalmente.
As Histórias. Herodoto.
Século 5 a .C.
Quem procura videntes para saber
o futuro está se privando, inconscientemente, de uma sugestão interior mil
vezes mais precisa do que qualquer coisa que eles possam dizer.
Walter Benjamin, 1892-1940
A experiência mostra que,
prevendo com bastante antecedência os passos a serem dados, é possível agir
rapidamente na hora de executá-los.
Cardeal Richelieu, 1585-1642
O INVERSO
Entre os estrategistas, já é
comum a idéia de que o seu plano deve incluir alternativas e ter uma certa
flexibilidade. Não há dúvida quanto a isso. Se você se prende a um plano com
muita rigidez, não será capaz de lidar com as súbitas mudanças na sorte. Depois
de examinar as possibilidades futuras e decidir qual é a sua meta, você deve
aumentar as alternativas e estar aberto a novos caminhos para chegar até lá.
A maioria das pessoas, no
entanto, perde menos com o excesso de planejamento e rigidez do que com a
indefinição e a tendência a improvisar constantemente diante das
circunstâncias. Portanto, não há motivo para se cogitar no inverso desta Lei,
pois nada se ganha recusando-se a pensar no futuro e planejar tudo até o fim.
Pensando com bastante clareza e antecedência, você verá que o futuro é incerto
e que deve estar disposto a fazer adaptações. Só um objetivo claro e um plano
de longo alcance lhe dará essa liberdade.
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