NÃO SE COMPROMETA COM NINGUÉM
Tolo é quem se apressa a
tomar um partido. Não se comprometa com partidos ou causas, só com você mesmo.
Mantendo-se independente, você domina os outros – colocando as pessoas umas
contra as outras, fazendo com que sigam você.
PARTE 1: NÃO SE COMPROMETA
COM NINGUÉM, MAS SEJA CORTEJADO POR TODOS
Deixando que outros sintam
que o possuem de alguma forma, você perde o poder sobre eles. Não comprometendo
seus afetos, eles se esforçarão mais para conquistá-lo. Mantenha-se distante e
você conquistará o poder que vem das atenções e dos desejos frustrados dessas
pessoas. Faça o papel da Rainha Virgem: Dê esperanças, jamais a satisfação.
Visto que o poder depende
tanto das aparências, você precisa aprender alguns truques para realçar a sua
imagem. Recusar comprometer-se com alguém ou com um grupo é um deles. Quando
você se retrai, não desperta raiva, mas um certo respeito. Você parece
instantaneamente poderoso porque se torna inatingível, em vez de se render a um
grupo ou a um relacionamento, como faz a maioria das pessoas. Com o tempo, essa
aura de poder só faz crescer: conforme aumenta a sua reputação de pessoa
independente, mais desejado você será, todos querendo ser aquele que fará você
se comprometer. O desejo é como um vírus: se vemos alguém ser desejado por
outras pessoas, tendemos a achá-lo desejável também.
Assim que você se
compromete, foi-se o encanto. Você se torna igual a todo mundo. As pessoas
tentarão todos os métodos escusos possíveis para levar você a um compromisso.
Vão lhe dar presentes, encher você de favores, tudo para colocá-lo na situação
de devedor. Incentive as atenções, estimule os interesses, mas não se
comprometa de forma alguma. Aceite os presentes e favores se assim desejar, mas
tenha o cuidado de se manter intimamente distante. Você não pode se permitir,
inadvertidamente, sentir-se devedor com relação a ninguém. Mas lembre-se: o
objetivo não é livrar-se das pessoas, ou fazer com que elas achem que você é
incapaz de um compromisso. Como a Rainha Virgem, você tem que agitar as coisas,
estimular o interesse, atrair as pessoas com a possibilidade de ficar com você.
Você tem de se dobrar às suas atenções ocasionalmente, portanto — mas não
demais.
O general e estadista grego,
Alcibíades, era mestre neste jogo. Foi ele quem inspirou e liderou a forte
armada ateniense que invadiu a Sicília em 414 a .C. Quando, em casa, os invejosos
atenienses tentaram derrubá-lo com acusações falsas, ele passou para o lado do
inimigo, os espartanos, para não ter de enfrentar um julgamento na sua própria
cidade. Depois, quando os atenienses foram derrotados em Siracusa, ele trocou
Esparta pela Pérsia, apesar de o poder de Esparta estar em ascensão. Mas agora,
tanto os atenienses quanto os espartanos cortejavam Alcibíades por sua
influência com os persas; e os persas o enchiam de homenagens devido ao seu
poder sobre os atenienses e espartanos. Ele distribuía promessas para todos os
lados, mas não se comprometia com nenhum, e no final quem dava as cartas era
ele.
Se você quer ter poder e
influência, experimente a tática de Alcibíades: coloque-se no meio de duas
forças concorrentes. Atraia um dos lados prometendo ajuda; o outro, sempre
querendo superar o inimigo, seguirá você também. Enquanto os dois disputam a
sua atenção, você se torna logo uma pessoa que parece muito desejada e de
grande influência. Você terá mais poder assim do que se comprometendo
precipitadamente com um dos lados. Para aperfeiçoar a sua tática, você tem de
se manter intimamente livre de envolvimentos emocionais, e ver todos a seu
redor como peões para a sua ascensão. Você não pode se permitir servir de
lacaio de nenhuma causa.
No meio das eleições
presidenciais nos Estados Unidos, em 1968, Henry Kissinger telefonou para a
equipe de Richard Nixon. Kissinger se aliara a Nelson Rockefeller, que tinha
falhado na sua tentativa de ser indicado pelo partido Republicano. Agora
Rockefeller estava oferecendo à campanha de Nixon informações privilegiadas de
grande valor sobre as negociações para a paz no Vietnã, que estavam sendo
realizadas em Paris. Ele
tinha um homem no grupo de negociadores que o mantinha informado sobre os
últimos acontecimentos. A equipe de Nixon aceitou com prazer a oferta.
Ao mesmo tempo, entretanto,
Kissinger também abordou o candidato dos democratas, Hubert Humphrey, e
ofereceu a sua ajuda. O pessoal de Humphrey lhe pediu informações confidenciais
sobre Nixon, e ele deu. “Veja”, disse Kissinger ao pessoal de Humphrey, “há
anos que detesto o Nixon.” De fato, ele não tinha interesse em nenhum dos dois
lados. O que ele queria na verdade foi o que conseguiu: a promessa de um posto
de alto nível no ministério, tanto de Nixon quanto de Humphrey. Não importando
qual dos dois vencesse nas eleições, a carreira de Kissinger estava garantida.
O vencedor, claro, foi
Nixon, e Kissinger teve o seu cargo no ministério. Mesmo assim, ele teve o
cuidado de não se parecer demais com um homem de Nixon. Quando ele foi
reeleito, em 1972, homens muito mais fiéis do que Kissinger foram despedidos.
Kissinger foi também o único
alto funcionário do governo Nixon que sobreviveu a Watergate e serviu ao
presidente seguinte, Gerald Ford. Mantendo uma ligeira distância, ele prosperou
em épocas turbulentas.
Quem usa esta estratégia com
freqüência nota um estranho fenômeno: as pessoas que correm para apoiar os
outros tendem a ser pouco respeitadas, pois sua ajuda é obtida com muita
facilidade, enquanto as que se retraem se vêem cercadas de pedintes. O
distanciamento delas é poderoso, e todos as querem ao seu lado.
Picasso, passados os
primeiros anos de pobreza e já o artista de maior sucesso no mundo, não se
comprometeu com este ou aquele marchand, embora o cercassem por todos os lados
com ofertas atraentes e promessas formidáveis. Pelo contrário, ele parecia não
se interessar por seus serviços. Esta técnica deixava os marchands loucos, e
enquanto o disputavam o preço das suas obras subia. Quando Henry Kissinger,
como secretário de Estado dos Estados Unidos, quis relaxar a tensão com a
Rússia, não fez concessões nem gestos conciliatórios, mas cortejou a China.
Isto enfureceu e até assustou os soviéticos — eles já estavam politicamente
isolados e temiam ficar ainda mais se os Estados Unidos e a China se unissem. O
movimento de Kissinger os empurrou para a mesa de negociações. A tática tem um
paralelo na sedução: se quiser conquistar uma mulher, aconselha Stendhal,
seduza primeiro a irmã dela.
Mantenha-se distante e as
pessoas se aproximarão de você. Será um desafio para elas conquistar o seu
afeto. Desde que você imite a sábia Rainha Virgem e mantenha acesas as
esperanças, estará sempre atraindo o interesse e o desejo.
Não se comprometa com
ninguém nem com coisa alguma, pois isso é ser escravo, escravo de todos os
homens... principalmente, mantenha-se livre de compromissos e obrigações —
esses são artifícios do outro para mantê-lo em seu poder...
Baltasar Gracián, 1601-1658
Homens espertos são lentos
no agir, pois é mais fácil evitar compromissos do que se sair bem de um deles.
Nessas ocasiões teste o seu bom senso; é mais seguro evitá-los do que sair
vitorioso de um deles. Uma obrigação leva a outra maior, e você chega à beira
do desastre.
Baltasar Gracián 1601-1658
PARTE II: NÃO SE COMPROMETA
COM NINGUÉM - NÃO ENTRE NA BRIGA
Não se deixe arrastar para
brigas mesquinhas e discussões. Pareça interessado e prestativo, mas encontre
um jeito de se manter neutro; deixe que os outros briguem enquanto você se
retrai, observando e aguardando. Quando as partes litigantes se cansarem,
estarão maduras para a colheita. Você pode fazer disso uma prática, incentivar
as discussões entre as pessoas, depois
se oferecer como mediador, conquistando o poder como intermediário.
Quando você entra numa briga que não foi você
que começou, perde a iniciativa. Os interesses dos combatentes tornam-se os seus
interesses; você passa a ser uma ferramenta que eles usam. Aprenda a se
controlar, a reprimir a sua natural tendência a tomar partido e entrar na
briga. Seja amável e encantador com cada um dos combatentes, depois se afaste e
deixe que eles se enfrentem. A cada batalha eles ficam mais fracos, enquanto
você se fortalece a cada batalha que evita.
Para ganhar no jogo do
poder, você deve dominar suas emoções. Mas, ainda que você consiga esse
autocontrole, não poderá controlar o temperamento das pessoas a sua volta. E aí
é que está o perigo. A maioria das pessoas vive num redemoinho de emoções,
constantemente reagindo, alimentando discussões e conflitos. O seu autocontrole
e autonomia só vai deixá-las aborrecidas e furiosas. Elas tentarão arrastá-lo
para o turbilhão, implorando para que você tome partido nas suas intermináveis
batalhas, ou faça as pazes por elas. Se você sucumbir às suas súplicas
emocionais, pouco a pouco verá a sua mente e o seu tempo ocupados com os
problemas delas. Não permita ser sugado por uma compaixão ou piedade qualquer
que você possa sentir. Deste jogo você não sai vencedor; os conflitos só se
multiplicam.
Por outro lado, você não
pode ficar totalmente de fora, pois seria uma afronta inútil. Para fazer bem
esse jogo, você deve parecer interessado nos problemas da outra pessoa, às
vezes até tomar o seu partido. Mas, ao mesmo tempo que demonstra externamente o
seu apoio, você deve manter interiormente a sua energia e sanidade íntegras,
não se deixando envolver emocionalmente. Não importa o quanto as pessoas tentem
atrair você, não deixe que o seu interesse pelos negócios e discussões delas
passem além do superficial. Dê-lhes presentes, ouça com ar de simpatia, até
ocasionalmente banque o sedutor — mas por dentro mantenha distância dos reis
amáveis e dos pérfidos. Recusando-se a se comprometer e mantendo assim a sua
autonomia, a iniciativa continua sendo sua: seus movimentos continuam sendo
escolha sua, e não reações defensivas ao puxa-empurra dos outros ao redor.
Demorar para escolher as suas
armas já pode ser, por si só, uma arma, especialmente se você deixar os outros
se exaurirem lutando para depois se aproveitar da exaustão deles. Na antiga
China, o reinado de Chin certa vez invadiu o reinado de Hsing. Huan, o
governante de uma província vizinha, achou que devia correr em defesa de Hsing,
mas seu conselheiro lhe disse para esperar: “Hsing ainda não vai ser
destruída”, falou ele, “e Chin ainda não está exausto. Se Chin não está
exausto, [nós] não podemos influenciar muita coisa. Além disso, o mérito de
apoiar um estado em perigo não é tão grande quanto a virtude de ressuscitar um
estado em ruínas.” O
argumento do conselheiro venceu e, como ele tinha previsto, Huan mais tarde
teve a glória de salvar Hsing à beira da destruição e depois de conquistar um
Chin exausto. Ele ficou de fora da briga até que as forças envolvidas nela se
exauriram mutuamente, quando foi seguro para ele intervir.
Esta é a vantagem de se
manter longe da confusão: você ganha tempo para se posicionar, para se
aproveitar da situação assim que uma das partes começar a perder. Você também
pode levar o jogo um pouco mais adiante, prometendo apoio a ambos os lados num
conflito enquanto manobra para ser você a levar vantagem na luta. Foi isso que
Castruccio Castracani, governante da cidade italiana de Lucca, no século XIV,
fez quando tinha seus planos para a cidade de Pistóia. Um cerco seria muito
caro, em termos de vidas e dinheiro, mas Castruccio sabia que em Pistóia
existiam duas facções, os Negros e os Brancos, que se odiavam. Ele negociou com
os Negros, prometendo ajudá-los contra os Brancos; depois, sem que eles
soubessem, prometeu aos Brancos que os ajudaria contra os Negros. E Castruccio
manteve as suas promessas — enviou um exército para um dos portões da cidade
controlado pelos Negros, que as sentinelas, é claro, deixaram entrar. Enquanto
isso, outro exército seu entrava por um portão controlado pelos Brancos. Os
dois exércitos se encontraram no meio do caminho, ocuparam a cidade, mataram os
líderes das suas facções, terminaram a guerra interna e entregaram Pistóia a
Castruccio.
Preservar a sua autonomia
lhe dá opções quando as pessoas chegam às vias de fato — você pode bancar o
mediador, o agente da paz, enquanto está na realidade garantindo os seus
próprios interesses. Você pode prometer ajuda a um lado, e o outro terá que
atraí-lo com uma oferta maior. Ou, como Castruccio, você pode parecer que está
apoiando ambos os lados, depois representar o antagonista de um e de outro.
Freqüentemente, num
conflito, fica-se tentado a tomar o partido do mais forte, ou do que lhe
oferecer as vantagens evidentes de uma aliança. Esse é um negócio arriscado.
Primeiro, quase sempre é difícil prever qual dos lados prevalecerá a longo
prazo. E mesmo que você acerte e se alie com o partido mais forte, poderá se
ver engolido e perdido, ou convenientemente esquecido, quando eles se tomarem
vitoriosos. Fique do lado do mais fraco, e você está condenado. Mas faça o jogo
da espera, e não poderá perder.
Na França, depois de três
dias de rebeliões durante a revolução de julho de 1830, o estadista Talleyrand,
já idoso, sentou-se à sua janela em Paris ouvindo o repicar dos sinos que
indicavam que as lutas tinham acabado. Voltando-se para um assistente, ele
disse, “Ah, os sinos! Estamos ganhando..” ‘Nós’, quem, mon prince?”, perguntou
o assistente. Fazendo um gesto para o homem se calar, Talleyrand replicou, “Nem
uma palavra! Amanhã lhe direi quem somos nós”. Ele sabia muito bem que só os
tolos se precipitam — que se comprometendo rápido demais você perde a
capacidade de manobra. As pessoas também respeitam você menos por isso: quem
sabe amanhã, pensam elas, você vai se comprometer com outra causa diferente,
visto que se entregou tão facilmente a esta. A boa sorte é uma divindade
volúvel que muda de lado com muita freqüência. O compromisso com uma das partes
tira de você a vantagem do tempo e o luxo da espera. Deixe que os outros se
apaixonem por este ou aquele grupo; mas você, não se apresse e nem perca a
cabeça.
Finalmente, há ocasiões em
que é mais sensato abandonar qualquer pretensão de parecer prestativo
alardeando, pelo contrário, a sua independência e autoconfiança. A atitude
aristocrática independente é importantíssima para quem precisa conquistar o
respeito. George Washington reconheceu isso no seu esforço para dar à jovem
república americana uma base firme. Como presidente, Washington fugiu à
tentação de se aliar à França ou Inglaterra, apesar das pressões que sofria
nesse sentido. Ele queria que o país conquistasse o respeito mundial por sua
independência. Embora um tratado com a França talvez o tivesse ajudado no curto
prazo, com o passar do tempo ele sabia que era mais eficaz estabelecer a
autonomia da nação. A Europa tinha de ver os Estados Unidos como uma potência
no mesmo pé de igualdade.
Lembre-se: a sua energia e o
seu tempo têm limite. Todos os momentos desperdiçados com os problemas alheios
são subtraídos da sua energia. Você pode temer ser acusado de insensibilidade,
mas no final, mantendo-se independente e confiante em si próprio, você será
mais respeitado e conquistará o poder de escolher quando deve, ou não, tomar a
iniciativa de ajudar os outros.
Quando a narceja e o
mexilhão brigam, quem leva a melhor é o pescador.
Antigo ditado chinês
Considere que
não se comprometer exige mais coragem do que vencer uma batalha, e lá onde já
existe um tolo interferindo, cuidado para não existirem dois.
Baltasar Gracián, 1601-1658
O INVERSO
Ambas as partes desta lei se
voltarão contra você se você exagerar. O jogo proposto aqui é delicado e
difícil. Se você colocar muitos partidos se enfrentando, eles acabarão
percebendo a manobra e conspirarão contra você. Se você deixar um número cada
vez maior de pretendentes esperando demais, não vai despertar o desejo mas,
sim, a desconfiança. As pessoas vão começar a perder o interesse. Você vai
acabar achando que vale mais a pena se comprometer com uma das partes — nem que
seja só pelas aparências, para provar que é capaz de ser solidário.
Mesmo nesse caso,
entretanto, a chave será manter a sua independência interior — não se permitir
envolver emocionalmente. Preservar a opção tácita de poder sair a qualquer
momento e reclamar a sua liberdade, se o partido ao qual você se aliou ameaçar
vir abaixo. Os amigos que você fez, enquanto estava sendo cortejado, lhe oferecerão
um lugar para ir depois de abandonar o navio.
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