Você deve parecer um modelo
de civilidade: suas mãos não se sujam com erro e atos desagradáveis. Mantenha
essa aparência impecável fazendo os outros de joguete e bode expiatório para
disfarçar a sua participação.
PARTE 1: ESCONDA OS SEUS
ERROS
TENHA UM BODE EXPIATÓRIO POR
PERTO PARA ASSUMIR A CULPA
A nossa boa reputação
depende mais daquilo que escondemos do que daquilo que revelamos. Todos
cometemos erros, mas quem é esperto consegue escondê-los e arranja alguém para
acusar. É sempre conveniente ter um bode expiatório por perto nesses momentos.
Erros ocasionais são
inevitáveis — o mundo é imprevisível demais. As pessoas no poder, entretanto,
não se destroem pelos erros cometidos, mas pela forma como lidam com eles. Como
cirurgiões, precisam cortar fora o tumor rápida e irrevogavelmente. Desculpas
são ferramentas cegas demais para esta delicada operação; os poderosos as
evitam. Ao se desculpar, você abre a porta para todos os tipos de dúvida sobre
a sua competência, suas intenções, sobre outros erros que você talvez não tenha
confessado. Desculpas não satisfazem a ninguém e um pedido de perdão deixa todo
mundo constrangido. O erro não desaparece com uma desculpa; ele cresce e se
inflama. Melhor cortar fora imediatamente, distrair as atenções de você, e
focalizá-las sobre um bode expiatório conveniente antes que as pessoas tenham
tempo de pensar na sua responsabilidade ou possível incompetência.
O uso de bodes expiatórios é
tão antigo quanto a própria civilização, e podemos encontrar exemplos em
culturas do mundo inteiro. A idéia principal por trás destes sacrifícios é
passar a culpa e o pecado para uma figura externa — objeto, animal ou homem —,
que depois é banida ou destruída. Os hebreus costumavam pegar um bode vivo (daí
o termo bode expiatório) sobre cuja cabeça o sacerdote colocava ambas as mãos
enquanto confessava os pecados dos Filhos de Israel. Depois de transferidos
esses pecados para o animal, ele era levado para o deserto e lá ficava
abandonado. No caso dos atenienses e dos astecas, o bode expiatório era humano,
quase sempre uma pessoa alimentada e criada com este objetivo. Visto se
considerar que a fome e as pragas eram castigos impostos pelos deuses aos
humanos por seus maus atos, o povo sofria não só com a fome e as pragas, mas
com a culpa também. Eles se livravam desse sentimento de culpa transferindo-o
para uma pessoa inocente, cuja morte tinha intenção de satisfazer os poderes
divinos e banir o mal entre eles.
É uma atitude extremamente
humana a de não procurar dentro de si mesmo a razão de um erro ou crime, mas
sim olhar para fora e colocar a culpa num objeto conveniente.
Esta profunda necessidade de
externar a própria culpa, de projetá-la em outra pessoa ou objeto tem um poder
imenso, que os astutos sabem como controlar. O sacrifício é um ritual, talvez o
mais antigo de todos, e o ritual também é uma fonte de poder.
O sacrifício sangrento do
bode expiatório parece uma relíquia bárbara do passado, mas a prática persiste
até hoje, embora de forma indireta e simbólica; visto que o poder depende das
aparências, e quem está no poder tem de parecer que não erra nunca, os bodes
expiatórios estão mais populares do que nunca. Que líder moderno assumiria a
responsabilidade por seus erros? Ele procura outras pessoas para incriminar, um
bode expiatório para sacrificar.
Franklin D. Roosevelt tinha
fama de homem honesto e justo. Ao longo de toda a sua carreira, entretanto, ele
enfrentou muitas situações em que ser um bom sujeito significaria um desastre
político — mas ele não poderia ser visto como agente de um jogo sujo. Durante
vinte anos, portanto, seu secretário Louis Howe fez o papel de bode expiatório.
Ele fazia os negócios nos bastidores, manipulava a imprensa, manobrava
campanhas clandestinas. E sempre que se cometia um erro, ou vinha a público um
truque sujo contradizendo a imagem cuidadosamente elaborada de Roosevelt, Howe
servia de bode expiatório, e nunca se queixou disso.
Além de convenientemente
desviar a culpa, o bode expiatório serve de alerta aos outros. Em 1631
tramava-se para tirar do poder o cardeal francês, Richelieu — um complô
conhecido como “O Dia dos Trouxas”. Quase conseguiram, visto que dele
participavam os altos escalões do governo, inclusive a rainha mãe. Mas com
sorte e seus próprios cúmplices, Richelieu sobreviveu.
Um dos principais
conspiradores era um homem chamado Marillac, o guardador dos selos. Richelieu
não poderia mandar prendê-lo sem comprometer a rainha-mãe, tática que seria
extremamente perigosa. Portanto ele mirou o irmão de Marillac, um marechal do exército.
Esse homem não tinha nada a ver com o complô. Richelieu, entretanto, temendo
que houvesse ainda no ar outras conspirações, especialmente no exército,
decidiu dar um exemplo. Forjou acusações sobre o irmão de Marillac, e ele foi
julgado e executado. Assim, indiretamente ele puniu o verdadeiro criminoso, que
se achava protegido, e avisou aos futuros conspiradores que não relutaria em
sacrificar inocentes para proteger o seu próprio poder.
De fato, quase sempre é
preferível escolher a vítima mais inocente possível como bode expiatório.
Pessoas assim não terão poder suficiente para lutar contra você, e seus
protestos ingênuos poderão parecer exagerados — poderão ser vistos, em outras
palavras, como sinal da sua culpa. Cuidado, entretanto, para não criar um
mártir. É importante que você continue sendo a vítima, o pobre líder traído
pela incompetência dos que o cercam. Se o bode expiatório parecer fraco demais
e o seu castigo muito cruel, o tiro pode sair pela culatra. Às vezes você deve
encontrar um bode expiatório mais poderoso — que a longo prazo desperte menos
simpatia.
Seguindo esta tendência, a
história tem demonstrado várias vezes que vale a pena usar um associado próximo
como bode expiatório. Isto é conhecido como a “queda do favorito”. A maioria dos
reis teve um favorito pessoal na corte, um homem a quem eles distinguiam dos
outros, às vezes sem nenhum motivo aparente, e cobriam de favores e atenção.
Mas este favorito podia servir como um conveniente bode expiatório se a
reputação do rei se visse ameaçada. O público facilmente acreditaria na culpa
do bode expiatório — por que o rei sacrificaria o seu favorito, se ele não
fosse culpado? E os outros cortesãos, já ressentidos com o favorito, se
alegrariam com a sua queda. O rei, enquanto isso, se livrava de um homem que
provavelmente já sabia demais sobre ele, tendo até atitudes arrogantes e
desdenhosas. Escolher um associado próximo como bode expiatório tem o mesmo
valor da “queda do favorito”. Você pode perder um amigo ou ajudante, mas a
longo prazo é mais importante esconder seus erros do que confiar em alguém que
um dia, provavelmente, vai se virar contra você. Além do mais, você sempre pode
substituí-lo por outro favorito.
Loucura não é cometer
loucuras, e sim não conseguir escondê-las. Todos os homens erram, mas o sábio
esconde os enganos que cometeu, enquanto o louco os torna públicos. A reputação
depende mais do que se esconde do que daquilo que se mostra. Se você não pode
ser bom. seja cuidadoso.
Baltasar Gracian. 1601 -1658
Os atenienses
mantinham regularmente uma quantidade de seres degradados e inúteis; e quando
acontecia uma calamidade, tal como uma praga, enchente ou escassez de
alimentos... [estes bodes expiatórios] eram levados... e depois sacrificados,
aparentemente apedrejados do lado de fora da cidade.
The
Golden Bough, Sir James George Frazer 1854-1941
PARTE II: NÃO COLOQUE A SUA MAO NO FOGO
Uma rainha não deve sujar as
mãos com tarefas inglórias, nem um rei ode aparecer em público com o rosto
manchado de sangue. Mas o poder não sobrevive sem o esmagar constante de
inimigos — sempre haverá pequenas tarefas sujas que precisam ser feitas para
manter você no trono.
Em geral será alguém fora do
seu círculo imediato, que provavelmente não perceberá que está sendo usado.
Você encontra esses trouxas por toda parte — gente que gosta de prestar
favores, especialmente se você lhes jogar um ossinho, ou dois, em troca. Mas enquanto
realizam tarefas que para eles podem parecer bastante inocentes, ou pelo menos
totalmente justificadas, na verdade abrem o caminho para você, espalhando as
informações que você lhes dá, destruindo aos poucos pessoas que eles não
percebem serem suas rivais, inadvertidamente promovendo a sua causa, sujando as
mãos enquanto as suas permanecem imaculadas.
Se você estiver temporariamente
enfraquecido e precisar de tempo para se recuperar, quase sempre é mais
vantajoso usar as pessoas ao seu redor como uma cortina para esconder suas
intenções e como uma pata de gato para fazer o trabalho por você. Procure uma
terceira parte com quem dividir um inimigo (mesmo que por motivos diversos).
Depois se aproveite do seu poder superior para dar golpes que lhe custariam
muito mais energia, visto que você é mais fraco. Você pode até delicadamente
guiá-los para atitudes hostis. Procure sempre o flagrantemente agressivo - com
freqüência eles estão mais dispostos a entrar numa briga, e você pode escolher
exatamente a briga certa para o seu objetivo.
Saiba que prestar um favor
não é coisa simples: não se deve fazer estardalhaço nem ser óbvio demais, pois
quem recebe sente o peso da obrigação. Isto pode dar um certo poder a quem dá,
mas é um poder que acaba se autodestruindo porque só desperta ressentimentos e
resistência. Um favor prestado indiretamente e com elegância tem dez vezes mais
poder.
O cortejador usa a mão
enluvada para abrandar os golpes desfechados contra ele, disfarçar cicatrizes,
tornar o ato de resgate mais elegante e limpo. Ao ajudar os outros, o
cortejador acaba se ajudando. Jamais imponha um favor seu. Busque um jeito de
tirar indiretamente seus amigos de dificuldades sem se impor ou fazer com que
eles se sintam devedores.
Como líder você pode
imaginar que o zelo constante, e a aparência de trabalhar mais do que todos,
signifique poder. Na verdade, entretanto, tudo isso tem o efeito contrário:
sugere fraqueza. Por que você trabalha tanto? Talvez seja incompetente e tenha
de se esforçar mais para continuar onde está; talvez você seja uma dessas
pessoas que não sabem delegar poderes e precisam se meter em tudo. Os verdadeiramente poderosos,
por outro lado, não parecem nunca ter pressa ou estar sobrecarregados de
trabalho. Enquanto os outros se esfalfam, eles descansam. Sabem onde encontrar
quem que vai labutar enquanto eles poupam suas energias, e não queimam suas
mãos no fogo. Similarmente, você pode achar que assumindo o trabalho sujo,
envolvendo-se diretamente em ações desagradáveis, está impondo o seu poder e
inspirando temor. De fato, você está mostrando uma imagem feia e abusiva da sua
alta posição. Pessoas verdadeiramente poderosas não sujam as mãos. Ficam
cercadas apenas de coisas boas, e só anunciam conquistas gloriosas.
Freqüentemente você verá que
é preciso, é claro, gastar energia ou ter uma atitude nociva porém necessária.
Mas, você não deve nunca parecer que é o agente dessa ação. Encontre alguém
para sujar as mãos por você. Desenvolva a arte de encontrar, usar e, no devido
tempo, se livrar dessas pessoas depois de cumprido o seu papel de pata do gato.
Na véspera de uma importante
batalha naval, o grande estrategista chinês do século III, Chuko Liang, se viu
falsamente acusado de trabalhar em segredo para o outro lado. Como prova da sua
lealdade, seu comandante mandou que ele produzisse cem mil flechas para o
exército em três dias, ou morreria. Em vez de tentar fazer as flechas, uma
tarefa impossível, Liang pegou uma dúzia de barcos e mandou amarrar montes de
palha ao lado de cada um deles. No fim da tarde, quando o rio costumava ficar
coberto de neblina, ele arrastou os barcos em direção ao campo inimigo. Temendo
uma armadilha do astuto Chuko Liang, o inimigo não usou os seus próprios barcos
para atacar os do adversário, que mal conseguia enxergar, mas fez chover sobre
eles uma nuvem de flechas atiradas da margem. A medida que os barcos de Liang
se aproximavam ele ia aumentando a chuva de flechas, que ficavam espetadas na
palha. Depois de várias horas, os homens escondidos a bordo desceram
rapidamente o rio com os barcos até onde Chuko Liang os encontrou e recolheu as
suas cem mil flechas.
Chuko Liang jamais fazia um
trabalho que outros poderiam fazer por ele — estava sempre imaginando truques
desse tipo. A chave para o planejamento de uma estratégia assim é a capacidade
de pensar com antecedência, de imaginar formas de atrair os outros para fazer o
trabalho por você.
Um elemento essencial para
que esta estratégia funcione é disfarçar o seu objetivo, envolvendo-o numa capa
de mistério, como os estranhos barcos inimigos que surgem indistintamente no
meio da névoa. Se os seus rivais não têm certeza do que você está querendo, acabarão
reagindo de forma a se prejudicar. De fato, eles é que sujarão as mãos por
você. Se você disfarça suas intenções, fica muito mais fácil guiá-los para
fazer exatamente o que você quer que seja feito mas prefere não fazer você
mesmo. Isto pode exigir a execução anterior de vários movimentos, como uma bola
de bilhar que ricocheteia nos cantos algumas vezes antes de acertar a caçapa.
O trapaceiro americano do
início do século XX, Yellow Kid Weil sabia que, por mais hábil que fosse, se
abordasse diretamente o otário rico perfeito, sendo ele um estranho, o sujeito
ficaria desconfiado. Por isso Weil procurava alguém que o otário já conhecesse
para sujar as mãos por ele —alguém numa posição inferior na hierarquia e que
fosse um alvo improvável, menos suspeito. Weil fazia esse alguém se interessar
por um esquema que prometia render uma enormidade de dinheiro. Convencido de
que o esquema era para valer, ele em geral sugeria, sem ninguém o lembrar
disso, que seu chefe ou amigo rico também deveria participar: com mais dinheiro
para investir, esse chefe ou amigo aumentaria o tamanho do bolo e todos
ganhariam mais. O sujeito que servia de disfarce, então, envolveria o rico
otário, que era o alvo de Weil desde o início mas que não desconfiaria de uma
armadilha, visto que o seu confiável subordinado é que o tinha amarrado.
Artifícios desse tipo são em geral a melhor maneira de abordar a pessoa com
poder: use um associado ou subordinado para fazer a ligação entre você e o seu
alvo principal. O disfarce estabelece a sua credibilidade e o protege da
desagradável aparência de estar exagerando na bajulação.
A maneira mais fácil e
eficaz de se aproveitar da disfarce quase sempre é dando-lhe uma informação
falsa que ele vai logo contar para o seu alvo principal. Informações falsas ou
inventadas são uma arma poderosa, especialmente se divulgadas por um trouxa de
quem ninguém desconfia. Você vai ver que é muito fácil bancar o inocente e não
deixar ninguém perceber a origem delas.
O estratégico terapeuta
Milton H. Erickson costumava ter entre seus pacientes casais em que a esposa
queria fazer a terapia mas o marido se recusava terminantemente. Em vez de se
cansar tentando tratar diretamente com o homem, Erickson atendia a esposa
sozinha e, conforme ela ia falando, ele inseria na conversa interpretações do
comportamento do marido que ele sabia que o irritariam. Com certeza, ela ia
contar para marido o que o médico tinha dito. Depois de algumas semanas, ele já
estava tão furioso que acaba insistindo em acompanhar a mulher, para acertar as
contas com o médico.
Finalmente, há ocasiões em
que se oferecer deliberadamente para tirar a castanha do fogo pode lhe dar um
grande poder. É o ardil do perfeito cortesão. Seu símbolo é Sir Walter Raleigh,
que certa vez colocou o seu casaco na lama para que a rainha Elizabeth não
sujasse os sapatos. Como o instrumento que protege um senhor ou um par de
coisas desagradáveis ou perigosas, você ganha um imenso respeito, que mais cedo
ou mais tarde dará seus dividendos. E lembre-se: se conseguir dar a sua assistência
de uma forma sutil e graciosa, em vez de se mostrar orgulhoso e incômodo, sua
recompensa será ainda mais satisfatória e poderosa.
Faça você mesmo tudo que for
agradável, para o que for desagradável você usa os outros. Com o primeiro
procedimento voce sai favorecido, com o segundo você desvia a má vontade.
Negócios importantes quase sempre exigem recompensas e punições. De você só
deve vir o que é bom, o ruim virá dos outros.
Baltasar Gracián, 1601-1658
Eu prefiro trair o mundo
inteiro do que deixar que o mundo me traia.
General Ts ‘ao Ts ‘ao, c.
155-220 d. C
A JUSTIÇA DE CHELM
Certa vez, aconteceu uma
desgraça na cidade de Chelm. O sapateiro da cidade assassinou um dos seus
clientes. Ele foi então levado ao juiz, que o condenou à forca. Anunciado o
veredicto, um dos cidadãos se levantou e gritou, Se me permite — Vossa Senhoria
acaba de condenar à morte o único sapateiro da cidade! Só temos ele. Se o
enforcar, quem vai
consertar
nossos sapatos?” Quem? Quem? ‘, gritaram todos da cidade de Chelm a uma só voz. O juiz balançou a cabeça concordando
e reconsiderou o seu veredicto. ‘Bom
povo de Chelm “, disse ele, “o que dizem
é verdade. Visto que só temos um
sapateiro, seria um grave erro contra a comunidade
deixá-lo morrer. E, como existem dois telhadores na cidade, que um deles seja enforcado no seu lugar.”
A
Treasury Of Jewish Folklore, Nathan Ausubel.
Não se deve ser direto
demais. Veja a floresta.
As árvores retas são
cortadas, as retorcidas permanecem de pé.
Kautilya, filósofo hindu,
século 3 a.
C.
ORG.. 1948.
OINVERSO
O disfarce e o bode
expiatório devem ser usados com extrema cautela e delicadeza. Eles são cortinas
que escondem do público o seu próprio envolvimento no trabalho sujo; se de
repente a cortina se erguer e você for visto como manipulador, o senhor dos
fantoches, toda a dinâmica mudará de rumo — sua mão será vista por toda a
parte, e você será acusado de infortúnios com os quais não tem nada a ver.
Depois que a verdade vem à tona, as coisas vão tomando uma proporção
incontrolável.
Em 1572, a rainha Catarina de
Medici, da França, conspirava para acabar com Gaspard de Coligny, almirante da
armada francesa e importante membro da comunidade huguenote (protestantes
franceses). Coligny era amigo do filho de Catarina, Carlos IX, e ela temia a
sua crescente influência sobre o jovem rei. Ela arrumou, portanto, um membro da
família Guise, um dos dás reais mais poderosos da França, para assassiná-lo.
Mas, secretamente, Catarina
tinha outro plano: ela queria que os huguenotes acusassem os Guise de terem
matado um de seus líderes, e se vingassem. Com uma só tacada, ela apagaria ou
prejudicaria dois perigosos rivais, Coligny e a família Guise. Mas os dois
tiros saíram pela culatra. O assassino errou o alvo, ferindo apenas Coligny;
sabendo que Catarina era sua inimiga, ele desconfiou seriamente de que ela é
quem tinha tramado o ataque, e contou para o rei. Acabou que o assassinato
fracassado e as discussões que se seguiram deram origem a uma série de
acontecimentos resultando numa sangrenta guerra civil entre católicos e
protestantes, que culminou no horrível massacre conhecido como a Noite de São
Bartolomeu, quando milhares de protestantes foram mortos.
Se tiver de usar um disfarce
ou o bode expiatório numa ação de sérias conseqüências, cuidado: exagerar pode
ser prejudicial. É sempre mais sensato usar esses trouxas em tarefas mais
inocentes, quando um erro não causará danos graves.
Finalmente, há momentos em
que é mais vantajoso não disfarçar o seu envolvimento ou responsabilidade, mas
assumir você mesmo a culpa por algum erro. Se você tem poder e está seguro
dele, deve às vezes representar o penitente: com o olhar pesaroso, você pede
perdão aos mais fracos. E o truque do rei que fica exibindo o seu sacrifício
pelo bem-estar do povo. Ocasionalmente, também, é bom você se mostrar como o
agente castigador, para inspirar medo e terror nos seus subordinados. Em vez da
pata do gato, você mostra a sua mão poderosa com um gesto ameaçador. Use este
trunfo com parcimônia. Se usá-lo com muita freqüência, o medo se transformará
em ressentimento e ódio. Quando você perceber, essas emoções já terão se
transformado numa forte oposição que acabará por derrubá-lo. Habitue-se a usar
a pata do gato — é muito mais seguro.