Tamerlão, o Coxo, poderoso rei assírio do século XIII, era um soberano muito cheio de si e consciente das deferências de que se julgava credor por parte de todos os súditos. Ele tinha uma particularidade física notável: um grande e monstruoso nariz, o que muito o aborrecia. Por isso, jamais tinha se deixado retratar.
Quando, porém, já idoso, seu filho e sucessor, preocupado com a possível ausência do retrato do pai na galeria real, tanto insistiu que conseguiu dele a anuência para retratá-lo.
O monarca estabeleceu uma condição: só aceitaria o retrato, como sua estampa oficial, se encontrasse um artista que o pintasse a contento. E os artistas que tripudiassem sua imagem, seriam executados, conforme a tradição do Reino, na forca.
Aceita a condição, mensagens foram espalhadas por todo o Reino, convocando os artistas para a importante e perigosa tarefa. Não obstante os riscos, três se apresentaram, para tentar o que seria a suprema obra de sua vida e ganhar assim fama, reconhecimento e muitas moedas de ouro. Justamente os três melhores mestres da arte pictórica do Reino se apresentaram para o comedido.
O primeiro retratou o monarca tal e qual, com o narigão enorme e tudo. O rei, vendo o quadro acabado, embora admirando o gênio artístico, enfureceu-se com a figura horrenda e mandou enforcar o infeliz artista.
A franqueza rude, contundente, que não hesita em expor toda a realidade dos fatos, doa a quem doer, acabou condenando o primeiro artista. Pessoas com essa atitude podem revelar o mérito da coragem e do desinteresse, mas tiram nota zero em relações humanas.
Veio o segundo e, temeroso, pintou o rei fielmente, com exceção do aberrante apêndice nasal, em cujo lugar colocou irrepreensível narizinho. O soberano, sentindo-se ridicularizado, assinou igualmente a pena capital do segundo, sem comiseração.
Isso se chama "hipocrisia interesseira" e pode revelar inteligência e engenhosidade para distorcer os fatos, a fim de agradar aqueles a quem desejam conquistar.
Chegou a vez do terceiro artista, o qual habilidoso, conhecendo a paixão do rei pela caça, retratou-o portanto um arco, a atirar numa raposa. E o antebraço na arma tapava-lhe justamente o nariz. Vendo o resultado do trabalho, o monarca sorriu satisfeito e recompensou-o generosamente.
Esta é a essência da verdade construtiva, evidenciando o que é útil, edificante e elegante, e, omitindo sutilmente os aspectos menos agradáveis da vida do próximo.
Autor desconhecido
Códigos da Vida
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Editora Soler
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