Por Jerônimo Mendes para o RH.com.br
Dos dois aos doze anos, mais ou menos, você foi um iniciador por
natureza. Quase sempre acordava antes dos seus pais, mexia em tudo o que
não podia, perguntava sobre tudo e sobre todos e não parava de
"incomodar" os outros até que alguém o fizesse calar subitamente.
Os
meninos tornavam-se bravos super-heróis, médicos, advogados,
engenheiros, eletricistas ou cientistas antes mesmo de saber o que
significava isso. As meninas, por sua vez, assumiam o instinto materno
com suas brincadeiras de casinha e de boneca e isso era a coisa mais
natural do mundo.
Nesse período, você vivia mergulhado num
turbilhão de ideias que fluíam dos dois lados do cérebro continuamente
sem se importar se aquilo valia à pena ou não. Você não tinha medo de
perguntar nem de fazer alguma coisa por iniciativa própria, fosse
proibido ou não. O fracasso não fazia parte do seu vocabulário. Você
simplesmente fazia.
Com o tempo, você passou a encarar os
problemas com o mesmo olhar dos seus pais, descobriu a existência da
seletividade e da competitividade e passou a se comparar com os amigos
de escola, de condomínio e de balada. Descobriu que ter coisas de marca
ou de grife era bom, principalmente quando não precisava pagar por elas.
Aquela
competitividade natural do ser humano ecoou em você a ponto de deixar
seus pais malucos sobre como fazer para dar conta de todo aquele arsenal
de coisas que você nem precisava tanto, mas deveria comprar para não
ser hostilizado pelos colegas de escola, filhos dos vizinhos e primos
ricos.
Ao mesmo tempo, sua criatividade desapareceu, não por
completo, é óbvio, mas foi atrofiada diante da competitividade acirrada
da qual você faz parte e que não dá tréguas. Em pouco tempo, você
substituiu o rótulo do iniciador pelo rótulo de resistente e o medo
passou a fazer parte do seu cotidiano.
Você já não põe mais o
dedo na tomada, inadvertidamente, tampouco desmonta os eletrodomésticos
de casa sem se dar conta de que alguém vai pegar no seu pé nem deita no
chão para espernear, pois sabe que, por razões óbvias, isso pode se
voltar contra você. Então, você apenas se submete e acompanha o fluxo da
maré.
Além de tudo, para suprir a falta de iniciativa e a
resistência natural da maioria das pessoas para as mudanças, o mundo
inventou o YouTube, o Twitter, o Facebook, o Google e milhares de outras
mídias para que você não tenha a menor preocupação com o futuro.
Com
isso, você pode ficar conectado 24 horas por dia, sem se dar conta de
que o tempo está passando, além de fugir da cobrança implacável dos pais
e do mundo quanto ao futuro incerto que tem pela frente. A inércia dói
menos do que o enfrentamento. De certa forma, ela resolve todos os seus
problemas de emprego, de escola e de posicionamento na sociedade.
O fato é que o mundo está mudando rápido demais e sem a chama da
iniciativa, lamento dizer, não há outra escolha a não ser reagir às
mudanças. Na prática, sem a capacidade de experimentar, de instigar, de
questionar, você está simplesmente parado, à deriva, esperando ser
levado pela corrente. Sem iniciativa, as maçãs continuarão caindo do
céu, mas a única coisa que você poderá dizer é: só acontece comigo!
Onde
foi parar a sua iniciativa? Por que você continua caminhando em
círculos? O que você faz com aquele turbilhão de ideais que fluem todos
os dias na sua mente? O que você vai fazer nos próximos 50 anos? Quantos
milhares de vídeos você ainda precisa ver no YouTube antes de gravar a
sua própria história?
A única saída é quebrar as regras ou
reinventá-las. Tentar, tentar, tentar quantas vezes for necessário.
Reconheço que é bem mais fácil deixar a vida nos levar, mas isso não
muda o mundo. O que você está esperando? Que alguém lhe diga: vai,
criatura, mexa-se? Quando você pode começar? Agora é melhor do que na
segunda-feira, portanto, vejamos!
Pare de andar em círculos:
deixe de ser orgulhoso e compre um mapa. A iniciativa por si só não é
suficiente. Planeje, escreva, inicie um blog, assuma uma causa, seja um
experimentador por natureza. A vida é experimentação, dizia Emerson, o
grande pensador norte-americano. Grandes empreendedores são vistos com
muito interesse todos os dias porque não tem medo de iniciar nem de
errar.
Pense diferente: você já está de "saco
cheio" de ficar ouvindo os nomes de Bill Gates, Steve Jobs, Larry Page,
Mark Zuckerberg e tantos outros? A diferença entre você e eles não são
os bilhões de dólares que acumularam. A diferença básica é, e sempre
será, a chama da iniciativa e da realização.
Um pouco de risco não faz mal a ninguém: o
risco envolve ganhar e perder. Isso, para alguns, é ruim, pois
representa uma enorme possibilidade de fracasso. São poucos os que
colocam em jogo algo que pode valer à pena. A maioria das ideias
fracassa, porém isso não significa que o seu projeto está condenado.
A regra de ouro da iniciativa: vender
é difícil, escrever difícil, fazer a diferença é difícil. Digo isso por
experiência própria, portanto, trabalhe regularmente, seja consistente.
Não existe almoço grátis. Em caso de dúvida, procure o medo. Ele é, na
maioria dos casos, a fonte da sua dúvida. A iniciativa é uma habilidade
escassa, por isso é rara e tem valor.
Pense nisso e seja feliz!
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