segunda-feira, 20 de maio de 2013

Por que não respondem meus emails?

Ter suas mensagens ignoradas é difícil, mas acontece com todo mundo. Entenda os motivos e como lidar com a espera

NYT  | 18/07/2011 06:44

É mais confortável achar que esses silêncios sejam resultado de algum problema técnico. Mas, geralmente, o culpado é mesmo a falta de cortesia.



“Quando as pessoas não respondem meus emails, sempre acho que alguma tragédia aconteceu”, diz o escritor e ator John Leguizamo, cujo primeiro casamento acabou quando sua esposa pediu o divórcio via correio eletrônico. “Acho que foram atingidos por um meteorito ou algo assim”.

Betsy Rapoport, editora e coach, diz: “Acho que nunca recebi resposta para nenhum email que tenha mandado para meus filhos, hoje com 21 e 18 anos”. O linguista David Crystal diz que sua mulher recebeu recentemente uma resposta a um email enviado em 2006. “Foi como receber um cartão-postal da Segunda Guerra”, diz. 

 O incômodo silêncio. A pausa que não termina. O mundo está cheio de exemplos de como as características da internet nos fazem escrever e publicar coisas de que nos arrependemos. Mas e quando essas características nos deixam esperando uma resposta no vácuo?

“A internet é algo muito informal, que aconteceu a uma sociedade que, por sua vez, já era informal”, diz P.M. Forni, especialista em etiqueta e autor de “Choosing Civility.” “A infinita quantidade de pessoas que podemos contatar significa que não somos tão cuidados ou gentis quanto deveríamos. De forma consciente ou inconsciente, pensamos em nossos interlocutores como substituíveis ou descartáveis”.

"Não-relacionamento"
 A escritora Diana Abu-Jaber conta que, há alguns anos, teve “um não-relacionamento” com uma colega também escritora que aparentemente se recusava a clicar em “responder”. As duas tinham amigos em comum, e começaram a se dar bem quando saíram para almoçar. Depois do encontro, a colega passou a enviar frequentes emails propondo novos encontros; mas nunca respondia quando Abu-Jaber retrucava com a proposta de horários e lugares.

“Eu não recebia resposta nenhuma e, de repente, semanas depois, chegvam emails com “Você está ocupada? Adoraria te encontrar”. Ou até: “Nossa, que loucura, há quanto tempo! Estou com saudade”.”
 A comediante Jean Villepique passou por um aperto ainda pior há cinco anos, quando desenvolveu uma paixonite por um colega. Depois de um flerte mínimo, ela sentou-se em seu computador e escreveu “um texto terrível que incluía frases como ‘compreensão especial’ e ‘não estou com vontade de me fazer de tímida ‘. Esperar a resposta foi como tentar manter a cabeça erguida em uma sala que aos poucos vai enchendo de água. Tentava me convencer de que não ia me afogar na humilhação. E ele nunca respondeu”.

 Rapoport, a editora que nunca recebe respostas dos filhos, não é a única que culpa os jovens. “Há uma cortesia profissional que você aprende quando já tem vinte e tantos anos”, diz Leguizamo. “Depois de já ter sido demitido muitas vezes”.

 Independentemente da idade do remetente, uma boa olhada nas razões para as pessoas não responderem, ou responderem de maneira seca, pode ajudar a vida dos não-destinatários.

Um dos cenários foi elucidado por Erin McKean, ex-editora de dicionários da Oxford University Press - emails que exigem esforço são mais ignorados. “Se me mandam um email que requer que eu vá atrás de alguma informação ou desça as escadas, ele vira pedra na minha caixa de entrada. Aí acho que devia mandar algo a mais, como um link engraçadinho para compensar meu atraso – e a procrastinação piora”. Da mesma forma, muitos de nós enrolamos para responder “não” a um RSVP, por exemplo.

Algumas pessoas não respondem porque recebem coisas demais, como o advogado Lawrence Lessig, que em 2004 se livrou da obrigação de responder ao criar uma declaração de “falência de email” que é enviada para todos os remetentes das 200 mensagens que chegam por dia à sua caixa. Desculpando-se por sua falta de “cyber-decência”, Lessig dizia aos remetentes que, se eles reenviassem a mensagem, um programa marcaria seus emails para receberem atenção especial, mas que, mesmo assim, era possível que ele não conseguisse quitar a “dívida”.

Por fim, alguns responsabilizam a falha humana. A atriz Sarah Thyre admite que deleta emails sem querer em seu iPhone. “O ícone da lixeira fica exatamente onde o dedo para depois de dar um scroll!”, lamenta. 
 Então checamos neuroticamente nossas caixas de spam e temos pensamentos rabugentos sobre a pessoa que não nos escreve. Lutamos com quão difícil é se sentir esperando e carente. Em alguns casos, nos dizem que o email foi parar na caixa de spam, uma afirmação que desperta nosso ceticismo ou simpatia (“é a tal mentirinha branca”, diz McKean. “Equivalente a dizer que não pode ir a uma festa porque está mal do estômago”.)

Como lidar

 No fim, além de ativar as confirmações de recebimento, o que muitos acham grosseria, a única esperança é mudar de atitude. “Nós nos comunicamos porque podemos, não porque temos algo importante a dizer”, afirma Forni. “Investimos tempo precioso de nossas reflexões na troca de trivialidades. Quero acreditar que quando nós topamos com esses “buracos negros” de silêncio na internet, isso em parte significa pelo menos que alguém está reagindo à tirania da hiperconexão”. “Devem haver almas espertas e corajosas que perceberam que pensar é mais importante do que comunicar”, acredita. 

 O monge budista Jisho Perry ensinou, 75 horas depois do email com pedido de entrevista ter sido enviado, que “a paciência é a habilidade de acabar com nossas expectativas”.

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