MANTENHA OS OUTROS EM UM ESTADO LATENTE
DE TERROR: CULTIVE UMA ATMOSFERA DE IMPREVISIBILIDADE
Os homens são criaturas de hábitos com uma
necessidade insaciável de ver familiaridade nos atos alheios. A sua previsibilidade
lhes dá um senso de controle. Vire a mesa: seja deliberadamente imprevisível. O
comportamento que parece incoerente ou absurdo os manterá desorientados, e eles
vão ficar exaustos tentando explicar seus movimentos. Levada ao extremo, esta estratégia
pode intimidar e aterrorizar.
O xadrez contém a essência
da vida: primeiro, porque para vencer você tem que ser extremamente paciente e
previdente; segundo, porque o jogo se baseia em padrões, seqüências inteiras de
movimentos que já foram feitos antes e continuarão sendo feitos, com ligeiras
alterações, em qualquer jogo.
O adversário analisa os
padrões que você está usando e os aproveita para tentar prever os seus
movimentos. Não lhe dando nada de previsível em que basear a sua estratégia,
você consegue uma grande vantagem. No xadrez, como na vida, quando não
conseguem imaginar o que você está fazendo, as pessoas ficam em estado de
terror — aguardando, incertas, confusas.
Nada é mais aterrorizante do
que o repentino e imprevisível. Por isso tememos tanto os terremotos e
tornados: não sabemos quando eles vão acontecer. Depois do primeiro, esperamos
aterrorizados o segundo. Em grau menor, é assim que o comportamento humano
imprevisível atua sobre nós.
Os animais têm um padrão
fixo de comportamento, por isso é possível caçá-los e matá-los. Só o homem tem
a capacidade de alterar conscientemente o seu comportamento, de improvisar e se
livrar do peso da rotina e do hábito. Mas a maioria dos homens não percebe esse
poder. Preferem o conforto da rotina, da natureza animal que os faz repetir
sempre as mesmas ações, compulsivamente várias vezes. Agem assim pela lei do
menor esforço, e porque se enganam achando que se não perturbarem ninguém,
ninguém o perturbará. Compreenda: a pessoa com poder infunde um certo medo ao
perturbar deliberadamente as pessoas a sua volta mantendo a iniciativa do seu
lado. Às vezes você precisa atacar de repente, deixar os outros tremendo quando
menos esperam por isso. E um artifício usado pelos poderosos há séculos.
Filippo Maria, o último dos
duques Visconti de Milão, na Itália do século XV, fazia conscientemente o
contrário do que se esperava dele. Por exemplo, às vezes ele enchia de atenções
um cortesão, e aí, quando o homem já estava começando a achar que ia ser
promovido, de um momento para o outro ele passava a tratá-lo com o maior
desprezo. Confuso, o homem deixava a corte, mas o duque de repente se lembrava
dele e voltava a tratá-lo bem.
A imprevisibilidade é com
freqüência a tática do mestre, mas o pobre-diabo também pode usá-la com grande
eficácia. Se você estiver em minoria ou encurralado, faça uma série de
movimentos imprevisíveis. Seus inimigos ficarão tão confusos que se retrairão
ou cometerão um erro tático.
Na primavera de 1862,
durante a Guerra Civil americana, o general Stonewall Jackson, com um exército
de 4.600 soldados confederados, estava atormentando os exércitos maiores da
União no vale Shenandoah. Enquanto isso, não muito longe dali, o general George
Brinton McClellan, chefiando um exército de 90 mil soldados da União, saía de
Washington marchando para o sul a fim de cercar Richmond, na Virgínia, a
capital confederada. Durante aquela campanha, Jackson várias vezes saiu com
seus soldados do vale Shenandoah e depois voltou.
Seus movimentos não faziam
sentido. Estaria ele se preparando para ajudar a defender Richmond? Estaria
marchando sobre Washington, agora que a ausência de McClellan a deixara
desprotegida? Dirigia-se para o norte para arrasar tudo por lá? Por que o seu
pequeno exército se movia em círculos?
Os movimentos inexplicáveis
de Jackson fizeram os generais da União retardarem a marcha sobre Richmond,
enquanto aguardavam para descobrir o que ele estava tramando. Nesse meio tempo,
o Sul conseguiu enviar reforços para a cidade. Uma batalha que poderia ter esmagado
a Confederação se transformou num empate. Jackson usou esta tática repetidas
vezes ao enfrentar forças numericamente superiores. “Desoriente, confunda e
surpreenda o inimigo sempre, se possível”, dizia ele, “... essas táticas
vencerão sempre e um pequeno exército será capaz, portanto, de destruir outro
maior.”
Esta lei se aplica não só à
guerra, mas às situações do cotidiano. Os outros estão sempre tentando entender
o motivo das suas ações e usar a sua previsibilidade contra você. Faça um
movimento totalmente imprevisível e os colocará na defensiva. Sem entender
nada, eles ficam aflitos e, nesse estado, é fácil intimidá-los.
Pablo Picasso disse certa
vez, “O melhor cálculo é a ausência de cálculo. Quando você alcança um certo
grau de reconhecimento, os outros em geral imaginam que se você faz alguma
coisa, deve ser por um motivo inteligente. Portanto, é tolice planejar com
muito cuidado e antecedência os seus movimentos. É melhor agir
caprichosamente”.
Durante uns tempos, Picasso
trabalhou com o marchand Paul Rosenberg. Deixava-o livre para vender seus
quadros, mas um dia, sem nenhum motivo aparente, ele disse ao sujeito que não
lhe daria mais nenhuma obra para vender. Segundo Picasso, “Rosenberg ficou
quarenta e oito horas tentando imaginar por quê. Eu estaria reservando peças
para um outro marchand? Eu continuava trabalhando e dormindo, e Rosenberg
imaginando. Dois dias depois ele voltou, nervoso, ansioso, dizendo, ‘Afinal de
contas, caro amigo, você não me abandonaria se eu lhe oferecesse tudo isso, dizendo
uma quantia substancialmente maior, por esses quadros em vez do preço que estou
acostumado a pagar, não é mesmo?”’
A imprevisibilidade não é
apenas um instrumento de terror: embaralhando os seus padrões diariamente, você
agita as coisas e estimula o interesse. As pessoas falarão de você, atribuirão
motivos e darão explicações que nada têm a ver com a verdade, mas estarão
sempre pensando em você. No
final, quanto mais caprichoso você parecer, mais respeito conquistará. Só os
extremamente subordinados agem de maneira previsível.
O governante esclarecido é tão misterioso que parece não ter morada, é
tão inexplicável que não se sabe onde buscá-lo. Ele repousa na inação lá em
cima, e seus ministros tremem cá em baixo.
Han-fei-tzu, filósofo
chinês, século 3 a .C.
A vida na corte é um jogo de xadrez sério e melancólico, onde temos que
colocar em formação nossas armas e batedores, criar um plano, persegui-lo e nos
defender do plano do nosso adversário. Às vezes, entretanto, é melhor arriscar
e fazer a jogada mais caprichosa e imprevisível.
Jean
de La Brugêre ,
1645-1696
O
INVERSO
Às vezes, a previsibilidade
funciona a seu favor: criando um padrão com o qual as pessoas se sintam à
vontade, você as deixa anestesiadas. Elas armam tudo de acordo com o que sabem
sobre você. Essa tática pode ser útil de várias maneiras: primeiro, é uma
cortina de fumaça, uma fachada confortável por trás da qual você poderá enganar
os outros. Segundo, permite que você em raras ocasiões faça algo totalmente
contrário ao padrão, perturbando de tal forma o adversário que ele desmonta
sozinho.
Em 1974, Muhammad Ali e
George Foreman estavam prestes a se enfrentar numa luta do campeonato mundial
de boxe de pesos pesados. Todos sabiam o que ia acontecer: o grandalhão George
Foreman tentaria acertar um nocaute enquanto Ali dançaria ao seu redor, até ele
ficar exausto. Era assim que Ali lutava, esse era o seu padrão, e há dez anos
ele fazia a mesma coisa. Mas neste caso isso parecia dar a Foreman uma
vantagem: ele tinha um soco devastador e, se esperasse, mais cedo ou mais tarde
Ali teria de se aproximar. Ali, mestre estrategista, tinha outros planos: nas
entrevistas coletivas antes da grande luta, ele disse que ia mudar de estilo e
socar Foreman. Ninguém, muito menos Foreman, acreditou. O plano era um
suicídio; Ali estava brincando, como de costume. Mas aí, antes da luta, o
treinador de Ali afrouxou as cordas do rinque, como é hábito fazer quando um
boxeador pretende ser muito agressivo. Ninguém, entretanto, acreditou na
manobra; só podia ser uma armação.
Para espanto de todos, Ali
fez exatamente o que tinha dito. Enquanto Foreman esperava que ele começasse a
dançar ao seu redor, Ali partiu direto para cima dele e lhe deu um soco. E
perturbou totalmente a estratégia do adversário. Confuso, Foreman acabou
exausto, não corria atrás de Ali mas disparava socos feito um desvairado,
recebendo outros tantos de volta. Finalmente, Ali acertou um cruzado de direita
drástico que nocauteou Foreman. O hábito de supor que o comportamento de uma
pessoa se ajustará sempre aos seus padrões anteriores é tão arraigado que nem
mesmo Ali, anunciando uma mudança de estratégia, conseguiu alterar isso.
Foreman caiu numa armadilha — a armadilha sobre a qual tinham lhe avisado.
Atenção: a imprevisibilidade
às vezes é um tiro que sai pela culatra, especialmente se você estiver numa
posição inferior. Há ocasiões em que é melhor deixar as pessoas ao seu redor se
sentindo à vontade e tranqüilas. O excesso de imprevisibilidade é visto como
sinal de indecisão, ou até de algum problema psíquico mais grave. Os padrões
têm um poder muito grande, e se você os quebra pode deixar as pessoas
assustadíssimas. Deve se ter bom senso ao usar esse poder.
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