domingo, 31 de março de 2013

Esta Gloriosa Manhã de Páscoa



GORDON B. HINCKLEY

President of the Church


Gordon B. Hinckley
Ele vive! Ele vive, resplendente e maravilhoso, o Filho vivo do Deus vivo. Disso prestamos solene testemunho nesta manhã de Páscoa.
Meus irmãos e irmãs, gostaria de dizer-lhes algumas palavras. Primeiro, gostaria de dizer que é maravilhoso ver todos vocês reunidos no Tabernácu­lo nesta manhã de Páscoa. É uma bela visão. É extraordinário pensar nos muitos outros que estão reunidos em mais de 3.000 recintos em diferentes partes do mundo.

É uma pena que muitos que desejavam reunir-se conosco no Taberná­culo esta manhã não conseguiram entrar. Há muitas pessoas do lado de fora. Este recinto extraordinário e sem par, construído por nossos antepassados pioneiros e dedicado à adoração ao Senhor, acomoda confortavelmente cerca de 6.000 pessoas. Alguns de vocês, que ficam sentados nesses bancos duros por duas horas, podem questionar a palavra confortavelmente.

Meu coração volta-se para aqueles que queriam entrar e não puderam ser acomodados. Aproximada­mente um ano atrás, lembrei às Autoridades Gerais que talvez tivesse chegado a hora de estudarmos a possibilidade de construir-se uma outra casa de adoração muito maior, que acomodasse um número de pessoas três ou quatro vezes maior do que esta construção acomoda.

Reconhecemos, é claro, que nunca poderemos construir um salão grande o bastante para acomodar todos os membros desta Igreja, que está sempre crescendo. Temos sido abundantemente abençoados com os meios de comunicação; além disso, a disponibilidade de transmissão via satélite leva a centenas de milhares de pessoas de todo o mundo os trâmites da conferência.

Mas há ainda inúmeras pessoas que desejam sentar-se num lugar de onde possam ver pessoalmente quem está discursando ou participando de outras formas. A estrutura que planejamos não será um ginásio de esportes. Será um grande salão com assentos fixos e excelente acústica, uma casa dedicada à adoração, sendo esse seu propósito primordial. Será feita de modo a podermos utilizar apenas uma parte ou o salão inteiro, de acordo com as necessidades. O local servirá não apenas para serviços de adoração, mas também para outros propósitos da Igreja, como apresentação de peças teatrais sagradas e coisas do gênero. Será também palco de eventos culturais da comunidade que estejam em harmonia com os propósitos da casa.

Os estudos de arquitetura e engenharia ainda não estão adiantados o bastante para fazermos um anúncio detalhado, mas os resultados até agora são encorajadores e temos esperança de que o projeto se materialize.

Agora, quero falar um pouco sobre um assunto pessoal.

Há um ano, nesta conferência, durante uma assembléia solene, vocês levantaram a mão para me apoiarem neste importante e santo chamado. Sinto-me imensamente grato por essa demonstração de confiança. Suas palavras de bondade, lealdade e amor fazem com que me sinta humilde e sensibilizado. Acho que compreendo, ao menos em parte, a magnitude desta responsabilidade. Meu único desejo é fazer o que o Senhor deseja que eu faça. Sou Seu servo, chamado para servir Seu povo. Esta é Sua Igreja. Somos apenas guardiães do que pertence a Ele. 

Sou profundamente grato pelos dois homens bons e capazes que servem a meu lado como conselheiros leais e prestativos. Sou grato pelos Irmãos do Quórum dos Doze Apóstolos. Em nenhum outro lugar se encontrará um grupo de homens mais dedicados e capazes, que amem ao Senhor e procurem fazer Sua vontade. Também sou grato pelos Quóruns dos Setenta e pelo Bispado Presidente. Sou grato pelas Autoridades de Área, pelos presidentes de estaca, bispos e presidentes de quórum, pelos fiéis presidentes de missão e pelos presidentes dos templos. Sou grato pelas organizações auxiliares e pela força, capacidade e dedicação dos que presidem as organizações da Sociedade de Socorro, Moças, Primária e Escola Dominical. Sou grato por todo membro desta Igreja que anda na fé e lealdade. Estamos todos, como santos dos últimos dias, unidos pelo mesmo amor a nosso Mestre, que é o Filho de Deus, o Redentor do mundo. Somos o povo do convênio e tomamos sobre nós Seu santo nome.

A Igreja torna-se mais forte ou mais fraca à medida que cada membro se fortalece ou enfraquece em sua fé e desempenho.

Viajei bastante no ano passsado. Estou decidido a, enquanto tiver forças, aproximar-me das pessoas deste e de outros países para demonstrar minha gratidão, dar ânimo, edificar a fé, ensinar, acrescentar meu testemunho ao deles e, ao mesmo tempo, receber deles força. Agradeço a todos os que estão me ajudando.

Pretendo permanecer em intensa atividade enquanto puder. Desejo misturar-me ao povo que amo. Recentemente, reuni-me com muitos de nossos jovens, milhares deles. Foram experiências maravilhosas que reforçaram minha confiança. É animador olhar nos olhos de rapazes e moças que amam ao Senhor, que querem fazer o que é certo e desejam construir uma vida produtiva e frutífera. Eles estão trabalhando arduamente para desenvolver aptidões que os abençoarão e abençoarão a sociedade da qual farão parte. Estão servindo como missionários da Igreja em um número sem precedentes. São íntegros, radiantes, capazes e felizes. O Senhor certamente ama essa seleta geração de jovens que aprendem e servem na Igreja. Eu os amo, e quero que saibam disso. A vida não é fácil para eles. Acho que o mal jamais foi apresentado de maneira tão atraente e enganadora por aqueles que, com sinistros desígnios, procuram enriquecer à custa da tragédia de vidas que se frustram e arruínam quando participam desses males.

Cumprimento os pais e mães que são leais um ao outro e que criam os filhos com fé e amor. A reação à Proclamação sobre a Família, que divulgamos em outubro passado, tem sido maravilhosa. Esperamos que a leiam e releiam.

A obra está crescendo em todo o mundo de forma extraordinária e assombrosa. O Senhor está abrindo as portas das nações. Está tocando o coração das pessoas. Um número equivalente a 100 novas estacas de Sião filia-se à Igreja a cada ano. Esse crescimento cria desafios significativos. Como já foi divulgado, a Igreja cresceu a ponto de termos mais membros fora do que nos Estados Unidos. 

Obrigado, irmãos e irmãs, por sua vida virtuosa. Agradeço seus esforços para atingir os altos padrões desta Igreja, a Igreja do Senhor. Obrigado por sua fé. Obrigado por seu apoio com a mão e o coração. Obrigado por suas orações.

Como todos aqui sabem, há uma única razão para servirmos: auxiliar o Pai Celestial no que Ele declarou ser Sua obra e glória: proporcionar a imortalidade e a vida eterna a Seus filhos e filhas. (Ver Moisés 1:39.)

Há um ponto-chave neste vasto programa divino, ou seja: a redenção da humanidade por meio do Senhor Jesus Cristo. É sobre isso que agora quero falar brevemente.

É manhã de Páscoa. É o dia do Senhor em que celebramos a maior vitória de todos os tempos, a vitória sobre a morte.

Os que odiavam Jesus pensaram que haviam acabado com Ele para sempre quando os cravos dolorosos penetraram-Lhe a carne trêmula e a cruz foi erguida no Calvário. Mas Aquele era o Filho de Deus, com cujo poder eles não contavam. Por meio de Sua morte, veio a Ressurreição e a garantia de vida eterna. Nenhum de nós pode compreender plenamente a dor que Ele suportou ao orar no Getsêmani e, posteriormente, ao ser posto, ignominiosamente, entre dois ladrões, enquanto os que O olhavam zombavam Dele e diziam: “Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se” (Mateus 27:42Marcos 15:31).

Com tristeza inexprimível, os que O amavam colocaram-Lhe o corpo ferido e sem vida no sepulcro novo, pertencente a José de Arimatéia. A esperança esvaíra-se da vida de Seus Apóstolos a quem Ele amara e ensinara. Aquele em Quem confiaram como Senhor e Mestre fora crucificado, e Seu corpo jazia em um sepulcro selado. Ele os ensinara sobre Sua morte e Ressurreição final, mas eles não haviam compreendido. Agora, sentiam-se desamparados e desanimados. Certamente choraram atônitos quando a grande pedra foi rolada para selar o sepulcro.

O Sábado judeu passou e iniciou-se um novo dia, um dia que dali em diante seria sempre o Dia do Senhor. Em sua tristeza, Maria Madalena e outras mulheres foram ao sepulcro. A pedra já não estava no lugar. Curiosas, elas olharam para dentro do sepulcro que, para seu espanto, estava vazio.

Confusa e temerosa, Maria correu até onde estavam Simão Pedro e o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: “Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram” (João 20:2).

Eles correram até o sepulcro, e seus temores se confirmaram. Desconsolados, olharam e “tornaram ( . . . ) para casa” (João 20:10).

“E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro,

E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.

E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.

Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.

Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).

Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” (João 20:11–17)

Aquela que O amava tanto, que havia sido curada por Ele, foi a primeira a quem Ele apareceu. Seguiram-se outros, até mesmo, como declarou Paulo, mais de quinhentos de uma só vez.(Ver I Coríntios 15:16.)

Apóstolos compreenderam então o que Ele havia tentado ensinar-lhes. Tomé, ao tocar-Lhe as feridas, declarou: “Senhor meu, e Deus meu!” (João 20:28).

Alguém é capaz de duvidar da veracidade desse relato? Nenhum evento da história foi mais seguramente confirmado. Há o testemunho de todos os que viram e tocaram o Senhor ressuscitado e falaram com Ele. Ele apareceu em dois continentes, em dois hemisférios, e ensinou o povo antes de Sua ascensão final. Dois volumes sagrados, dois testamentos falam do mais grandioso de todos os acontecimentos da história humana. Mas são apenas histórias, dizem os céticos. A esses, respondemos que, além dos relatos, existe o testemunho, prestado pelo poder do Espírito Santo, da veracidade e validade desse extraordinário evento. Através dos séculos, inúmeras ⌦pessoas sacrificaram seu conforto, sua fortuna e a própria vida pela certeza que tinham no coração quanto à realidade do Senhor ressuscitado ⌦e vivo.

E temos o vibrante testemunho do Profeta desta dispensação que, em uma extraordinária manifestação divina, viu o Pai Todo-Poderoso e o Filho Ressuscitado e ouviu-Lhes as vozes. Aquela visão, mais gloriosa do que é possível descrever, tornou-se o fundamento desta Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, com todas as chaves, autoridade e poder nela encontrados, e o confortador apoio do testemunho de seus membros.

Nada é mais universal do que a morte, e nada mais cheio de esperança e fé do que a certeza da imortalidade. A profunda tristeza que acompanha a morte, o sentimento de perda que segue o falecimento de um ente querido somente são mitigados pela certeza da Ressurreição do Filho de Deus naquela primeira manhã de Páscoa.

Que significado teria a vida sem a convicção da imortalidade? Sem isso, a vida seria apenas uma melancólica jornada material que terminaria em completo e inevitável esquecimento.

“Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (I Coríntios 15:55)

A dor da morte é tragada pela paz da vida eterna. De todos os eventos das crônicas da humanidade, nenhum trouxe tamanha conseqüência.

Contemplando o milagre da Expiação, que beneficiou toda a humanidade, o Profeta Joseph Smith declarou de maneira clara e admirável:

“Que as montanhas gritem com alegria, e todos vós vales, clamai em alta voz; e vós mar e terras secas cantai as maravilhas do vosso Eterno Rei! E vós rios, e riachos, e ribeiros, correi alegremente. Que as matas e todas as árvores do campo louvem ao Senhor; e vós pedras sólidas, chorai de alegria! E que o sol, a lua, e as estrelas da manhã cantem juntamente, e que todos os filhos de Deus gritem em regozijo. E que as eternas criações declarem o Seu nome para todo o sempre. E novamente digo, quão gloriosa é a voz que ouvimos dos céus, proclamando aos vossos ouvidos, glória e salvação, e honra, e imortalidade, e vida eterna; reinos, principados, e poderes!” (D&C 128:23)

Sempre que a mão fria da morte baixar, brilhará através da melancolia e escuridão daquele momento a triunfante figura do Senhor Jesus Cristo, Ele, o Filho de Deus, que por meio de Seu incomparável e eterno poder venceu a morte. Ele é o Redentor do mundo. Deu Sua vida por todos nós, tomou-a de volta e tornou-Se as primícias dos que dormem. Ele, como Rei dos Reis, permanece triunfante sobre todos os outros reis. Ele, como o Onipotente, está acima de todos os governantes. É nosso consolo, nosso único consolo verdadeiro, quando as sombras da noite terrena se fecham sobre nós e o espírito deixa a fôrma humana.

Altaneiro por sobre toda a humanidade está Jesus, o Cristo, o Rei da Glória, o Messias imaculado, o Senhor Emanuel. Na hora da mais profunda tristeza, buscamos esperança, paz e convicção nas palavras que o anjo proferiu naquela manhã de Páscoa: “Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito”. (Mateus 28:6) Buscamos força nas palavras de Paulo: “Assim como todos morrem em Adão, assim também todos [são] vivificados em ⌦Cristo” (I Coríntios 15:22).

Assombro me causa o amor que ⌦me dá Jesus;
Confuso estou pela graça de ⌦Sua luz.
E tremo ao pensar que por mim Sua vida deu;
Por mim, tão humilde, Seu sangue Jesus verteu.
Que assombroso é; Oh! Ele me amou 
E assim me resgatou. 
Que assombroso é! Assombroso, sim! 
(Hinos, nº 112)

Ele é nosso Rei, Senhor e Mestre, o Cristo vivo que está à mão direita de Seu Pai. Ele vive! Ele vive, resplendente e maravilhoso, o Filho vivo do Deus vivo. Disso presto solene testemunho neste dia de regozijo, nesta manhã de Páscoa, quando comemoramos o milagre do sepulcro vazio, em nome Daquele que ressurgiu dos mortos, sim, o Senhor Jesus Cristo. Amém.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Beterrabas e o Valor das Almas


P r e s i d e n t e T h o m a s S. M o n s o n.
A Liahona – Julho de 2009 – Pág 03 a 05


              Há muitos anos, o Bispo Marvin O. Ashton (1883–1946), que era conselheiro no Bispado
Presidente, usou uma  ilustração que gostaria de compartilhar com vocês. Imaginem, se puderem, um
fazendeiro conduzindo um  caminhão cheio de beterrabas, a caminho da usina de açúcar. Enquanto o
fazendeiro segue pela estrada esburacada, algumas beterrabas caem do caminhão e ficam jogadas ao
longo da estrada. Quando ele percebe que perdeu algumas beterrabas, dá a seguinte instrução a seus
ajudantes: “Aquelas que caíram também estão cheias de açúcar. Vamos voltar para pegá-las!”
            
Uso essa ilustração para mostrar que as beterrabas representam os membros da Igreja pelos
quais nós, que fomos chamados como líderes, temos responsabilidade; e as que caíram do
caminhão representam homens e mulheres, jovens e crianças que, por qualquer motivo, deixaram de ser
ativos. Parafraseando o que o fazendeiro disse a respeito das beterrabas, eu digo o seguinte sobre
essas almas, que são preciosas para nosso Pai e nosso Mestre: “As que se afastaram também
têm muito valor. Vamos buscá-las!”
              Neste exato momento, algumas delas são:
Influenciadas pela opinião popular.
Outras são afligidas pela maré de tempos turbulentos.
Outras, ainda, são arrastadas e afogadas no redemoinho do pecado.
Isso não precisa acontecer.
Temos doutrinas da verdade.
Temos programas. Temos pessoas.
Temos poder.
Nossa missão é muito mais do que realizar reuniõesServimos para salvar almas.
Nosso Serviço: Salvar Almas
              O Senhor salientou o valor de cada homem ou mulher, jovem ou criança, ao declarar: “O
valor das almas é grande à vista de Deus; (…) E, se trabalhardes todos os vossos dias clamando
arrependimento a este povo e trouxerdes a mim mesmo que seja uma só alma, quão grande será vossa
alegria com ela no reino de meu Pai! E agora, se vossa alegria é grande com uma só alma que tiverdes
trazido a mim no reino de meu Pai, quão grande será vossa alegria se me trouxerdes muitas almas!”
(D&C 18:10, 15–16).
Lembrem-se de que vocês têm direito às bênçãos do Pai nesse trabalhoEle não os chamou
para seu cargo privilegiado para que andem sozinhos, sem orientação, confiando apenas na sorte. Pelo
contrário, Ele conhece suas habilidades, sabe de sua devoção e vai converter suas supostas
incapacidades em pontos fortes reconhecidos. Ele prometeu: “Irei adiante de vós. Estarei a vossa
direita e a vossa esquerda e meu Espírito estará em vosso coração e meus anjos ao vosso redor para
vos suster” (D&C 84:88).
Líderes da Primária conhecem as crianças a quem vocês servem?
Líderes das Moças conhecem suas jovens?
Líderes do Sacerdócio Aarônico conhecem os rapazes?
Líderes da Sociedade de Socorro, vocês conhecem as mulheres que vocês foram chamados
para Servir?
Líderes do Sacerdócio de Melquisedeque, vocês conhecem homens que vocês foram chamados
para presidir?
Compreendem os problemas deles?
Compreendem suas frustrações?
Seus anseios?
Suas ambições?
Suas esperanças?
Sabem por onde andaram?
Os problemas que enfrentaram?
Os fardos que carregaram?
Os sofrimentos que tiveram?
Incentivo-os a estender a mão para as pessoas a quem vocês servem e amá-las. Quando vocês
realmente amarem as pessoas a quem vocês servem:
Elas nunca se encontrarão naquela terrível “Terra de Ninguém”,
Jamais serão motivo de preocupação,
Nunca precisarão de ajuda.
Talvez vocês não tenham o privilégio de abrir portões de cidades ou portas de palácios, mas verdadeira
felicidade e alegria duradoura virão para vocês e para todos os que vocês servem, ao tomarem a mão
de alguém e tocarem um coração.
Lições Gravadas no Coração
              Se ficarem desanimados em seu trabalho, lembrem-se de que, às vezes, o cronograma do
Senhor não coincide com o nosso. Quando fui bispo, há muitos anos, uma das líderes das moças,
Jessie Cox, veio falar comigo, dizendo: “Bispo, sou um fracasso!” Quando perguntei por que se sentia
assim, ela disse: “Não consegui fazer com que nenhuma das minhas moças da Mutual se casasse no
templo, como teria acontecido se eu tivesse sido uma boa professora. Fiz o melhor que pude, mas
parece que não foi o suficiente”. Tentei consolar Jessie, dizendo que eu, como seu bispo, sabia que ela
havia feito todo o possível. Ao acompanhar aquelas moças ao longo dos anos, descobri que cada uma
delas foi selada no templo. Se a lição estiver gravada no coração, não estará perdida. Aprendi, ao
observar servas fiéis como Jessie Cox, que cada líder pode ser um verdadeiro pastor, que trabalha
sob a direção de nosso grande e Bom Pastor, com o privilégio de:
Liderar,
Amar
E servir àqueles que conhecem e amam Sua voz (ver João 10:2–4).
Buscar a Ovelha Errante
              Gostaria de contar outra experiência que tive como bispo. Percebi, certo domingo, que
Richard, um de nossos sacerdotes que raramente frequentava as reuniões, tinha faltado outra vez na
reunião do sacerdócio.
Deixei o quórum aos cuidados de um consultor e fui até a casa do Richard fazer-lhe uma visita. A mãe
disse que ele estava trabalhando em uma oficina de automóveis local. Fui de carro até a oficina, em
busca do Richard, e procurei em toda parte, mas não consegui encontrá-lo. De repente, tive a
inspiração de olhar dentro do antigo poço de troca de óleo, ao lado do prédio. Ali no escuro, enxerguei
dois olhos que brilhavam. Ouvi o Richard dizer: “Você me encontrou, bispo! Já vou sair”. Em nossa
conversa, eu disse ao Richard que sentia muito sua falta e que precisava dele. Fiz com que assumisse o
compromisso de freqüentar as reuniões. Sua atividade melhorou imensamente. Ele e sua família se
mudaram, mas dois anos depois, recebi o convite para falar na ala do Richard, antes de sua partida
para servir em uma missão. Em seu discurso, naquele dia, Richard disse que o momento decisivo em
sua vida foi quando seu bispo o encontrou escondido em um poço de troca de óleo e o ajudou a voltar
à atividade na Igreja.
              Meus queridos irmãos e irmãs temos a responsabilidade, sim, o solene dever de
estender a mão para todos os que foram colocados sob nossos cuidados e cuja vida podemos
influenciar. Nosso dever é conduzi-los ao reino   celestial de Deus.
Lembremo-nos de que o manto da liderança não é o roupão do conforto, mas, sim, a túnica da
responsabilidade. Estendamos a mão para resgatar aqueles que precisam de nossa ajuda e de nosso
amor.
Se formos bem-sucedidos e trouxermos de volta para a atividade uma mulher ou um homem, uma
moça ou um rapaz, seremos a resposta para a oração fervorosa de uma esposa, irmã ou mãe, ou
ajudaremos a cumprir o maior desejo de um marido, irmão ou pai. Honraremos o mandamento de um
Pai amoroso e seguiremos o exemplo de um Filho obediente (ver João 12:26; D&C59:5). E nosso
nome será honrado para sempre por aqueles que ajudamos.

Do fundo do coração, oro para que o Pai Celestial nos guie sempre, ao nos esforçarmos para servir a
Seus filhos e salvá-los.

10 dicas para melhorar a sua performance

Por Leila Navarro


1. Crie o hábito de pensar.

Procure dedicar alguns minutos do seu tempo, diariamente, para pensar e refletir sobre você mesmo, sua carreira, a empresa em que trabalha e suas relações com as pessoas que o cercam e com o planeta.

2. Crie o hábito de anotar.

Procure anotar tudo aquilo em que pensar, mesmo que seja algo improvável ou que você considere insignificante.

3. Trace os seus objetivos.

Faça uma lista dos seus objetivos e do que é necessário fazer ou ter para alcançá-los. Organize-se e planeje-se, assim tudo fica mais fácil e lógico.

4. Não desperdice as oportunidades.

Muitas oportunidades estão soltas por aí para o primeiro que pegar. Fique atento e aberto às oportunidades que aparecerem pela frente e tenha calma para selecioná-las.

5. Fique atento às informações.

Preste atenção ao seu redor. Aprenda a observar, perguntar e ouvir. Mantenha sua rede de contatos sempre atual, sempre funcionando. Hoje, os contatos são tão importantes quanto a carteira de clientes.

6. Crie o hábito de ter idéias.

Procure pensar em soluções completamente diferentes para os problemas e dúvidas que você tiver. Para ter uma idéia é necessário colher informações e dados a respeito do problema ou da dificuldade e anotar, sempre, as soluções que forem surgindo. Fale com você mesmo sobre a idéia, o seu subconsciente pode encontrar soluções inimagináveis e eficazes.

7. Cuide da energia.

Não há como utilizar seu potencial se você for uma pessoa pessimista, desorganizada, estressada, que não pratica nenhuma atividade física e que não tem uma boa alimentação. Cuide do seu corpo e da sua mente. Assim você terá muito mais disposição para dar o melhor de si.

8. Aprenda sempre.

Você tem a chance de aprender coisas novas diariamente. Aproveite, pergunte, fique perto das pessoas que você perceber que podem ter coisas a ensinar. Não desperdice nenhuma oportunidade para estudar, ler novos livros e fazer cursos e treinamentos.

9. Faça multiplicadores.

Compartilhe o seu conhecimento, ensine que compartilhar é tornar possível o sucesso de todos. Não entre em competições. Todos têm seu espaço para conquistar. Conquiste o seu e reconheça o do próximo.

10. Seja ético.

Faça elogios, aja com honestidade, transparência e lisura. Assim não há como o resultado ser negativo.

Aplique as dicas no seu dia-a-dia e boa sorte! Leila Navarro é palestrante motivacional e comportamental, além de ser empresária e Presidente do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Capital Humano.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Os sintomas da depressão


Pela classificação internacional de doenças, a depressão pode ser de três graus: leve, moderado ou grave. O humor da pessoa com depressão pode variar de dia para a dia, ou segundo as circunstâncias, e pode ser acompanhado de diversos outros sintomas, como redução da energia e perda de interesse no que está a seu redor. O número e a gravidade dos sintomas ajudam a determinar de que grau ela é.
Na forma leve da doença, em geral há a presença de dois ou três dos sintomas, e a pessoa continua capaz de desempenhar suas atividades. Na moderada, são quatro ou mais sintomas e o paciente parece ter muita dificuldade para manter sua rotina. E, na grave, os muitos sintomas são angustiantes, e a ideia de suicídio é comum. Em alguns casos, o doente tem sintomas psicóticos, como alucinações. Quando é este o quadro, deve-se buscar ajuda imediatamente, porque a pessoa corre o risco de morrer por suicídio, desidratação ou desnutrição.
As principais características da depressão são:
— Rebaixamento do humor
— Redução da energia
— Diminuição da atividade
— Alteração da capacidade de experimentar o prazer
— Perda de interesse
— Diminuição da capacidade de concentração
— Fadiga, mesmo após um esforço mínimo
— Problemas de sono e/ou despertar matinal precoce, várias horas antes do habitual
— Falta de apetite
— Diminuição da autoestima e da autoconfiança, muitas vezes associada a ideias de culpabilidade e/ou indignidade
— Lentidão psicomotora importante
— Agitação
— Perda da libido
— Alucinações e outros sintomas psicóticos (nos casos mais graves)
A literatura médica relaciona ainda sintomas físicos como desconforto no batimento cardíaco, boca ressecada, constipação, dores de cabeça e dificuldades digestivas. Podem aparecer ainda dificuldade para chorar ou vontade de chorar sem motivo aparente, hesitação para tomar decisões, pena de si mesmo, persistência de pensamentos negativos e queixas frequentes.
Há muitas outras manifestações de depressão classificadas. Uma delas é a distimia, em que o rebaixamento do humor é crônico, e pode até persistir por anos, mas os episódios são curtos.
Caso desconfie estar sofrendo de depressão, ou de que algum familiar ou amigo se enquadra nos sintomas descritos, o melhor é procurar um médico imediatamente.

terça-feira, 19 de março de 2013

Especial Charles Chaplin – O Garoto

Muito se fala sobre Charlie Chaplin, sobre suas declarações polêmicas e o modo de vida simples que fascinaram toda uma época e ainda possui admiradores em tempos de grandes diretores.

O Carreira & Sucesso inicia o especial Charlie Chaplin, onde foram selecionados quatro filmes, dos quais as leituras são extremamente atuais e continuam cativando com suas mensagens singelas e com críticas de um mundo perdido em valores e ética.
Por ter o dom de fazer rir em meio a guerras e fome, Chaplin tirou risos de pessoas em meio a Grande Depressão com sua comédia pastelão em cinema mudo. Ele foi ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico.
No filme “O garoto” uma mãe solteira deixa um hospital de caridade com seu filho recém-nascido. A mãe percebe que ela não pode dar para seu filho todo o cuidado que ele precisa e resolve abandoná-lo. Ela prende um bilhete junto a criança, pedindo que quem o achar cuide e ame o seu bebê, e o deixa no banco de trás de um luxuoso carro. Entretanto, o veículo é roubado por dois ladrões, que quando descobrem o bebê o abandonam no fundo de uma ruela.
Sem saber de nada, um vagabundo faz o seu passeio matinal e encontra o bebê. Inicialmente ele quer se livrar da criança, mas diversos fatores sempre o impedem e gradativamente ele passa a amá-lo. Paralelamente, a mãe se arrepende e tenta reencontrar seu filho, mas quando descobre que o carro foi roubado, tem um choque, pois muito provavelmente ela nunca mais verá sua criança.
O filme foi lançado sem trilha sonora em meados de 1921 e teve a trilha sonora inserida em 1971, pelo próprio Chaplin em uma nova versão do longa.
Um misto de humor e emoção contagiam o espectador pelo excelente roteiro e interpretações que emocionam muito mais que fenômenos atuais. O garoto cresce aprendendo as malandragens da sobrevivência e aprende valores de família com o vagabundo, em paralelo, sua mãe investe na carreira e se torna uma atriz famosa e rica que jamais abandonou a esperança de encontrar o filho.
O juizado descobre o garoto e tenta levá-lo a um abrigo, pois, a vida com o vagabundo era  muito pobre. Porém, o amor dos dois impede a separação e pelo destino a mãe o encontra novamente e acolhe os dois em sua mansão.
Chaplin tentava pelos seus filmes passar as dificuldades da época, porém, com uma mensagem positiva no final. A mensagem de o garoto é singela e importante, não desista de um sonho nem que seja ele consertar um erro do passado, faça acontecer e mostre seu valor. Propague o bem e tenha amor ao próximo, solidariedade não tem classe social e sim integridade humana.

Curiosidades:

- Antes da gravação do filme,  na vida real Chaplin foi afastado de seu filho pequeno, que veio a conhecer após 18 anos;
- O garoto do filme era filho de um casal de Chaplin, da alta sociedade, e que cativou bastante o ator por seu talento e carisma;
Confira o filme completo:

segunda-feira, 18 de março de 2013

Professor criativo

Olhem o que um professor é capaz de fazer. O fato narrado abaixo é real e aconteceu em um curso de Engenharia da USJT (Univ. São Judas Tadeu), tornando-se logo uma das "lendas" da faculdade...
Na véspera de uma prova, 4 alunos resolveram chutar o balde: iriam viajar. Faltaram a prova e então resolveram dar um "jeitinho".
Voltaram à USJT na terça, sendo que a prova havia ocorrido na segunda.Então dirigiram-se ao professor:
- Professor, fomos viajar, o pneu furou, não conseguimos consertá-lo, tivemos mil problemas, e por conta disso tudo nos atrasamos, mas, gostaríamos de fazer a prova.
O professor, sempre compreensivo:
- Claro, vocês podem fazer a prova hoje a tarde, após o almoço.
- E assim foi feito. Os rapazes correram para casa e se racharam de tanto estudar, na medida do possível. Na hora da prova, o professor colocou cada aluno em uma sala diferente e entregou a prova:
Primeira pergunta, valendo 1 ponto: algo sobre a Lei de Ohm.
Os quatro ficaram contentes pois haviam visto algo sobre o assunto. Pensaram que a prova seria muito fácil e que haviam conseguido se "dar bem".
Segunda pergunta, valendo 9 pontos: "Qual pneu furou?"

quinta-feira, 14 de março de 2013

Quando bem administradas, as mudanças criam ótimas oportunidades

Simplesmente mudar e considerar as inovações com um processo que surge a cada momento e que negá-lo apenas trará consequências negativas tanto no campo profissional quanto pessoal. Hoje, diante de um universo consagrado pelo inesperado, as pessoas veem-se diante de uma realidade mutante que faz os indivíduos obrigarem-se a sair da zona de conforto, a rever e a superar paradigmas que foram construídos ao longo de anos. Logicamente que isso não é algo fácil de administrar, uma vez que requer amadurecimento e vontade da própria pessoa de repensar o que até então era considerado como "sua verdade absoluta".
Foi para falar sobre um tema tão polémico e presente no campo corporativo que o RH.com.br entrevistou o consultor Jöel Thrinidad, especialista em planejamento estratégico e em Gestão de Pessoas. Autor do libro "Mente Aberta & Coração Tranquilo - O Cotidiano do Novo Executivo", lançado pela Editora Idéias & Letras, Thrinidad comenta que quando nos referimos às mudanças, também nos reportamos ao processo produtivo e evolutivo desta como ferramenta de sobrevivência presente nas empresas da atualidade. "Mudar tornou-se necessário para se manter competitivo, atualizado, estratégico e especializado. Muda-se pelo mercado, pelos clientes, pela concorrência, pelos lucros, pelos custos e pelo futuro. Tanto as empresas quanto seus funcionários precisam estar cientes dessa necessidade para que ambos cheguem juntos, ao mesmo lugar", assinala. Confira a entrevista concedida por Jöel Thrinidad e tenha uma boa leitura!

RH.com.br - Por que mudar tornou-se inevitável tanto para as empresa quanto para os talentos?
Jöel Thrinidad - Quando nos referimos às mudanças, estamos falando também sobre o processo produtivo e evolutivo desta como ferramenta de sobrevivência presente nas empresas da atualidade. Mudar tornou-se necessário. Necessário para se manter competitivo, atualizado, estratégico e especializado. Muda-se pelo mercado, pelos clientes, pela concorrência, pelos lucros, pelos custos e pelo futuro. Tanto as empresas quanto seus funcionários precisam estar cientes dessa necessidade para que ambos cheguem juntos, ao mesmo lugar. E quem consegue facilmente se adaptar a essa constanta instabilidade está propenso a alcançar o sucesso mais rapidamente, demonstrando não somente a necessidade, mas também o interesse e a coragem de pensar grande e ver essa grandeza fazendo diferença em seu talento profissional.

RH - Normalmente, no âmbito corporativo a palavra "mudança" remete as pessoas um desconforto. As transformações sempre assustam, independentemente do cargo que exerçam?
Jöel Thrinidad - Mudar é sair do estado previsível para o "ainda não conquistado", o estado "ainda não garantido" e isso causa certa estranheza. Temos a necessidade de tornar tudo à nossa volta familiar, para que isso nos traga conforto e esse conforto influencie na capacidade de produzir confiança e a confiança transforme-se, em nós, em segurança. Ou seja, mudar nunca será uma palavra independente, pelo contrário é uma palavra reagente, capaz de tornar tudo à nossa volta desconhecido. E é o desconhecido que nos leva ao medo. Ao medo de tentar, de arriscar, de falhar, de fracassar. Mas que também pode atrair novidade, conhecimentos, novas habilidades e também oportunidades independente do cargo em que o indivíduo esteja naquele momento, ou em qual empresa estará no futuro. A Idade da Pedra não mudou por falta de pedra, mas pelo excesso de pedras, por isso surgiu a necessidade de mudar.

RH - A resistência às mudanças está diretamente relacionada à educação que as pessoa recebe, quando criança?
Jöel Thrinidad - Sim. Mudar estará relacionado à cultura, à educação e à forma em que fomos treinados a ver a vida com ousadia e desprendimento. O que torna a mudança um monstro imaginário é a falta de conhecimento e pouca habilidade. O sujeito que se enxerga como um especialista naquilo que faz, mas ele compreende que cada fase requer novo aprendizado e isso influenciará para seu futuro empregatício. No meu futuro livro, "As Seis Vidas do Novo Executivo" menciono que quando crianças somos estimulados a desenvolver três sentimentos negativos que, se mal administrados, influenciarão no sucesso tanto pessoal quanto profissional, que são: o medo, o ciúme e a culpa. Esses três sentimentos influenciam diretamente a autoconfiança, a autoestima, a competência e a segurança em assumir novos desafios, impedindo muitas vezes de criar novas perspectivas. Só nos damos conta de certos valores quando adultos, porque quando crianças, não só o nosso interesse é diferente, como também as nossas necessidades. Contudo, tudo é perfeitamente "modificável" a partir do momento que reconhecemos que precisamos utilizar novos recursos.

RH -Ter medo de mudar pode ser positivo em algumas situações, principalmente no tocante à realidade vivenciada pelas empresas?
Jöel Thrinidad - Não vejo como o medo de mudar possa ser positivo, ainda mais para o momento instável pelo qual o mundo está passando. É necessário ter conhecimento, esforço físico e intelecto, interesse para que isso o torne capaz de mudar sem medo de tentar. Nosso cérebro acostuma-se facilmente às velhas ideias, a fim de que o corpo economize energia, mas energia demasiada engorda, nos fragiliza, nos corrompe, inibindo os movimentos mais estratégicos, além de enferrujar talentos que antes eram tidos como diferenciais.

RH - Toda mudança proporciona instabilidade emocional, por mais experiente que seja o profissional?
Jöel Thrinidad - Toda mudança provoca instabilidades desde a sua origem - aonde quer que esteja - até ao nosso físico, chegando ao emocional pelo caráter demográfico que toda transição trás. O medo da novidade afeta a nossa capacidade de entender a necessidade de novos investimentos, novas ferramentas, novas habilidades e também de novas atitudes. Mas depois que ela passa, chegamos à conclusão de que mudar era preciso. Para que um profissional possa assumir perante os outros sua inteligência e sua capacidade de reagir a determinadas situações ele precisa ter passado pela experiência de mudar, do contrário como poderá dizer publicamente que está preparado? A experiência vem com o tempo e o tempo é o senhor das estações. Quer seja do clima, como também das estações de trabalho.

RH -
É possível enfrentar um processo inovador, com serenidade?
Jöel Thrinidad - A inovação é a mola propulsora para mudança. Sem ela, mudar perde o sentido. Portanto, toda mudança está mais para a agitação de quem quer uma solução para as suas necesidades. Depois que o homem criou a roda, ele percebeu que mover era bom. E depois percebeu que movê-la em alta velocidade oferecia riscos. De imediato percebeu que parar a roda era preciso, por isso criou os freios. Depois notou que frear rápido demais também oferecia riscos, por isso criou o amortecedor e daí sucessivamente. O risco está presente em nossa vida de todas às maneiras, quer seja fazendo ou não fazendo nada para acontecer. Inovar é respeitar o movimento, a velocidade e a frenagem com maior aproveitamento, rentabilidade, viabilidade, dinamismo e inteligencia. A serenidade é substituida pela confiança de inovar até que a roda esteja aperfeiçoada e adequada.

RH - As inovações sempre levam ao aprendizado?
Jöel Thrinidad - A inovação nos remete à ideia de que tudo o que existe pode ser melhorado. Se pode ser melhorado, precisa ser aperfeiçoado. E tudo o que é aperfeiçoado trás uma ideia original. Assim como a palavra mudança entrelaça a de movimento, a inovação move-se de inteligencia. E se torna impossível inovar sem se tornar inteligente simultaneamente. Aprender nos alimenta de conhecimento e o conhecimento trás consigo a culpa, por não fazer o que deveria ser feito. Por isso a inovação consegue nos mostrar comprovadamente que uma vez inovadores, já não somos mais os mesmos.

RH - Muitas vezes, quem enfrenta as mudanças precisa vencer modelos mentais que são formados ao longo da vida. Vencer paradigmas é sempre um processo doloroso?
Jöel Thrinidad - Sair do comodismo, do sedentarismo e do oportunismo é um processo doloroso, ainda mais para quem ainda não percebeu que é a força do hábito, pois isso nos torna limitados. Nos apegamos mais fácilmente aos maus hábitos porque eles são mais sedutores do que à inquietação de quem coloca o cérebro para encontrar uma solução nova todos os dias. Os paradigmas estão para a rotina assim como a gasolina está para os incêndios. Quando mais um alimenta o outro, mais o que é destrutivo cresce. Devemos desde cedo acostumar o nosso cérebro a compreender que é justamente o que muda o que nos fortalece.

RH - Na atualidade, quais os recursos mais adotados pelas empresas para a implantação dos processos de mudança?
Jöel Thrinidad - Em primeiro lugar a oganização, em segundo a inovação, em terceiro lugar a reeducação, em quarto lugar a seleção. Esses quarto recursos deveriam ser os mais estratégicos, mas por incrível que pareça são os mais subestimados. A organização é o principio básico de toda empresa. Produtos, serviços e processos muito bem alinhados e definidos fazem parte da organização. Em seguida vem a inovação que chega não somente em momentos de crise, mas em uma situação mais criativa, oferendo soluções imediatas para problemas conhecidos, causando não somente o interesse de consumo, mas também de novidade e de outras necesidades. A reeducação tanto no uso dos recursos naturais, da materia-prima, nos hábitos mercadologicos, como também nos departamentos, nas pessoas dentro das organizações. Aprender e tornar aquilo que foi aprendido em um treinamento, por exemplo, como algo prático, efetivo e vivenciado no dia a dia, quebrando velhos mitos que nos prendem a rotina com aspecto saudável. E por último e não menos importante é a seleção. A seleção é responsável por trazer para a empresa pessoas não somente técnicas e estratégicas como também questionadoras, ao invés dos repetitivos que se prendem fácilmente a velhos habitos e acabam tornando-se ferramentas mentais obsoletas para todo o grupo. É procurar trazer para a empresa pessoas que estejam dispostas a confrontar a realidade, quer seja na hora de rever um processo, uma nova maneira de fazer uma atividade ou até mesmo de se relacionar dentro da empresa evitando o medo, a desconfiança e a insegurança na hora de mudar.

RH -
Em sua opinião, quais os fatores que contribuem para que as mudanças sejam aceitas pelos talentos corporativos?
Jöel Thrinidad - Em 16 anos de carreira, posso dizer que já passei por inúmeras mudanças em minha vida profissional que impactaram mudanças em minha vida pessoal. E naquelas em que eu julgo terem sido as mais importantes, o elemento principal de sucesso foi sem dúvida alguma a transparência. A transparência causa confiança e a confiança nos alimenta de segurança. Quando os processos estão claros, as metas estão definidas e as condições para que ocorram estão alinhadas, as pessoas tornam-se motivadas a mudar e a promover internamente melhorias. É o medo que as alimentam de dúvidas e as dúvidas despertam a necessidade de prudência. No fundo elas estão dispostas a mudar, mas para isso elas exigem garantias e por não existir condições de oferecer individualmente garantías, acabam optando por repetir algo já conhecido do que gerenciar uma novidade que não se sabe ao certo o resultado.

RH - E quais os fatores que, normalmente, mais atrapalham as pessoas a assimilarem as inovações?
Jöel Thrinidad - O medo, sem sombra de dúvida é o principal vilão, seguido pelo comodismo. A velha necessidade de tornar padrão as soluções como se os problemas viessem tabelados e quantificados em graus mensuráveis de dificuldade. A falta de conhecimento e de ousadia também tornam as mudanças pouco significativas sem qualquer destaque. O medo de inovar é o que freia a inclusão das pessoas no processo organizacional. Se elas não estarão inseridas nos problemas, tão pouco estarão preparadas para estarem na solução.

RH -
Em seu livro "Mente Aberta & Coração Tranquilo" o senhor dedicou um capítulo apenas aos efeitos que as mudanças podem gerar às pessoas. Por que essa abordagem específica?
Jöel Thrinidad - Ao contrário de muitos livros voltados para Administração e Negócios, o livro "Mente Aberta & Coração Tranquilo" se propoe a abordar os aspectos pessoais do executivo que almeja o sucesso profissional, pessoal e intelectual. Como vive, como sofre, como pensa e o que espera do futuro alguém que dá seu sangue pelos corredores das grandes organizações. Por isso, preocupei-me tanto com os aspectos profissionais quantos os pessoais. E não se chega ao sucesso sem haver um continuo aperfeiçoamento. E o aperfeiçoamento é baseado no desprendimento das coisas velhas de pouca ou de nenhuma importancia em relação aos novos hábitos, conhecimentos e também habilidades. E se você não motiva e não ajuda as pessoas a se enxergarem como soluções vivas para os seus problemas, elas nunca verão de perto quais as soluções que precisam encontrar, quais as atitudes precisam mudar e quais os desejos precisam manter. O livro é recordé de vendas em Portugal, em um ano de crise em que as pessoas evitam outros tipos de divertimento em função dos custos justamente por trazer ao modelo atual de gestão, seguido por uma mudança de atitude prática sem tantas teorías. Mudar requer ousadia e toda ousadia oferece seus riscos. Quem quer mudar não vê problemas, vê pontes.

terça-feira, 12 de março de 2013

Uma Homenagem Ao Craque Zico

 

Nos 60 anos de Zico, uma homenagem: a mais ampla reportagem de VEJA com o craque no seu auge — e os bastidores de sua feitura

Zico, o novo camisa 10: "Com Pelé, não há comparação" (Foto: M.M. Passos)
Zico com a camisa 10, que também celebrizou: "Com Pelé, não há comparação" (Foto: M.M. Passos)
Vocês sabiam que Zico, um dos grandes craques do futebol mundial em todos os tempos — que se tornou sessentão esta semana — é formado em Contabilidade e gostaria de ter estudado piano?
Que seu apelido de garoto era “Caroço”?
Que não se considera o melhor dos três irmãos Antunes que se aventuraram no futebol — para ele, o baixinho Edu, que infernizou os adversários do América e do Vasco durante um período dos anos 70, era o cara?
Que, vindo das divisões inferiores do Flamento e já jogando uma barbaridade, nunca teve uma chance no time principal com o então técnico Zagalo?
O grande Zico completou 60 anos de idade esta semana e recebeu muitas homenagens. A minha é a de republicar reportagem/perfil que fiz para VEJA quando o craque estava no auge, às vésperas da Copa de 1982 — com as informações curiosas mencionadas acima e muitas outras.
A “chamada” da capa (veja foto abaixo) dizia: “O Grande Zico”. E o título da reportagem, dentro da revista, era: “O nosso craque maior”. A foto de abertura da reportagem é a foto que abre este post.

Depois do final da reportagem, leia um texto em que conto bastidores de sua feitura.
Reportagem publicada na edição de VEJA de 17 de março de 1982
O NOSSO CRAQUE MAIOR

Vencidos problemas e preconceitos, Zico chega aos 29 anos como o melhor jogador do Brasil e com tudo para explodir na Copa do Mundo
Quando as seleções do Brasil e da Alemanha Ocidental pisarem o gramado do Maracanã, no Rio de Janeiro, no próximo domingo, os apreciadores estarão diante do que, no momento, o futebol internacional pode oferecer de melhor – e testemunharão, de quebra, o confronto direto de duas superestrelas desse esporte: o brasileiro Arthur Antunes Coimbra, o Zico, 29 anos, e o alemão Karl-Heinz Rummenigge, 26.
Poucos críticos e torcedores, excetuados talvez os argentinos, deixariam de considerar Brasil e Alemanha o maior clássico do planeta.
Da mesma forma, o mundo parece convencido de que Zico e Rummenigge compõem, com o argentino Maradona, o trio de gigantes de sua geração.
Embora seja um amistoso preparatório para a Copa do Mundo da Espanha, que começa em junho, o jogo de domingo oferece atrações capazes de transformá-lo num grande acontecimento. Em primeiro lugar, há o ressentimento dos alemães com o duro retrospecto sobre os encontros Brasil e Alemanha – em nove jogos, o Brasil venceu seis, empatou dois e perdeu apenas um.
Além disso, o fortíssimo time do técnico Jupp Derwall ainda parece francamente atônito com a impiedosa goleada de 4 a 1 que lhe foi imposta pela equipe de Telê Santana no Mundialito do Uruguai, há pouco mais de um ano. São temperos que certamente apimentarão o duelo entre Zico e Rummenigge.
Trata-se de um daqueles tira-teimas entre craques que tanto atrai as multidões – no último deles, entre Zico e Maradona, Zico levou a melhor.
Num Flamengo e Boca Juniors realizado em setembro passado, o Flamengo ganhou de 2 a 0 – dois gols de Zico, numa partida em que Maradona jogou mal e saiu antes do fim.
Zico merece todo o respeito dos alemães. “Ele é um jogador-exceção, uma raposa, um craque que conquista a bola com leveza e agilidade”, diz o meio-campo Wolfgang Dremmler, 27 anos, que no domingo atuará contra o Brasil.
A exibição ao lado de Rummenigge, um habilíssimo atacante sem posição fixa, eleito o melhor jogador da Europa em 1980 e 1981, será uma boa oportunidade para que Zico se consolide na posição de primeiro aspirante a uma coroa que foi de Pelé por muitos anos e, na prática, está sem dono desde que o holandês Johann Cruyff se afastou da Seleção Holandesa, às vésperas da Copa de 1978.
CURRÍCULO ESPLÊNDIDO
Com Sócrates, na vitória contra a Alemanha por 2 a 1, em maio de 1981: o grande clássico do futebol mundial (Foto: J.B. Scalco)
Com Sócrates, na vitória contra a Alemanha por 2 a 1, em maio de 1981: o grande clássico do futebol mundial (Foto: J.B. Scalco)
Que Zico é o maior jogador do Brasil ninguém mais duvida – nem mesmo Sócrates, o atacante do Corinthians, reconhecidamente o único que poderia fazer-lhe sombra de forma direta. “Isso não se discute: o melhor jogador do Brasil é Zico”, encerra Sócrates.
Fantasmas e preconceitos ficaram para trás
E já ficaram definitivamente para trás alguns fantasmas e preconceitos que assombraram a carreira de Zico.
Pipoqueiro? “Santo Deus, eu queria ter um pipoqueiro desses em cada clube que eu treinar”, diz o técnico Oswaldo Brandão, o primeiro a convocar Zico para a Seleção, no início de 1976.
Jogador que só vai bem no Maracanã? Basta ver a chuva de gols que Zico marca por todo o Brasil, ou, então, os aplausos que recebeu da insaciável torcida paulista no magro empate por 1 a 1 contra a Checoslováquia, no início do mês. Mesmo no “purgatório” tradicional à saída do estádio, onde nem Sócrates escapou de xingamentos, Zico foi poupado.
Craque que não dá certo na Seleção? Que se ouça, então, o técnico Telê, para quem Zico é “o maior nome do futebol brasileiro”, “um dos melhores jogadores do mundo” e “um grande profissional”, que em vinte das 28 partidas da Seleção disputadas desde que Telê assumiu, há dois anos, fez dezenove gols, sem contar os que proporcionou a seus companheiros.
Ninguém, no futebol brasileiro atual, chega perto do esplêndido currículo do novo camisa 10 da Seleção. Zico foi seis vezes campeão da Taça Guanabara e seis vezes campeão do Rio de Janeiro pelo Flamengo, ganhou três títulos de torneios internacionais pela Seleção e dois pelo Flamengo, foi campeão da Taça Libertadores da América e Mundial de Clubes no ano passado.
Vibrando com mais um gol: o principal artilheiro do Flamengo (Foto: Ricardo Chaves)
Vibrando com mais um gol: o principal artilheiro do Flamengo (Foto: Ricardo Chaves)
O maior artilheiro da história do Flamento: em 8 campeonatos, artilheiro em 5 e vice em 2
De 1974 para cá, quando se firmou de vez no ataque do Flamengo, em oito campeonatos disputados no Rio, Zico foi artilheiro em cinco e vice-artilheiro em dois.
Um dos poucos jogadores profissionais em todos os tempos a superar a marca dos 500 gols, até a semana passada ele balançara as redes adversárias exatas 560 vezes, 502 das quais no Flamengo – o que o transforma no maior artilheiro da história do clube -, 53 na Seleção Brasileira e cinco em outras seleções.
Para onde se olhe na carreira de Zico, lá estará sendo quebrado algum recorde.
Foi ele, por exemplo, o maior goleador do Maracanã num único campeonato, o de 1975, com trinta gols, batendo um recorde estabelecido ainda na década de 50 pelo legendário Ademir de Menezes e igualado na década seguinte pelo artilheiro Quarentinha, do Botafogo.
Foi ainda Zico quem mais gols marcou num único jogo no Maracanã – seis, na goleada de 7 a 1 do Flamengo contra o Goytacaz, em março de 1979, dose repetida três meses depois contra o Niterói. Na segunda-feira dia 22 ele receberá o Troféu Craque do Ano da revista Placar, escolhido pelo voto dos leitores, unanimidade do Júri Especial da revista e por um júri de jornalistas esportivos de quatro capitais brasileiras.
AUTÓGRAFOS EM BOLAS
Na escolinha do Flamengo: em cinco anos, de "Caroço" a supercraque (Foto: A. J. B.)
Na escolinha do Flamengo: em cinco anos, de "Caroço" a supercraque (Foto: A. J. B.)
Ele próprio diz: “Não há comparação com Pelé”
Zico chega ao limiar da Copa do Mundo com uma unanimidade nacional semelhante à ostentada por Pelé. “Mas não há termo de comparação entre Zico e Pelé”, ressalva o camisa 10 do Flamengo.
As estatísticas sugerem que mesmo o grande Zico não poderá reprisar a glória do genial Pelé. Zico precisou chegar aos 29 anos de idade para ter marcado 500 gols. Pelé, com a mesma idade, já havia colecionado 1.000.
Mas os dois se parecem ao menos na infinita paciência com que ambos sabem conviver com a condição de ídolo. “Este rapaz já não se pertence, não pode ficar tranquilo um minuto”, irrita-se o supervisor do Flamengo, Domingos Bosco.
Celebridade com paciência infinita
É verdade. Tome-se ao acaso qualquer dia na vida de Zico e se terá uma prova para os nervos de um mortal comum. Dia de jogo do Flamengo em Fortaleza, no Ceará, por exemplo. No restaurante em que ele almoça no Hotel Praiano, o garçom larga na mesa o filé do maior jogador do Brasil, saca do bolso uma câmara e põe-se a fotografar o craque.
Hoje, com sandra, Júnior e Bruno (Foto: Ricardo Chaves)
Hoje, com Sandra, Júnior e Bruno (Foto: Ricardo Chaves)
Nos 15 minutos em que se aventura a chegar perto da piscina, não consegue parar: dá autógrafos em bolas, raquetes de tênis, cartões-postais. Segura criancinhas para fotografias, abraça fãs que nunca viu, é sucessivamente beijado.
Na sede do Flamengo no Rio, na Gávea, é pior ainda.
Num dia normal, como antes da recente partida contra o Atlético Mineiro, Zico pode bem demorar 40 minutos entre o final do treino e o momento em que, enfim, exausto, pode entrar no banho.
No percurso, entrevistas a cinco emissoras de rádio, a três jornalistas italianos e a dois árabes que mal falam português, uma ida até as arquibancadas para conversar com crianças excepcionais trazidas por uma professora, uma pausa para receber sua imagem entalhada em madeira por um fã adolescente – e, claro, incontáveis autógrafos.
SUCESSO NO TEATRINHO
Os pais, com Antunes, Tonico, Zico, Nando e Edu (Foto: Abril)
Os pais, seu Antunes e dona Matilde, com Antunes, Tonico, Zico, Nando e Edu (Foto: Abril)
“Quem perde a paciência às vezes sou eu”, diz a mulher, Sandra
“As pessoas às vezes abusam, mas ele dificilmente perde a paciência”, diz Sandra de Sá Coimbra, 26 anos, a mulher de Zico. “Eu é que às vezes perco”, arremata, lembrando casos em que Zico mal pôde permanecer numa boate ou teve o braço confiscado por algum fã num restaurante no momento exato de levar o garfo à boca. “Faz parte de minha vida”, diz Zico, resignado. “Essas pessoas só me vêem de longe nos estádios, gostam de mim. Eu não me escondo, não.”
Maria José, a “Zezé”, 38 anos, irmã mais velha de Zico, psicóloga com consultório em Copacabana e professora na Universidade Gama Filho, acha que Zico “tem muito equilíbrio para conviver com essa glória e ser um homem feliz”.
Pragmático, o próprio Zico explica sua técnica para sobreviver quando está em trânsito por algum lugar público: “Você não pode é parar. Se parar, aglomera”. Nas férias com Sandra e os filhos Arthur Júnior, de 4 anos, e Bruno, de 3, o recurso é ir para o exterior. “No Brasil, não tem mais lugar nenhum em que eu passe despercebido”, diz ele com simplicidade.
Caminho para os filhos flamenguistas foi aberto… no Fluminense
O caminho de Zico para a glória, desde que era o pequeno craque “Caroço” (apelido resultante de um quisto próximo a seu olho esquerdo, já eliminado) das peladas em Quintino Bocaiúva, um subúrbio a 45 minutos de ônibus do centro do Rio, entre Cascadura e Piedade, na zona norte, já entrou para a legenda do futebol brasileiro.
O alfaiate José Antunes Coimbra – “seu” Antunes, o pai, hoje com 81 anos – fora goleiro na juventude, depois que emigrou de Portugal, mas mesmo assim se opusera a que os filhos, todos flamenguistas roxos como ele, jogassem futebol profissionalmente.
Segundo a mãe, dona Matilde, o filho caçula era um menino bem-comportado, que não dava trabalho. “Ele gostava muito de cantar e de participar do teatrinho da escola”, lembra-se sua primeira professora no Grupo Escolar Rocha Pombo, dona Neide Almeida Sampaio. “Uma vez ele foi o caçador na encenação do ‘Chapeuzinho Vermelho’ e se saiu muito bem.” Acima de tudo, ele gostava de futebol.
Um garoto que antes dos 10 anos encantava Quintino nas peladas de rua, Zico, porém, obedecia ao pai – e foi preciso que o irmão José Carlos, o “Zeca”, hoje um economista de 37 anos, mais conhecido por Antunes, abrisse caminho para uma breve carreira no Fluminense para que os irmãos pudessem segui-lo.
MAMADEIRA E SERIEDADE
Com a primeira professora, dona Neide: lembrando o "Chapeuzinho Vermelho" (Foto: Sérgio Bebezovsky)
Com a primeira professora, dona Neide: lembrando o "Chapeuzinho Vermelho" (Foto: Sérgio Berezovsky)
Fernando, o “Nando”, formado em Comunicações, 36 anos, acabou jogando no Madureira e no Futebol Clube do Porto, de Portugal. Eduardo, o “Edu”, hoje com 35 anos, concluindo o curso de Educação Física, treinador dos juvenis do América Carioca e instrutor da Funabem no Rio, foi uma sensação no América, jogou no Vasco e no Flamengo, esteve entre os quarenta selecionados para a Copa do México e encerrou sua carreira no mês passado pelo Campo Grande, no Rio.
O moleque franzinho faz 14 gols numa partida de futebol de salão 
Dos cinco homens – Zezé, a psicóloga, é a única mulher -, apenas Antônio, o “Tonico”, 36 anos, formado em Administração e funcionário do Detran, não foi jogador profissional.
A história do Zico craque começou com o radialista Celso Garcia, da Rádio Tupi, vizinho de bairro dos Antunes, sendo chamado para ver o garoto em ação no futebol de salão do Clube River, em Piedade.
O Santos, time de Zico, então com 14 anos, ganhou de 22 a 2, e aquele franzino atacante fez catorze gols. “Fiquei impressionado, com a certeza de que tinha descoberto um craque excepcional”, diz Garcia, hoje conselheiro o Flamengo.
Moisés enfrenta Zico: usando o "direito da falta" (Foto: Rodolpho Machado)
Moisés enfrenta Zico: usando o "direito da falta" (Foto: Rodolpho Machado)
Zagalo, técnico, nunca lhe deu uma chance no time principal do Fla
Garcia levou Zico para treinar na Gávea e espantou o treinador dos juvenis, Modesto Bria, com o físico mirrado do garoto: 1,55 metro e 37 quilos. “Isso aqui é coisa muito séria, Celso”, reclamou Bria. “Esse menino precisa é de mamadeira.”
Mas Zico agradou em cheio no primeiro treino – e daí para a frente ninguém o segurou, nem a má vontade de técnicos sem visão.
Joubert não o deixava treinar, já crescido, com os profissionais. Zagalo, mais tarde, nunca lhe deu uma chance no time principal. E Antoninho conseguiu excluí-lo dos convocados para a Olimpíada de Munique, em 1974, mesmo sendo o Flamengo campeão estadual e Zico, ainda um aspirante o artilheiro do time.
GOSTOS SIMPLES
O vôlei na praia: cada vez mais raro (Foto: Adalberto Diniz)
O vôlei na praia: cada vez mais raro (Foto: Adalberto Diniz)
O baixinho magricela ganha peso, músculos e altura
Um intenso programa de condicionamento físico transformaria Zico completamente. Dividido em três fases – uma completa revisão médica, tratamento à base de anabolizantes hormonais para estimular o crescimento combinado com superalimentação e treinamentos físicos especiais -, o programa fez Zico ganhar 17 centímetros e 13 quilos de 1969 a 1974. Valeu.
Zico não se importa de ser chamado de craque de laboratório. “O futebol eu sempre tive, ninguém me ensinou”, diz. Embora poucos notem, ele acabou ficando 2 centímetros mais alto que Pelé, e hoje tem 66 quilos.
O maior jogador do Brasil é um homem de gostos simples. Seu prato preferido é filé com fritas, arroz e feijão. Quando frequenta seus restaurantes prediletos no Rio, o Castelo da Lagoa, o Antiquarius e o Mário’s, costuma pedir frutos do mar.
Gosta de cerveja gelada e de vinho rosê, embora só beba socialmente, e odeia gravata. Passa a maior parte do tempo com roupa esporte, e usa muito – por força de um contrato de publicidade – os artigos da marca Le Coq Sportif.
Zico dispensa os penduricalhos que normalmente enfeitam os jogadores de futebol: junto com o relógio, usa uma pequena pulseira de ouro, presente de Sandra. E, no pescoço, uma medalha também de ouro mostrando dois peixinhos nadando entrelaçados – referência a seu signo e presente que ganhou no Dia dos Pais do ano passado.
No lazer, o vôlei de praia de outrora tomou-se impraticável. Seu grande passatempo, hoje, é a aparelhagem de vídeo-cassete instalada num painel de mais de 2 metros em sua sala. Ali, Zico tem quase todos os gols que marcou e uma enorme coleção de filmes e musicais. Confessa-se “amarrado” em samba e conhece de cor os sambas-enredos das principais escolas do Rio. Vai pouco a cinema – prefere ver em casa – e muito a teatro.
PLANOS ABANDONADOS
Com a torcida: "Eles gostam de mim" (Foto: Ricardo Chavez)
Com a torcida: "Eles gostam de mim" (Foto: Ricardo Chaves)
Um homem de família, que beija o pai, os tios e os irmãos homens
É um homem de família. Costuma beijar não só mãe e a irmã, mas também o pai, os tios e os irmãos homens. Sabe de memória as datas de aniversário de todos os parentes e amigos mais próximos, e não deixa passá-las sem um presente. Gosta de trabalhar com os que lhe são próximos: seu procurador, João Batista de Almeida, é irmão de dona Neide, a primeira professora, e o irmão Antunes ajuda a administrar seus negócios.
Longe do público, é brincalhão e considerado pelos companheiros de time “um grande gozador”. “Pintou um lance, ele encarna”, diz o lateral Leandro, do Flamengo. Seu círculo de amizades é elástico. No mundo do futebol, os mais próximos são Cláudio Adão, do Vasco, e sua mulher, Paula, o goleiro reserva do Flamengo, Cantarele, e o lateral Júnior. Mas nele figuram também o cantor Fagner, o comediante Chico Anysio e os atores Carlos Eduardo Dollabela, Pepita Rodrigues e Fábio Júnior.
Casado há sete anos com Sandra, primeira namorada e irmã mais nova de Suely, mulher de Edu, declara-se até hoje apaixonado pela “mulher, irmã, amiga e amante”. “Nunca tivemos uma crise ou briga séria”, garante Sandra, que o chama de “Filho”. Para os colegas de Flamengo é “Galo” – uma alusão ao apelido “Galinho de Quintino” com o qual foi batizado pelo locutor Waldir Amaral.
Sandra vai com frequência ao Maracanã para assistir aos jogos de Zico, e tem viajado ao exterior durante as excursões do Flamengo, para ficar próxima do marido. Sandra vai à Copa da Espanha, e Zico aplaude a idéia.
O futebol obrigou o supercraque a arquivar alguns planos. Ele gostaria de estudar piano, se tivesse tempo. Sandra, que passou no vestibular de Comunicações da Gama Filho em 1977 mas deixou os estudos quando ficou grávida de Arthur Júnior, tateia algum horário para que Zico estude inglês, como ela. Zico, que fez Contabilidade, abandonou seu curso de Educação Física na Faculdade Castello Branco em 1974, por falta de tempo.
ESPÍRITO DE LIDERANÇA
O vídeo-cassete: quase todos os gols (Foto: Avanir Niko)
O vídeo-cassete: quase todos os gols (Foto: Avanir Niko)

Tempo também falta para Zico exercer como gostaria suas funções de presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio de Janeiro. “Vou lá quando dá”, desculpa-se.
Mas faz o que pode. Atualmente, Zico empenha-se sobretudo pela criação de uma entidade nacional de atletas profissionais, pela destinação da renda de um teste da Loteria Esportiva às entidades assistenciais dos jogadores e por uma reformulação da lei do passe, que “escraviza o jogador ao clube”. “Ele é um grande líder de nossa classe”, diz Zé Mário, substituído por Zico no cargo quando se transferiu do Vasco para a Portuguesa, em São Paulo.
Só reivindica para o grupo
“O Zico tem um grande espírito de liderança”, afirma o advogado Antônio Augusto Dunshee de Abranches, presidente do Flamengo, acostumado a receber o craque para tratar das reivindicações dos jogadores. Foi Zico quem exigiu que o vestiário fosse reformado, ou que os jogadores tivessem participação nas rendas. “Quando ele reivindica, é sempre para o grupo, nunca só para ele”, atesta o lateral Júnior.
É claro que Zico sabe também defender seus próprios interesses – mas, rumo aos 30 anos e próximo de disputar a que provavelmente será sua última Copa do Mundo, ele ainda não é exatamente um bilionário do futebol. Obviamente, está muito longe de ser pobre. Mora com família numa bela casa de três andares, quatro suítes e piscina na Barra da Tijuca, no Rio, servida por quatro empregados permanentes e dois eventuais.
Um bom patrimônio, mas longe do que poderia ser
Para comprá-la no ano passado, porém, teve que vender seu primeiro apartamento, na Tijuca, porque lhe faltavam os 7 milhões de cruzeiros da entrada. Além disso, possui dois apartamentos, dois terrenos, uma casa de veraneio em Praia Grande, no litoral fluminense, uma loja de artigos esportivos – a Zico Esportes, na Tijuca – e três automóveis: uma Caravan, um Passat Dacon e um Del Rey.

COTAS ESPECIAIS
A casa de Zico: patrimônio em alta com a renda
A casa de Zico: patrimônio em alta com a renda (Foto: Ricardo Chaves)
A condição de jogador mais bem pago do futebol brasileiro – entre luvas e salários, ele ganha hoje cerca de 3 milhões de cruzeiros mensais estipulados por um contrato que vai até maio de 1983 – não permitiu que Zico juntasse um patrimônio muito superior a 100 milhões de cruzeiros.
A preços de hoje, portanto, é menos que a quarta parte do primeiro contrato assinado por Pelé com o Cosmos de Nova York, em 1977. “Proporcionalmente ao que ele traz para o clube, Zico é o jogador mais barato do Brasil”, exagera Michel Assef, assessor jurídico do Flamengo.
A tendência, porém, é a aceleração do ritmo de sua caminhada para a riqueza: seu contrato atual prevê cotas especiais por participação em jogos no exterior, e o sistema de prêmios do Flamengo, com participação dos jogadores na renda e nos direitos de televisamento, permite, nas boas fases do Flamengo, que Zico receba pelo menos 1,5 milhão adicional por mês.
Acima de tudo Zico está agora entrando de rijo no terreno em que realmente uma celebridade esportiva hoje ganha dinheiro: os contratos de publicidade. “Quando terminarem esses contratos, ele será um homem rico”, assegura George Helal, vice-presidente do Flamengo, velho amigo do jogador e seu sócio na firma Zico Participações e Empreendimentos Ltda.
Para ele, o irmão Edu foi melhor
A empresa comercializará, no futuro, a marca “Zico”, já patenteada, como fez Pelé. Hoje, cuida dos negócios publicitários de Zico, que tem contratos com a Coca-Cola, Le Coq Sportif, Wella (xampus), Calcigenol (fortificante), Losango (turismo) e Estrela (brinquedos). Quanto Zico está ganhando com tudo isso? “Bem…”, desconversa o jogador, com um sorriso reticente.
Ele se torna bem mais loquaz ao falar de futebol – e é modesto ao analisar suas qualidades. Acredita sinceramente que seu irmão Edu o “superava longe em termos de qualidade técnica”. Talvez se trate de um tique familiar: o pai, “seu Antunes”, jura que o melhor entre os filhos era Antunes. Considera-se um bom jogador, embora admita que precisa aperfeiçoar o chute de esquerda com bola parada e não se veja como um marcador eficiente.
Suas jogadas preferidas são partir do meio de campo com a bola dominada, em arrancada fulminante rumo ao gol – cada vez mais difícil, hoje em dia -, e chutar de primeira, quando consegue, uma bola cruzada da linha de fundo. Acha que sua principal característica é a rapidez dentro da área: “Procuro não enfeitar – quero jogar a bola dentro do gol, pegar o goleiro no contrapé”.
O POVO SABE
Garoto dos anúncios, como este da Coca-Cola
Garoto dos anúncios, como este da Coca-Cola
Quanto à Copa, Zico entende que Telê está no caminho certo, que não há “casos claros de injustiçados” e que “é preciso respeitar o fato de que certos técnicos trabalham melhor com certos tipos de jogador”. Baseado sobretudo na divisão de chaves, ele aponta Alemanha e Espanha como grandes forças que poderão cruzar o caminho do Brasil.
Entre os jogadores estrangeiros, acha que brilharão sobretudo o argentino Maradona, os alemães Breitner, Runimenigge e Hansi Müller, e o inglês Keegan. Do Brasil, omitindo-se da lista, ele aponta como os melhores Sócrates, Júnior, Leandro, Cerezo e Luizinho.
Falando de política e de economia
Zico também não se acanha em selecionar nomes em política. Nessa área, é ecumênico. O senador Tancredo Neves, ex-PP, agora PMDB, é “um cara de cabeça muito legal”. Sandra Cavalcanti, candidata do PTB ao governo do Rio, que conhece pessoalmente, “é uma cabeça poderosa”. Seu rival do ex-PP e agora do PMDB, Miro Teixeira, amigo pessoal de Zico, representa “sangue novo”.
Ele apoia o projeto de abertura do presidente Figueiredo – e publicou um artigo no jornal Hora do Povo, do MR8. “Não vejo problema algum nisso”, diz Zico, que no entanto esclarece não se tratar de coluna fixa, como o jornal deu a entender. “Eu estava falando dos problemas do jogador de futebol.”
Zico não está satisfeito com o estado da economia. “Então vou ser a favor dessa inflação terrível que aí está comendo tudo?”, pergunta. “Vou dizer que a situação econômica é boa? Claro que não é”, diz, apontando como uma das causas a “má administração”.
Zico acha que o brasileiro está plenamente preparado para votar. Espera que haja logo eleições diretas para a Presidência – “Temos que chegar lá” – e não aprovou a vinculação de votos estabelecida pelo pacote de novembro: “Deve haver liberdade de escolha”.
Pretende votar em seu amigo Márcio Braga, ex-presidente do Flamengo, para deputado federal. Com a incorporação, produto direto dos casuísmos eleitorais do governo, se Márcio, ex-PP, mantiver sua candidatura, Zico, portanto, vai acabar votando no PMDB nas eleições de novembro.
Mas Zico lembra que “política não é meu setor”, e acha que as pessoas célebres, no Brasil, são patrulhadas caso não se pronunciem “sobre tudo”. Sua vida está centrada mesmo é no futebol. Segundo o craque, para o Brasil estrear em pleno estilo na Espanha, “só falta o pessoal poder ficar com a cabeça voltada para a Copa”.
A dele já está – e, no auge da forma, Zico poderá voltar da Espanha como o maior jogador do mundo.
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BYTES DE MEMÓRIA — BASTIDORES
Não basta trabalhar muito: jornalista também precisa ter sorte
Zico não voltou da Espanha com o título que ele e seus companheiros mereciam: o de tetracampeão do mundo.
Eu estive naquela Copa, por dever profissional, e vi a extraordinária seleção de Telê Santana passar dançando pelas primeiras três partidas, classificar-se em primeiro lugar em seu grupo, dar um baile de 3 a 1 na fortíssima Argentina – com Maradona já despontando e tudo o mais — e, na “tragédia de Sarriá”, cair por 3 a 2 ante uma Itália até então medíocre, que se classificara para o misto de oitavas e quartas de final daquela disputa com três empates.
Mas a história com Zico começou assim: J. R. Guzzo, o diretor de Redação de VEJA, me chamou à sua sala, um belo dia, logo no final de 1981, e disse:
– Setti, vou mandar você para a Copa do Mundo da Espanha. Você terá duas tarefas: cobrir a Seleção Brasileira e chefiar a equipe da revista que vai para a Copa.
Saí da sala com um misto de euforia, por poder trabalhar num tema que me apaixonava, e de forte aperto no estômago. Eu não era jornalista da área esportiva — era sub-editor da então importante editoria de Internacional, na qual trabalhava havia seis anos.
De bigodão e bolsa a tiracolo, com Zico no estacionamento da Gávea, dia 9 de março de 1982: o assédio ao craque era tanto que só ali foi possível terminar a entrevista (Foto: Rodolpho Machado)
Gostava de futebol e sabia quem eram todos os personagens ligados à Seleção. Nisso, estava confortável. — o problema é ninguém com quem eu trataria. Nenhuma fonte de informação, a começar pelo técnico Telê Santana, tinha ideia de quem eu era.
E cerca de 400 jornalistas, todos da área, experientes, iriam cobrir a Copa.
Guzzo, com minha designação, queria um olhar diferente sobre a Seleção, e estava plenamente ciente de que eu precisava me enfronhar no tema antes de embarcar para a Europa, meses depois. Assim, ficou combinado que eu passaria a dividir meu tempo entre as tarefas da Internacional e a cobertura de alguns treinos e amistosos da Seleção Brasileira. (Foi o que fiz no Morumbi, no Maracanã, no Recife e em São Luís do Maranhão).
A primeira etapa desse processo, porém, era um desafio: fazer no começo de março uma reportagem de capa, extensa e detalhada, sobre Zico, o maior craque do país na época.
Fui auxiliado, na tarefa, pelo repórter Maurício Cardoso, que sabia tudo de futebol e conhecia todo mundo nesse terreno. Ele ouviu várias pessoas do entorno do craque e o técnico Telê. (Infelizmente, por decisão que escapou de meu alcance, ele não teve crédito na reportagem.)
Pesquisei muito, li tudo o que podia sobre Zico e, não sem dificuldade, consegui manter uma primeira conversa com ele no final de um treino no agradabilíssimo Hotel Rancho Silvestre, em Embu das Artes, a meia hora da sede da Editora Abril, um oásis verdejante, dotado até de campo de futebol com medidas oficiais, onde a seleção tradicionalmente se concentrava quando em São Paulo.
No caso, estava concentrada para um amistoso contra a poderosa Alemanha Ocidental.
Conversando com Júnior e Zico durante a entrega do troféu "Bola de Ouro", da revista "Placar", no Copacabana Palace, a 22 de março de 1982 (Foto: Rodolpho Machado)
Na conversa com Zico, interrompida por constantes pedidos de declarações feitas por colegas, acabei combinando com ele de continuar a entrevista no Rio. Dias depois, fui de manhã até sua casa na Barra da Tijuca, mas o Galinho de Quintino estava com a agenda atrapalhada e me pediu para encontrá-lo mais tarde, durante um treino do Flamengo, seu clube, na Gávea.
Naquela época, Zico era uma das quatro ou cinco pessoas mais célebres do país. Perguntei a ele em que lugar do Brasil ele conseguia ficar sossegado com a mulher e os filhos — para almoçar num restaurante, ir a um cinema ou a um teatro.
Zico respondeu, com simplicidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo — e que era mesmo, para ele:
– Que lugar? Nenhum.
Imaginem então vocês na Gávea o que era assédio ao craque. Assisti ao treino do Flamengo, conversei com alguns jogadores e dirigentes a respeito do objeto de minha reportagem mas, com Zico… Uma pedreira. Solicitado por Deus e o mundo, ele demorou uns 40 minutos entre o final do treino e a chegada aos vestiários, para tomar banho. Me fazia sinal para esperar, e assim fiz.
Só consegui terminar a entrevista iniciada no verdejante Hotel Rancho Silvestre no estacionamento da Gávea, perto do Ford Del Rey de Zico. Aquele contato preliminar seria aprofundado no mesmo mês, quando reencontrei o Galinho no Copacabana Palace, no Rio, onde recebeu da revista Placar a Bola de Ouro por suas atuações em 1981, e em diversos amistosos que a Seleção realizou no Brasil antes de embarcar para a Europa. Quando lá chegamos, Zico já confiava em mim e se tornara uma boa fonte de informações.
Voltando à reportagem de capa: depois de falar com o craque, era preciso, ainda, tentar entrevistar pessoas de sua família, com integrantes espalhados por vários bairros do Rio, agendas e interesses diferentes.
E aí veio a sorte, atributo fundamental para jornalistas cumprirem bem suas tarefas.
Exatamente naquela semana anterior à partida contra a Alemanha o apresentador Silvio Santos comandava o programa Esta é sua vida — e o personagem era, precisamente, Zico. Ou seja, tratava-se de um programa sobre a vida de Zico, da infância até a glória no futebol. E a produção providenciou a presença, nos longínquos estúdios da então TVS na Vila Guilherme, em São Paulo, de toda a família de Zico, de vários amigos de infância e até de sua primeira professora!
Com o craque no dia 6 de julho de 1982, na concentração de Más Badó, próxima a Barcelona, no dia seguinte à derrota da Seleção para a Itália e sua eliminação da Copa de 1982
Maurício Cardoso e eu seguimos para a Vila Guilherme num carro da Abril, com o fotógrafo Sérgio Berezovsky (hoje diretor de Redação da revista Quatro Rodas). Para nossa surpresa, quase não havia jornalistas na gravação do programa. Pudemos entrevistar os pais de Zico, seu irmão Edu — um driblador infernal que jogava uma barbaridade, quanto atuou pelo América e, depois, pelo Vasco –. sua primeira professora…
A sucursal de VEJA no Rio, dirigida por Zuenir Ventura, também colaborou com algumas declarações.
De posse dessa montanha de informações, sentei-me à minha mesa na redação de VEJA, então na sede da Abril na Marginal do Tietê, em São Paulo, e escrevi o texto.
Até hoje não sei por que cargas d’água não incluí na reportagem uma informação inacreditável que me foi fornecida pela mãe do craque, dona Matilde: Zico, contou-me ela, mamou do leite materno até os 11 anos de idade.

Por Ricardo Setti, Revista Veja
Revista Veja - Blog do Ricardo Setti