terça-feira, 13 de novembro de 2012

Liberdade “de” ou Liberdade “para”


F. ENZIO BUSCHE 


dos setentas

“Começamos a sentir-nos vivos ao assumirmos conscientemente a total responsabilidade por nossa própria vida e ao pararmos de culpar as circunstâncias.”
Se me perguntassem qual é, no meu entendimento, o evento mais importante acontecido na Terra nos últimos 200 anos, eu responderia sem hesitar: as conseqüências da oração de um rapaz do campo, que no início do século dezenove, no interior do Estado de Nova York, ajoelhou-se diante de Deus e perguntou-Lhe acerca de verdades eternas.
Esse rapazinho, de nome Joseph Smith, tornou-se, nas mãos do Senhor Jesus Cristo, o instrumento que restaurou ao mundo o conhecimento da verdade perdida há muito tempo e quase esquecida: o conhecimento a respeito de nós, seres humanos — quem somos, de onde viemos, qual o sentido e o propósito de nossa existência terrena e por que a humanidade tem sofrido tanta infelicidade e injustiça. Os questionamentos da humanidade a respeito da vida após a morte e do destino final do homem também acabaram tendo resposta.
Até o dia de hoje, mais de 42 anos desde que aceitei, por livre escolha, fazer o sagrado convênio do batismo do Senhor, ainda permaneço em estado de contemplação diante dos acontecimentos maravilhosos e miraculosos da Restauração. Não só nos foi permitido aprender tudo a respeito da essência do Sacrifício Expiatório do Senhor Jesus Cristo, mas também o significado do sacerdócio de Deus que foi revelado e restaurado para que todos nós pudéssemos agir no sentido de cultivar o amor e a paciência, para levar a efeito a oportunidade de salvação para todos.
O tempo não me permite falar mais a respeito dos detalhes dessa obra maravilhosa de nossos dias, mas sinto-me inspirado a falar sobre um aspecto essencial do reino do Senhor que, se não for compreendido, pode resultar no fato de que a visão de Seu plano não seja adequadamente percebida.
Antes de entrar no assunto, gostaria de falar-lhes sobre um irmão fiel que era membro do mesmo ramo que eu em minha terra natal, a Alemanha, nos primeiros anos de minha filiação à Igreja.
Era uma pessoa de condição modesta e sentia-se muito abençoado por estar começando a trabalhar numa pequena empresa particular. Contou-me que em breve haveria um evento e que todos os empregados haviam sido convidados a participar de um jantar tradicional da companhia.
Ele estava preocupado porque sabia da grande festa da cerveja que aconteceria no final da reunião, e seu chefe seria muito provavelmente o maior bebedor de cerveja entre todos os presentes. Tinha consciência também de que seria muito indelicado de sua parte se não comparecesse ao jantar.
Quando o encontrei novamente, passado o evento do jantar, vi nele um brilho e felicidade interior, e ele mal podia esperar para contar-me o que havia acontecido. Por ele ser novo na empresa, seu chefe havia-se sentado bem ao seu lado, para conhecê-lo melhor. À medida que as horas passavam, os piores temores desse irmão iam-se confirmando, pois o chefe não iria aceitar que o novo funcionário não bebesse com ele. Ele disse: “Que tipo de igreja é essa que não lhe permite beber um único copo de cerveja comigo”?
Os temores desse amigo não se transformaram em pânico porque ele teve calma suficiente para responder ao chefe que a razão de ele não estar bebendo não tinha nada a ver com a Igreja à qual pertencia, mas que ele mesmo havia feito uma promessa sagrada a Deus de que não beberia. Se ele porventura quebrasse essa promessa, como permaneceria fiel às coisas que viria a prometer e como as pessoas, até mesmo o seu patrão, poderiam acreditar que não mentiria, roubaria ou seria desonesto?
Segundo afirmou meu amigo, o dono da empresa ficou muito impressionado com suas afirmações e abraçou-o, dizendo palavras de respeitosa admiração e confiança.
Meus queridos irmãos e irmãs, na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, muitos membros novos, principalmente aqueles que vêm de fora dos Estados Unidos, aprendem pela primeira vez o verdadeiro significado da palavra “liberdade”. Liberdade, para a maior parte das pessoas do mundo, significa “liberdade de” — a ausência de malignidade, dor ou repressão. Mas o sentido que Deus dá à “liberdade”, ao referir-Se a nós, vai muito além disso. Ele quer dizer “liberdade para” — a liberdade para agir na dignidade de nossa própria escolha.
Então, o que significa ser livre? Liberdade quer dizer ter maturidade para o pleno conhecimento do perigo das inúmeras responsabilidades que temos como seres humanos. Aprendemos que tudo o que fazemos, ou até dizemos ou pensamos, tem conseqüências. Vemos que por muito tempo acreditamos ser vítimas das circunstâncias. No evangelho de João 8:32, lemos o seguinte:
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
Ao abrirmos o coração para a mensagem da verdade de Deus, conforme restaurada em nossos dias, começamos a compreender porque existiu e ainda existe tanta infelicidade, dor, sofrimento e até fome. À medida que aprendermos a aceitar a verdade revelada em nossa própria vida, a nossa fé no Filho vivo de Deus irá crescer e, portanto, receberemos dons espirituais e aptidões até o momento desconhecidas. Aprenderemos que nada é impossível para aqueles que crêem em Jesus Cristo. Limitações irreais serão eliminadas. O pensamento obtuso, decorrente das tragédias que são as falsas tradições, desaparecerá.
Quanto mais o nosso entendimento da vastidão e da plenitude do plano de salvação for desenvolvido, mais nos enxergaremos em nossa insignificância e imperfeição. E ao nos vermos nessa condição de humildade, com o coração quebrantado e o espírito contrito, compreenderemos e finalmente aceitaremos esse sacratíssimo convênio feito com o Pai Celestial, sob a forma do batismo.
Nós nos submeteremos cheios de alegria a esse convênio, sabendo que existe uma grande diferença entre o mero desejo e o convênio. Quando simplesmente desejamos algo, somente esforçamo-nos para consegui-lo quando nos convém. Mas quando chegamos ao ponto de fazer um convênio sagrado, como o batismo, aprendemos a superar todos os obstáculos por meio da obediência e, ao fazê-lo, somos abençoados com a presença do Espírito e, por conseguinte, com realizações. Começamos a sentir-nos vivos ao assumirmos conscientemente a total responsabilidade por nossa própria vida e ao pararmos de culpar as circunstâncias.
Uma coisa, porém, é certa: ter “liberdade para” significa também que temos o potencial para fazer escolhas erradas. As escolhas erradas têm conseqüências impiedosas e, quando não são contidas e corrigidas, nos conduzem à infelicidade e à dor. As escolhas erradas, quando não são corrigidas, nos conduzem ao último desastre possível na vida: ficar longe de nosso Pai Celestial no mundo vindouro.
Ao recebermos essa mensagem vivificante, começamos a entender que em nossa existência anterior, éramos como um jogador de futebol parado no meio do campo, totalmente desanimado por não saber o propósito e as regras do jogo. Não sabíamos a qual equipe pertencíamos e nem mesmo quem era o nosso técnico. Só por meio do conhecimento do evangelho restaurado é que o nosso objetivo fica claro e compreendemos que Jesus Cristo e Sua Igreja e sacerdócio restaurados são o único meio de alcançarmos êxito em nossa experiência terrena.
Jesus Cristo deseja dar vigor à nossa vida de acordo com as nossas escolhas em retidão, de modo que, por meio de nossa fé e nossas obras, as circunstâncias de que éramos prisioneiros no passado acabarão modificando-se. No Livro de Mórmon aprendemos que o Redentor controla nossa vida, junto com uma multidão de anjos. Lemos:
“… cessaram os milagres? Eis que vos digo que não; tampouco os anjos cessaram de ministrar entre os filhos dos homens. Pois eis que a ele estão sujeitos, para ministrarem de acordo com a palavra de sua ordem, manifestando-se aos que têm uma fé vigorosa ….” (Morôni 7:29–30)
Nesta liberdade que recebemos em nossos dias, por meio de nosso entendimento de Seu plano divino para nós, assumimos inteiramente a nossa responsabilidade. Que sempre fiquemos perto da mão amorosa e cuidadosa de nosso Redentor e Salvador para termos segurança e felicidade. Digo isso com profunda humildade. E presto-lhe o meu testemunho, como irmão e servo, de que Jesus vive e de que Ele está à frente nesta obra. Isso eu digo em nome de Jesus. Amém.

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