Ter suas mensagens ignoradas
é difícil, mas acontece com todo mundo. Entenda os motivos e como
lidar com a espera
NYT | 18/07/2011 06:44
É mais confortável achar
que esses silêncios sejam resultado de algum problema técnico. Mas,
geralmente, o culpado é mesmo a falta de cortesia.
“Quando as pessoas não
respondem meus emails, sempre acho que alguma tragédia aconteceu”,
diz o escritor e ator John Leguizamo, cujo primeiro casamento acabou
quando sua esposa pediu o divórcio via correio eletrônico. “Acho
que foram atingidos por um meteorito ou algo assim”.
Betsy Rapoport, editora e
coach, diz: “Acho que nunca recebi resposta para nenhum email que
tenha mandado para meus filhos, hoje com 21 e 18 anos”. O linguista
David Crystal diz que sua mulher recebeu recentemente uma resposta a
um email enviado em 2006. “Foi como receber um cartão-postal da
Segunda Guerra”, diz.
O incômodo silêncio.
A pausa que não termina. O mundo está cheio de exemplos de como as
características da internet nos fazem escrever e publicar coisas de
que nos arrependemos. Mas e quando essas características nos deixam
esperando uma resposta no vácuo?
“A internet é algo muito
informal, que aconteceu a uma sociedade que, por sua vez, já era
informal”, diz P.M. Forni, especialista em etiqueta e autor de
“Choosing Civility.” “A infinita quantidade de pessoas que
podemos contatar significa que não somos tão cuidados ou gentis
quanto deveríamos. De forma consciente ou inconsciente, pensamos em
nossos interlocutores como substituíveis ou descartáveis”.
"Não-relacionamento"
A escritora Diana
Abu-Jaber conta que, há alguns anos, teve “um não-relacionamento”
com uma colega também escritora que aparentemente se recusava a
clicar em “responder”. As duas tinham amigos em comum, e
começaram a se dar bem quando saíram para almoçar. Depois do
encontro, a colega passou a enviar frequentes emails propondo novos
encontros; mas nunca respondia quando Abu-Jaber retrucava com a
proposta de horários e lugares.
“Eu não recebia resposta
nenhuma e, de repente, semanas depois, chegvam emails com “Você
está ocupada? Adoraria te encontrar”. Ou até: “Nossa, que
loucura, há quanto tempo! Estou com saudade”.”
A comediante Jean
Villepique passou por um aperto ainda pior há cinco anos, quando
desenvolveu uma paixonite por um colega. Depois de um flerte mínimo,
ela sentou-se em seu computador e escreveu “um texto terrível que
incluía frases como ‘compreensão especial’ e ‘não estou com
vontade de me fazer de tímida ‘. Esperar a resposta foi como
tentar manter a cabeça erguida em uma sala que aos poucos vai
enchendo de água. Tentava me convencer de que não ia me afogar na
humilhação. E ele nunca respondeu”.
Rapoport, a editora
que nunca recebe respostas dos filhos, não é a única que culpa os
jovens. “Há uma cortesia profissional que você aprende quando já
tem vinte e tantos anos”, diz Leguizamo. “Depois de já ter sido
demitido muitas vezes”.
Independentemente da
idade do remetente, uma boa olhada nas razões para as pessoas não
responderem, ou responderem de maneira seca, pode ajudar a vida dos
não-destinatários.
Um dos cenários foi
elucidado por Erin McKean, ex-editora de dicionários da Oxford
University Press - emails que exigem esforço são mais ignorados.
“Se me mandam um email que requer que eu vá atrás de alguma
informação ou desça as escadas, ele vira pedra na minha caixa de
entrada. Aí acho que devia mandar algo a mais, como um link
engraçadinho para compensar meu atraso – e a procrastinação
piora”. Da mesma forma, muitos de nós enrolamos para responder
“não” a um RSVP, por exemplo.
Algumas pessoas não
respondem porque recebem coisas demais, como o advogado Lawrence
Lessig, que em 2004 se livrou da obrigação de responder ao criar
uma declaração de “falência de email” que é enviada para
todos os remetentes das 200 mensagens que chegam por dia à sua
caixa. Desculpando-se por sua falta de “cyber-decência”, Lessig
dizia aos remetentes que, se eles reenviassem a mensagem, um programa
marcaria seus emails para receberem atenção especial, mas que,
mesmo assim, era possível que ele não conseguisse quitar a
“dívida”.
Por fim, alguns
responsabilizam a falha humana. A atriz Sarah Thyre admite que deleta
emails sem querer em seu iPhone. “O ícone da lixeira fica
exatamente onde o dedo para depois de dar um scroll!”, lamenta.
Então checamos
neuroticamente nossas caixas de spam e temos pensamentos rabugentos
sobre a pessoa que não nos escreve. Lutamos com quão difícil é se
sentir esperando e carente. Em alguns casos, nos dizem que o email
foi parar na caixa de spam, uma afirmação que desperta nosso
ceticismo ou simpatia (“é a tal mentirinha branca”, diz McKean.
“Equivalente a dizer que não pode ir a uma festa porque está mal
do estômago”.)
Como lidar
No fim, além de
ativar as confirmações de recebimento, o que muitos acham
grosseria, a única esperança é mudar de atitude. “Nós nos
comunicamos porque podemos, não porque temos algo importante a
dizer”, afirma Forni. “Investimos tempo precioso de nossas
reflexões na troca de trivialidades. Quero acreditar que quando nós
topamos com esses “buracos negros” de silêncio na internet, isso
em parte significa pelo menos que alguém está reagindo à tirania
da hiperconexão”. “Devem haver almas espertas e corajosas que
perceberam que pensar é mais importante do que comunicar”,
acredita.
O monge budista Jisho
Perry ensinou, 75 horas depois do email com pedido de entrevista ter
sido enviado, que “a paciência é a habilidade de acabar com
nossas expectativas”.
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