No
constante processo evolutivo vivenciado pelas organizações, tornou-se
notório que o significado de ser líder ganhou uma conotação totalmente
diferente daquela em que apenas "delegar ordens e ficar atrás de uma
mesa" eram ações suficientes para qualificar um profissional como um
chefe exemplar e digno de ser respeitado por todos seus subordinados.
Hoje, as empresas constatam que muitos talentos pedem demissão não das
organizações, mas sim dos líderes que estão à frente das equipes e que
teoricamente deveriam dar um norte aos liderados e não os desestimularem
ao ponto de recorrerem ao desligamento da empresa. Diante disso,
investir no desenvolvimento das lideranças no tocante não somente a
competências técnicas como também comportamentais, tornou-se
indispensáveis para que os times apresentem resultados condizentes com à
realidade de cada corporação.
No Grupo Maranhão, por exemplo, o desenvolvimento das lideranças
ganhou uma verdadeira guinada em 2011, oportunidade em que a companhia
criou a Escola de Líderes Maranhão. De acordo com Alexandre Lopes,
gerente de Treinamento & Desenvolvimento, essa iniciativa surgiu
para definir que competências deveriam ser desenvolvidas e aprimoradas
pelos líderes da companhia. "O mapeamento dessas competências foi
desenvolvido ao longo de quatro meses, através de um acompanhamento, in
loco, de todos os nossos líderes. A execução da primeira aula aconteceu
em dezembro de 2011, onde foi apresentado aos alunos a necessidade, o
projeto e o resultado esperado", relembra.
O Grupo Maranhão
foi fundando em 1969, na cidade de Catanduva/SP. Atualmente, o Grupo
divide-se em dois canais de distribuição. O Canal Direto que é composto
pelo varejo (lojas de supermercados) e o Canal Indireto composto pelo
atacado/distribuição. Atua no Estado de São Paulo e no Triângulo
Mineiro. Possui cerca de 1.300 colaboradores.
Logo após o trabalho de levantamento das necessidades de
treinamento pensou-se, em um primeiro momento, realizar este trabalho de
desenvolvimento em parceria com alguma consultoria especializada em
treinamento. Todavia, a ideia foi evoluindo, os membros da área de
Recursos Humanos envolveram-se e se dedicaram tanto à iniciativa que
eles "viviam" Escola de Líderes quase que 24 horas por dia. A paixão
pelo trabalho encontrou um campo fértil e o apoio do presidente e dos
diretores do grupo Maranhão tornou os coordenadores da iniciativa fortes
para consolidar o projeto.
O gerente de T&D explica que a escolar por trabalhar essa
forma linear de desenvolvimento surgiu devido à necessidade de adaptação
e de evolução dos líderes diante do cenário econômico atual e, no caso
das novas lideranças, de desenvolver, as competências necessárias para
conduzirem suas equipes que, em sua grande maioria, são formadas por
jovens que estão ingressando no mercado de trabalho. "Somado a isso
ainda tínhamos a necessidade de desenvolver um backup de líderes que foi
constituído por colaboradores que foram avaliados e definidos como
potenciais futuros líderes e que viriam a sustentar o nosso processo de
expansão orgânica", argumenta Alexandre Lopes.
Público-alvo - Atualmente, a Escola de Líderes
trabalha com três grupos. O primeiro é formado por líderes
administrativos - responsáveis pelos departamentos da matriz do Grupo
Maranhão. O segundo grupo é composto por todas as lideranças líderes de
departamentos das unidades de vendas e o terceiro grupo é constituído
por colaboradores com potencial para se tornarem futuros líderes. Ao
todo, somam 110 "alunos", como são chamados pela área de T&D.
Implantação da Escola - Quando questionado sobre
as fases que envolveram a criação da Escola de Líderes e que envolveu
desde sua idealização até a concretização da iniciativa, Alexandre Lopes
comenta que assumiu pessoalmente a condução do projeto desde o momento
da concepção até a coordenação do mesmo. Chegou, inclusive, a ministrar
módulos para as lideranças da companhia, ao passo que também contou com o
empenho de toda a sua equipe de T&D. Paralelamente, contou com o
suporte de parceiros internos, especialistas para suprir as necessidades
de assuntos mais técnicos como, por exemplo: logística, DRE
(Demonstrativo do Resultado do Exercício), contabilidade, entre outros.
Vale ressaltar que na fase de elaboração da escola de Líderes,
equipe de T&D dedicou-se ao planejamento de cada atividade que seria
realizada junto às lideranças. Isso incluiu: os planos de aulas; a
escolha das dinâmicas de grupo, escolha de vídeos, realização de
debates, enfim, todo o material que seria utilizado junto aos líderes
foi trabalhado em detalhes. Inclusive, a coordenação do projeto também
chegou a cogitar o que os alunos precisariam, o que poderia ser
questionado durante as aulas. Ou seja, para oferecer um desenvolvimento
de qualidade, a coordenação do projeto colocou-se no lugar das
lideranças que passariam a integrar a Escola de Líderes.
"Após realizamos o Levantamento das Necessidades de Treinamento e
desenharmos o escopo alinhado à missão, à visão e aos valores do Grupo
Maranhão, desenvolvemos uma apresentação sobre o conceito da Escola de
Líderes, a metodologia que iríamos utilizar e os objetivos que
pretenderíamos alcançar, assim como as ferramentas de mensuração de
resultado e de acompanhamento do desenvolvimento. Todas essas
informações foram distribuídas em slides apresentados à diretoria que,
de imediato, apoiou a ideia. Na sequência, reunimos os gerentes e os
diretores dos departamentos para explicar como seria a Escola de
Líderes, combinamos as datas para a execução dos 12 módulos. Divulgamos o
projeto à companhia e apresentando os módulos, o calendário, a relação
dos alunos e suas respectivas turmas. Também envolvemos o departamento
de marketing que desenvolveu a identidade visual do projeto", especifica
o gerente de T&D.
Segundo Alexandre Lopes, além de inscreverem todos os líderes do
Grupo Maranhão para participarem das atividades da Escola de Líderes, a
área de Treinamento & Desenvolvimento formou uma turma de alunos com
colaboradores que compõem a "pipeline de liderança". "Esses
alunos precisam passar pelo período de experiência e adaptação à empresa
e em seguida são avaliados, comportamental e tecnicamente pelos seus
líderes imediatos, pelos gerentes ou diretores do departamento e pelo
RH. Identificado que o aluno tem potencial e seus valores vão ao
encontro dos valores do Grupo Maranhão, passamos a investir neles
matriculando-os na escola", cita.
Atividades da Escola de Líderes - Esses alunos
precisam passar pelo período de experiência e adaptação à empresa e em
seguida são avaliados em suas competências técnicas e comportamentais
pelos seus líderes imediatos, pelos gerentes ou diretores do
departamento e pela área RH. Identificado que o aluno tem potencial e
seus valores vão ao encontro dos valores do Grupo, passamos a investir
neles matriculando-os na escola.
Como o principal objetivo da Escola de Líderes Maranhão é o
desenvolvimento das habilidades e das atitudes necessárias para que as
lideranças coloquem em prática todo o conhecimento adquirido em sala de
aula, o dia de treinamento é dividido entre a teoria e a prática. No
primeiro momento, é desenvolvido um pensamento sobre o conceito e no
segundo, o mesmo é aplicado através de recursos para a sedimentação do
conceito o lúdico, ou seja, via dinâmicas individuais ou em grupos.
Muitas vezes, os exercícios práticos são executados no ambiente de
trabalho do próprio líder que frequenta a escola. Na aula seguinte, o
aluno realiza uma apresentação dos resultados alcançados.
"Criamos uma sequência lógica entre os módulos. Por exemplo,
detectamos no LNT que deveríamos desenvolver ou aprimorar a competência
feedback em nossos lideres. Porém antes de apresentarmos o Módulo
Feedback aos alunos, foi passado para eles o Módulo Comunicação - desde o
conceito de comunicação, comunicação assertiva, uso do controle
emocional, composição da comunicação, a força da expressão corporal, os
canais de comunicação sensoriais, leitura corporal, para somente depois
passarmos as técnicas de feedback. Com isso ficou muito mais fácil
construir e praticar os feedbacks. Seguimos essa mesma lógica para o
Módulo Liderança quando discutimos na aula anterior Quociente Emocional e
eles puderam fazer exercícios práticos para entenderem melhor a
estrutura das suas personalidades e como, através do controle emocional,
poderiam melhor exercer seus papéis de líderes diante das
adversidades", resume o gerente de T&D do Grupo Maranhão, ao
sinalizar que as lideranças que frequentam a Escola de Líderes têm mais
chances de crescerem internamente. Isso porque, o conhecimento aliado à
prática os torna mais capazes em conduzirem reuniões, apresentarem
projetos, discutirem ideias e liderarem suas equipes. Dessa forma,
ganham mais visibilidade e, consequentemente, são mais lembrados em
momentos de promoções internas.
Mensuração de Resultados - Para avaliar os
resultados proporcionados pela Escola de Líderes, todos os módulos
passam por uma avaliação de retenção, aplicada no início e ao final das
aulas. Para a mensuração do resultado em campo existe a pesquisa de
clima organizacional realizada por departamento. "Realizamos focus group
conduzidos pelos profissionais do RH, onde podemos constatar as
mudanças tanto no campo comportamental quanto técnico. Contamos ainda
com a ajuda do software de Gestão de Pessoas, onde temos as descrições
de cargos e suas respectivas competências, e seus graus de importância.
Lançamos os resultados de aproveitamento dos alunos neste software e
conseguimos acompanhar o desenvolvimento individual. Ainda não
implantamos o nosso Scorecard, mas estamos a caminho. Temos,
ainda, claro em nossa organização que toda necessidade de treinamento
surge da necessidade de sanar um gap de competência, que vem
influenciando negativamente o desempenho profissional e,
consequentemente, levando a empresa a deixar de ganhar em algum momento.
O melhor resultado que o RH pode entregar é fazer com que a companhia
deixe de perder e comece a ganhar. E quando digo ganhar, estou me
referindo não somente a bens tangíveis, mas também aos valores
intangíveis", enfatiza Alexandre Lopes.
Receptividade das Lideranças - O gerente de
T&D mostra-se muito animado, ao ser indagado sobre a receptividade
que a Escola de Líderes tem obtido junto ao público-alvo. Ele explica
que o modelo "escola" para a formação dos profissionais tem sido um
sucesso e afirma que a Escola de Líderes culminou na criação de uma
equipe mais entrosada e participativa. Os "alunos" passaram a serem
cúmplices em relação do desenvolvimento, pois um ajuda ao outro quando
alguma dificuldade é percebida.
Os Benefícios - A Escola de Líderes trouxe
benefícios para o Grupo Maranhão. Dentre esses, destacam-se os diretor
como o desenvolvimento profissional e pessoal de líderes e das futuras
lideranças da companhia. Já entre os benefícios indiretos, podem ser
citados os resultados alcançados que deixaram de ser projetados na
concepção da escola. "Não é difícil os alunos nos procurarem para
comentarem que determinado assunto aprendido na Escola de Líderes os
ajudou também em casa, no relacionamento com a esposa ou o com o marido e
até mesmo com os filhos. Isso é gratificação em dobro", pontua
Alexandre Lopes.
Ainda na opinião do gerente de Treinamento & Desenvolvimento
do Grupo Maranhão, investir em ações como a Escola de Líderes torna-se
importante à Gestão de Pessoas porque ele acredita que a diferença é
algo como estar no jogo ou estar fadado ao desaparecimento ou à
estagnação. Hoje, comenta ele, vivemos um momento de pleno emprego no
país, a mobilidade dos profissionais está muito acentuada. Os talentos
querem desafios, são muito ávidos por mudanças, novidades, conhecimento,
tudo chega e vai muito rápido e, diante desse cenário, se a empresa não
proporciona aos seus líderes e às futuras lideranças, desafios, novos
conhecimentos, novas práticas, esses profissionais, cedo ou trade irão
buscar o que desejam em outras organizações.
"Vivendo uma reinvenção das relações humanas e trabalhista, não
obstante iremos ver sumir o modelo tradicional de hierarquia, aquele que
conhecíamos como pirâmide hierárquica onde o presidente está no topo,
depois vem vice-presidente, diretores, gerentes, entre outros.
Atualmente, o modelo está mais para rede do que para pirâmide. O
colaborador da base não tem receio de falar e de expor suas ideias e
frustrações ao presidente da empresa. Aliás, ele faz isso todos os dias,
quando está no Facebook, no Twitter, no LinkedIn, em blogs, basta
prestarmos atenção. É nesse cenário que os novos líderes estão assumindo
departamentos e equipes de trabalho. Então, é papel fundamental do RH
preparar esses líderes e futuros líderes para lidar com equipes
multidisciplinares, multiculturais, digitais e questionadoras", conclui
Lopes.
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