domingo, 11 de agosto de 2013

Papai, Você Está Acordado?

Por F. MELVIN HAMMOND - dos setentas

Há bem pouco tempo, os Élderes Pace, Condie e eu reunimo-nos com a Primeira Presidência. Ao entrarmos na sala, o Presidente Hinckley olhou cuidadosamente para nós e então, com um sorriso no rosto, disse: “Como é que três homens idosos, de cabeça branca, podem ser a Presidência dos Rapazes desta Igreja?” Nossa única resposta foi: “Isso é porque o senhor nos chamou para sê-lo, Presidente”.
Rapazes, espero que vocês estejam entusiasmados com o Programa do Sacerdócio Aarônico: Cumprir Nosso Dever para com Deus. Ele foi apresentado a todos do Sacerdócio Aarônico do mundo inteiro. Tem o objetivo de abençoá-los espiritual, física, social e mentalmente. Os requisitos são significativos e vão fazer com que vocês se esforcem até os limites de sua capacidade. Vocês poderão estabelecer metas pessoais e alcançá-las com a ajuda de seus pais e seus grandes líderes. Existe um enorme entusiasmo associado a este programa na Igreja toda. Queremos que todos vocês se qualifiquem e recebam o ambicionado Prêmio Dever para com Deus.
Há muitos anos, levei nosso filho único para uma pescaria e acampamento – ele era um garotinho. O desfiladeiro era íngreme e a descida foi difícil. Mas, a pescaria foi boa. Todas as vezes que eu fisgava um peixe, dava a vara de pescar para o rapazinho ansioso que, com gritos de alegria puxava a linha com uma bonita truta. Ao cair da tarde, entre as sombras e o frio do fim do dia, começávamos nossa escalada de volta para a beira do desfiladeiro bem acima de nós. Ele escalava a montanha rapidamente à minha frente com um desafiador; “Vamos lá, Papai, aposto que posso chegar lá em cima antes de você.” O desafio era ouvido, mas sabiamente ignorado. Seu corpinho parecia literalmente voar por cima, à volta e por baixo de cada um dos obstáculos. E, quando cada passo que eu dava parecia ridiculamente semelhante ao último, ele chegara ao topo e ali ficava animando-me. Depois do jantar, ele se ajoelhou em oração. Sua voz infantil elevou-se em direção ao céu bendizendo o dia que tivéramos. Então, ele entrou em nosso grande saco de dormir e, depois de empurrar e puxar para cá e para lá eu sentia seu corpinho ajeitar-se e arrumar-se bem junto ao meu para agasalhar-se contra o frio e para sentir-se seguro contra a noite. Ao observar meu filho junto a mim, senti subitamente uma onda de amor percorrer meu corpo com tal força que encheu-me os olhos de lágrimas. E, naquele momento preciso ele me envolveu em seus braços pequeninos e disse:
“Papai?”
“O que é, meu filho.”
“Você está acordado?”
“Sim, filho, estou acordado.”
“Papai, eu amo você um milhão, um trilhão de vezes.”
E imediatamente dormiu. Mas eu fiquei acordado durante boa parte da noite, expressando meus grandes agradecimentos por bênçãos tão maravilhosas envolvidas pelo corpo de um menininho.
Hoje meu filho é um homem, e tem seu próprio filho. De vez em quando nós três vamos pescar. Olho para meu netinho de cabelos vermelhos ao lado do pai e aos olhos de minha mente vejo a imagem daquele momento maravilhoso de muitos anos antes. A pergunta feita com inocência: “Papai, você está acordado?” ainda ressoa em meu coração.
Proponho, a todos os pais, a mesma pergunta pungente: “Papai, você está acordado?” Será que seus filhos às vezes acham que vocês estão dormindo quando se trata das coisas que lhes são da máxima importância? Gostaria de sugerir que existem várias áreas que indicam se estamos “acordados” ou “dormindo” aos olhos e nossos filhos.
Primeira: nosso amor a Deus e a aceitação de nosso papel como líder da família ao guardar Seus mandamentos. Há alguns anos, depois de uma conferência de estaca, senti-me induzido a fazer uma visita a um irmão do sacerdócio que se afastara da Igreja. Nós o encontramos trabalhando no jardim. Aproximei-me dele e disse:“Querido irmão, o Senhor Jesus Cristo enviou-me para visitá-lo. Sou Élder Hammond, um de Seus servos”.
Trocamos um abraço latino e entramos em sua agradável casinha. Ele chamou a mulher e três filhos para que se juntassem a nós. Dois bonitos rapazes e uma bela mocinha sentaram-se ao lado do pai e mãe. Perguntei aos filhos o que mais gostariam no mundo naquele momento. O filho mais velho respondeu: “Se todos nós pudéssemos voltar para a Igreja, como uma família, ficaríamos muito felizes – muito gratos”. Nós lhes falamos o quanto eram necessários para o Salvador e como Ele os amava. Prestamos-lhes nosso testemunho e então nos ajoelhamos em oração. O pai orou. A mãe chorou. Atualmente eles estão completamente ativos. Os filhos sentem-se orgulhosos de seu pai e eles são felizes.
Todo pai na Igreja deve funcionar como o patriarca de sua casa. Ele deve tomar a iniciativa de guiar espiritualmente a família. Não deve delegar, nem transferir suas responsabilidades para a mãe. Ele deve convocar para a oração familiar, reunião familiar, leitura das escrituras e entrevistas paternas ocasionais. Ele é o protetor, o defensor, e a fonte bondosa de disciplina. É o pai que deve liderar, unir e solidificar a unidade da família aceitando o sacerdócio de Deus e respondendo aos chamados e privilégios associados à autoridade do sacerdócio. Seu relacionamento com Deus e Seu Filho Jesus Cristo é um dos faróis que levarão seus filhos e filhas a atravessar os tempestuosos bancos de areia da vida.
Se o pai for um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, então os filhos o seguirão assim como a noite segue o dia. “Papai, você está acordado?”
Segunda: O relacionamento que temos com nossa esposa — mãe deles. Considerando tudo o mais que fazemos, a maneira como tratamos nossa esposa bem pode ter o maior impacto no caráter de nossos filhos. Se um pai for culpado de infligir abuso verbal ou físico em qualquer grau à sua companheira, seus filhos se ressentirão com ele por causa disso, talvez chegando mesmo a desprezá-lo por isso. Mas, é bastante interessante que, quando crescem e se casam, têm a tendência de seguir o mesmo modelo de abuso com sua mulher. Existe, em nossa sociedade, uma necessidade urgente de pais que respeitem sua mulher e tratem-na com amor doce e terno.
Ouvi recentemente falar de um pai, que de maneira tola chamou sua bela e inteligente esposa de “estúpida” e “pateta” de uma forma realmente degradante, devido a um pequeno engano que cometera inocentemente. Os filhos ouviram, embaraçados e amedrontados por causa de sua mãe. Ela havia sido depreciada na frente daqueles a quem mais amava. Embora desculpas e pedidos de perdão tivessem sido expressos, ainda permanecia a ferida e humilhação de um momento insensato.
Não se pode esperar que o Espírito do Senhor abençoe nossa vida se persistirmos em ficar irados, insensíveis e cruéis para com nossa esposa. Não podemos esperar que nossos filhos desenvolvam respeito e gentileza para com a mãe se não fornecermos o exemplo apropriado. O Presidente David O. McKay disse: “A melhor coisa que um pai pode fazer por seus filhos é amar a mãe deles” (citado em Theodore Hesburgh, Reader’s Digest, janeiro de 1963, p. 25; e no Richard Evan’s Quote Book [1971], p. 11) “Papai, você está acordado?”
Terceira: Proporcionar disciplina justa e administrada com amor.É muito comum quando, devido às nossas frustrações e fraqueza levantamos a mão para bater em nossos filhos, geralmente em uma tentativa de proteger nosso próprio orgulho egoísta. Todo filho precisa ser disciplinado. Eles não apenas necessitam sê-lo, mas esperam sê-lo e desejam sê-lo. A disciplina orienta e ensina autocontrole, mas, em toda disciplina deve haver um senso de julgamento justo e amor puro.
Quando eu era um garotinho, minha mãe viúva deu-me o castigo mais severo possível. Ela disse, com lágrimas nos olhos: “Meu filho, estou desapontada com você”. A dor que senti no coração era maior do que eu podia suportar. Uma centena de chibatadas não me teriam ferido tão profundamente. Eu sabia que essa reprimenda só podia ser-me feita por causa de seu amor puro, pois se havia alguma coisa de que eu tinha certeza, era de que minha mãe me amava. Resolvi que nunca mais seria o causador do desapontamento e do coração magoado de uma mãe angelical. Creio que tive sucesso nessa resolução.
Quando se trata de disciplinar, “Papai, você está acordado?”
Pais, é imperativo que os desafios que mencionei sejam dominados em sua vida se queremos que nossos filhos amadureçam espiritual e emocionalmente. Se o fizermos, então eles não terão vergonha de nós, nem jamais terão vergonha de si mesmos. Eles se tornarão homens de honra, respeito, cheios de amor e dispostos a servir o Salvador, submetendo a Ele sua vontade. Eles então se regozijarão no fato de que são nossos para sempre. Eles dirão: “Papai, você está acordado?”
E nós responderemos: “Sim, filho, estou acordado”.
Em nome de Jesus Cristo. Amém.

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