segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Primeira Prece


Na madrugada o homem, sequioso de aventuras, chegou ao deserto de Gila, no Novo México. 

Estacionou o caminhão e iniciou a caminhada de 32 quilômetros, para se encontrar em um acampamento, com seu grupo de alunos. 

O verão era implacável e o sol ardia como fogo. O professor começou a sentir que as botas não eram as ideais para aquele clima. Parou, arejou os pés, colocou outras meias, acelerou o passo, reduziu a marcha. Nada funcionou. 

Ao cair da noite, chegou ao acampamento. Os pés estavam uma chaga viva. Eram bolhas e machucados o que viu quando descalçou as botas. 

Apesar de tudo nada comentou com ninguém. 

Dialogou com os instrutores e com os garotos. A madrugada o surpreendeu em repouso. 

Quando a manhã se fez clara, veio o alarme. Um dos garotos sumira. 

O professor sentiu o peso da responsabilidade, antevendo as ameaças do deserto cruel que o menino iria enfrentar. Calçou as botas outra vez e teve a impressão de estar andando sobre vidro quente. Tropeçou, arrastou os pés. Tentou pensar em algo para se distrair, esquecer a dor. Tudo em vão. 

A dor foi se tornando sempre maior, insuportável. 

Finalmente, ele alcançou a trilha que saía de uns arbustos e seguiu direto ao rio que descia das montanhas, através de sombrios desfiladeiros. 

Ao ver a água, colocou os pés calçados dentro dela. Esperava alívio mas a sensação foi de milhares de agulhadas perfurando-lhe as bolhas. 

Deixou escapar um grito estridente do peito e se jogou na água, por inteiro. A dor aumentou. 

Não havia solução. Ele não conseguia mais andar e onde se encontrava, com certeza demoraria dias para ser encontrado. E o garoto? Era preciso encontrar o garoto. 

Uma idéia tomou vulto em seu cérebro e ele começou a implorar, até sua voz ecoar num brado sempre mais alto: 

Um cavalo. Por piedade. Preciso de um cavalo. 

Depois, como um lamento, colocou toda sua alma na palavra seguinte: 

Jesus! 

E prosseguiu repetindo: 

Jesus. Um cavalo. Jesus. 

Era a primeira vez que orava. 

Um cavalo apareceu. Era real. Não era alucinação. Ele o montou por toda a noite, até encontrar o garoto. 

Cedo, dois vaqueiros procuraram o animal que lhes fugira, não saberiam eles dizer o porquê. 

Mas o professor sabia. Sua prece fora ouvida e atendida. Por isso, emocionado, ali mesmo, pronunciou a segunda prece de sua vida: a prece da gratidão. 

* * * 

A oração deveria fazer parte de nossa vida. 

Orar jamais deveria ser nosso último recurso, mas o primeiro a ser buscado. 

A prece movimenta profundas forças que concorrem para reverter quadros enfermiços, enquanto alimenta com novo vigor a esperança e restabelece o bom ânimo.

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