sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Liderar, engajar, planejar ou executar, e agora?

 
Costumo escrever nesta coluna sobre como as pessoas podem transformar a realidade ao seu redor através de mudanças de atitudes, que conduzem a  uma vida profissional e pessoal em equilíbrio. Dessa vez, me foi proposto o desafio de mostrar, na prática, como administro e aplico todos esses conceitos.

Acredito fielmente na possibilidade que cada um de nós tem em deixar um legado. Tanto que escolhi esse tema para explorar em meu último livro. Para deixar um legado é preciso começar mudando a realidade para melhor. Transformar um ciclo vicioso em um ciclo “virtuoso”, ou seja, romper hábitos e padrões negativos e substituí-los por um sistema mais produtivo e eficaz.

Foi durante uma experiência marcante da minha vida que percebi o poder transformador de se romper esse ciclo vicioso. Vivi esse momento decisivo quando fiz parte da equipe de uma multinacional com um ritmo intenso, trabalhava cerca de doze a quinze horas por dia, finais de semana e feriados. Situação que se seguiu até uma véspera de Natal, quando fui convocado para trabalhar até o meio-dia. Fiquei até o horário combinado e, ao me preparar para sair, fui informado de mudanças nos planos e que teria que permanecer na empresa até o final do dia. Só que já tinha assumido compromissos com minha família, saíria da empresa no almoço e seguiriamos viagem para celebrar as festividades. Após ter tentado negociar o problema com meu chefe e não obter resultado algum, decidi ficar com o que era mais importante, isto é, cumprir com meu compromisso familiar. Assim, saí do trabalho no horário inicialmente acertado, mesmo sabendo que isso poderia significar minha demissão. E foi o que aconteceu logo depois.

Agi de acordo com minha consciência e preservei um valor que era, e é, fundamental: a família. O trabalho é importante, mas quando ele não vai de encontro com outros valores fundamentais é preciso fazer uma escolha. Foi uma descoberta que me fez perceber que ater-se aos princípios pode parecer, no momento, a escolha mais difícil, mas é a única que garante nossa paz de espírito, nossa integridade e um sucesso mais sólido e duradouro.      

Tomada essa consciência, outro aspecto que um gestor deve observar para a boa realização das metas de uma organização, é avaliar como anda o seu nível de confiança para com a equipe. Sem confiar, corre-se o risco de reter e acumular compromissos, na crença de que se pode fazer aquilo sozinho. Mas as consequências desse pensamento já são velhas conhecidas como: stress, horas extras no escritório e má qualidade de vida.

Uma solução para promover um ambiente de confiança é, em primeiro lugar observar se ao seu redor existem pessoas que reúnem duas características importantes: caráter e competência. São qualidades que nem sempre estão reunidas, mas que sem elas uma empresa não produz.

Para exemplificar a importância de cada uma, um líder não consegue confiar em um colaborador apenas por ter um bom caráter. Se esse profissional não mostrar competência e eficácia na execução de suas tarefas, seu chefe não confiará a ele projetos importantes e tarefas que precisa delegar. O contrário também causa efeitos significativos, de nada adianta um colaborador ser competente se seus valores não estão alinhados com os da organização.

Passei por uma experiência onde tive de dispensar um funcionário que trazia resultados maravilhoos, mas que infelizmente influenciava negativamente a equipe. Contaminava o ambiente com fofocas, intrigas e reclamações sobre a empresa. Ou seja, era extramemente competente, mas lhe faltava o caráter e a compatibilidade com os valores da organização. Foi um momento onde tive que optar entre os resultados que esse colaborador trazia, ou pelo bom andamento da companhia. Um líder tem de ter coragem para tomar atitudes necessárias.

Uma vez que a empresa consegue reunir profissionais com caráter e competência, seus líderes passam a confiar em seus colaboradores e delegam trabalho. Não se chega a lugar algum sozinho, uma organização é feita de pessoas, ou seja, com a ajuda de todas elas.

Alinhada essa estrutura, partimos para a execução da liderança. Como presidente de uma grande consultoria, a FranklinCovey Brasil, realizo reuniões semanais com os gestores. São encontros com foco na execução dos processos, onde avaliamos o que foi prometido na semana anterior, o que foi realizado, e quais as prioridades para a semana seguinte.

Esses encontros devem reunir no máximo oito pessoas e, se for necessário, divida as equipes em grupos, pois uma reunião com um número maior do que este perde o sentido de análise e discussão.

Procuro manter esse padrão, pois são nessas conversas que meus colaboradores participam ativamente com opiniões, dão feedback de suas ações e, de acordo com o foco da organização, estabelecem as prioridades de cada departamento.

É papel do líder definir uma meta principal para que todos estejam alinhados com esse propósito. Recomendo que sejam no máximo três, para se alcançar determinado objetivo. É preciso caminhar semana a semana para ficar dentro do que se busca para a meta, e também perceber se tudo corre de acordo com o que foi planejado.

Desta maneira, também podemos observar necessidades de realinhamento, afinal, estamos sujeitos a fatores externos que podem mudar os rumos das metas estabelecidas. É preciso ficar atento, pois é o lider quem determina o ritmo da equipe.

Um passo fundamental é se assegurar de que todos estejam cientes e tenham clareza sobre as metas. Uma pesquisa realizada pela FranklinCovey com 150 mil trabalhadores questionou quais eram as principais metas de suas organizações. Cerca de 15% souberam responder. Desses 15%, apenas 40% sabiam o que fazer com relação as metas, e 9% sentiam um alto grau de comprometimento.

Uma organização é composta por pessoas que se relacionam e têm um propósito comum e, por essa razão, é fundamental a clareza nos processos e uma boa comunicação entre líderes e liderados.

Algumas situações estão fora do nosso círculo de influência, como por exemplo, não temos como determinar o índice do dólar - fator que para algumas organizações gera efeitos positivos e para outras negativos. É preciso encarar os imprevistos e tratá-los de acordo com a sua exigencia.

Agora, há situações inesperadas onde o líder pode determinar se ela afetará diretamente, ou não, o andamento do planejamento. Um fato novo no meio acaba por se tornar um imprevisto. Posso dar o seguinte exemplo: uma empresa que está focada nas ações de seus produtos, que já não são poucos, é procurada por uma organização renomada mundialmente para representar o seu negócio no Brasil. É um imprevisto, uma oportunidade que surge fora do contexto programado, e que se for necessário será preciso dizer não.

Tem um ditado que cito sempre em minhas palestras – “Quem muito abraça pouco aperta”. Ou seja, se quisermos fazer tudo ao mesmo tempo, acabamos por não fazer bem o que já estava planejado.

Outra medida fundamental que adotei no papel de líder é a de usar o planejamento como ferramenta para o sucesso dos resultados. E uma forma simples e eficaz de começar a planejar melhor o dia é manter o hábito de usar uma agenda. A melhor  metodologia de planejamento e produtividade pessoal que conheço é a da consultoria FranklinCovey. Eu a utilizo há mais de 13 anos e posso afirmar que essa simples medida ajudou a me organizar e a equilibrar melhor minha vida pessoal e profissional. Ao seguir esse planejamento, foi possível evitar que as coisas importantes se transformem em urgentes.

Além do controle e acompanhamento desses processos, paira sobre o líder a responsabilidade de resolver tudo. No Brasil especialmente, temos essa visão, de que profissionais que ocupam cargos na presidência ou chefia são capazes de resolver todas as situações e, na verdade, não é bem assim. Esse executivo é uma pessoa comum, como qualquer outra, não tem superpoderes. Verdadeiros líderes jamais assumem o papel de messias ou de salvadores porque sabem que para atingir bons resultados dependem do esforço de todos.

O funcionário precisa entender que cumprindo seu papel, vai colaborar com seu chefe e com toda a empresa. Essa cobrança, de líderes perfeitos, muitas vezes é cruel dentro e fora das organizações.

Por lidar com negócios que promovem o ensino sobre produtividade, gerenciamento de tempo e liderança servil  sinto que, de alguma forma, sou “vigiado”, pois tudo o que orientamos e difundimos em nosso dia a dia é esperado de nossos clientes e colaboradores. Essa pressão tem seu lado negativo, mas de certa maneira é uma proteção para que, no papel de líder, me mantenha no trilho certo, no caminho para fazer as coisas da maneira correta.

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