domingo, 4 de novembro de 2012

CAPÍTULO 35 LEI 35




DOMINE A ARTE DE SABER O TEMPO CERTO


Jamais demonstre estar com pressa – a pressa atrai a falta de controle de si mesmo, e do tempo. Mostre-se sempre paciente, como se soubesse que tudo acabará chegando até você. Torne-se um detetive do momento certo; fareje o espírito dos tempos, as tendências que o levarão ao poder. Aprenda a despertar quando ainda não é hora, e atacar ferozmente quando for propício.

CAPÍTULO 34 LEI 34



SEJA ARISTOCRÁTICO AO SEU PRÓPRIO MODO: AJA COMO UM REI PARA SER TRATADO COMO TAL


A maneira como você se comporta em geral determina como você é tratado: a longo prazo, aparentando ser vulgar ou comum, você fará com que as pessoas o desrespeitem. Pois um rei respeita a si próprio e inspira nos outros o mesmo sentimento. Agindo com realeza e confiança nos seus poderes, você se mostra destinado a usar uma coroa.

CAPÍTULO 33 LEI 33


DESCUBRA O PONTO FRACO DE CADA UM


Todo mundo tem um ponto fraco, uma brecha no muro do castelo. Essa fraqueza em geral é uma insegurança, uma emoção ou necessidade incontrolável; pode também ser um pequeno prazer secreto. Seja como for, uma vez encontrado esse ponto nevrálgico, é ali que você deve apertar.

CAPÍTULO 32 LEI 32


DESPERTE A FANTASIA DAS PESSOAS


Em geral evita-se a verdade porque ela é feia e desagradável. Não apele para o que é verdadeiro ou real se não estiver preparado para enfrentar a raiva que vem com o desencanto. A vida é tão dura e angustiante que as pessoas capazes de criar romances ou invocar fantasias são como oásis no meio do deserto: todos correm até lá. Há um enorme poder em despertar a fantasia das pessoas.
Tal é o poder das fantasias que tomam conta de nós, especialmente em épocas de escassez e declínio. As pessoas raramente acreditam que a origem dos seus problemas é a sua própria iniqüidade e estupidez. A culpa é sempre de alguém ou alguma coisa externa — o outro, o mundo, os deuses —e, portanto, a salvação também vem de fora.
Para conquistar o poder, você tem de ser fonte de prazer para as pessoas que o cercam — e o prazer vem de brincar com as fantasias dessas pessoas. Não lhes prometa uma melhoria gradual por meio do trabalho árduo; pelo contrário, prometa-lhes a lua, a grande e súbita transformação, o pote de ouro.
A fantasia não atua sozinha. Ela exige a rotina como pano de fundo. É a opressão da realidade que permite à fantasia enraizar-se e florescer. Na Veneza do século XVI, a realidade era o declínio e a perda de prestígio. A fantasia correspondente descrevia uma súbita recuperação das glórias passadas através do milagre da alquimia.
Quem consegue tecer com os fios da dura realidade uma fantasia tem acesso a poderes incalculáveis. Na busca pela fantasia que vai dominar as massas, portanto, fique de olho nas trivialidades que pesam tanto sobre todos nós. Não se distraia com os retratos glamourosos que as pessoas fazem de si mesmas e das suas vidas; pesquise o que realmente as aprisiona. Uma vez descobrindo isso, você tem a chave mágica que colocará em suas mãos um grande poder.
Embora os tempos e as pessoas mudem, vamos examinar algumas das realidades opressivas que não mudam, e as oportunidades de poder que elas proporcionam:
- A Realidade: A mudança é lenta e gradual. Exige muito trabalho, um pouco de sorte, uma quantidade razoável de sacrifício pessoal e muita paciência.
- A Fantasia: Uma transformação repentina provocará uma mudança total no destino de uma pessoa, evitando o trabalho, a sorte, o sacrifício pessoal e a demora de um só golpe fantástico.
Esta é a fantasia por excelência dos charlatões que até hoje ficam nos rondando. Prometa uma grande e radical mudança — da pobreza para a riqueza, da doença para a saúde, da miséria para o êxtase — e você terá seguidores.
O que fez o grande trambiqueiro alemão do século XVI, Leonhard Thurneisser, para se tornar médico da corte do príncipe de Brandenburgo sem nunca ter estudado medicina? Em vez de receitar amputações, ventosas e purgativos de gosto ruim (medicamentos da época), Thurneisser oferecia elixires adocicados e prometia recuperação imediata. Os cortesãos sofisticados, especialmente, queriam a sua solução de “ouro potável” que custava uma fortuna. Se você fosse atacado por uma doença inexplicável, Thurneisser consultava um horóscopo e receitava um talismã. Quem resistia a essa fantasia — riqueza e bem-estar sem dor nem sacrifícios!
- A Realidade: A sociedade tem códigos e limites bem definidos. Nós compreendemos estes limites e sabemos que temos que nos mover dentro dos mesmos círculos familiares, dia e noite.
- A Fantasia: Podemos entrar num mundo totalmente novo, de códigos diferentes e com a promessa de aventuras.
No início do século XVIII, toda a Londres se alvoroçou com os boatos sobre um estranho misterioso, um jovem chamado George Psalmanazar. Ele acabara de chegar de uma terra que a maioria dos ingleses julgava fantástica: a ilha de Formosa (hoje Taiwan), na costa da China. A Universidade de Oxford contratou Psalmanazar para ensinar a língua que se falava naquela ilha; alguns anos depois ele traduziu a Bíblia e, em seguida, escreveu um livro — que se tomou logo um best -seller — sobre a história e a geografia de Formosa. A realeza inglesa recebia prodigamente o jovem e ele, onde quer que fosse, divertia seus anfitriões com histórias maravilhosas sobre a sua terra natal e seus costumes bizarros.
Quando Psalmanazar morreu, entretanto, seu testamento revelou que ele era apenas um francês com uma fértil imaginação. Tudo que ele contara sobre Formosa — seu alfabeto, seu idioma, sua literatura, toda a sua cultura — era invenção sua. Ele se baseou na ignorância de seus ouvintes para inventar uma complicada história que satisfazia um desejo pelo que era estranho e exótico. O rígido controle da cultura britânica sobre os perigosos sonhos das pessoas lhe deu uma oportunidade ótima para explorar as suas fantasias.
A fantasia com o exótico, é claro, passa também pela fantasia sexual. Mas não precisa chegar muito perto, porque o físico perturba o poder da fantasia; ele pode ser visto, agarrado, e depois se toma cansativo — o destino da maioria dos cortesãos. Os encantos físicos da amante só despertam o apetite do seu senhor por prazeres diferentes, é uma nova beleza a ser adorada. Para dar poder, a fantasia deve permanecer até certo ponto irrealizada, literalmente irreal. A dançarina Mata Hari, por exemplo, que ficou famosa em Paris antes da Primeira Guerra Mundial, tinha uma aparência bastante comum. Seu poder vinha da fantasia que ela criou sobre si mesma, como uma mulher exótica e estranha, impenetrável e indecifrável. O tabu com que ela operava não era tanto o sexo em si, mas o desrespeito aos códigos sociais.
Outra forma de fantasia com o exótico é simplesmente a esperança de alívio para o tédio. Os charlatões adoram brincar com a opressão do mundo do trabalho, com a sua falta de aventura. Suas trapaças envolvem, digamos, a recuperação do tesouro espanhol, com a possível participação de uma atraente señorita mexicana e uma conexão com o presidente de um país sul-americano — qualquer coisa que ofereça um alívio para a rotina.
- A Realidade: A sociedade é fragmentada e cheia de conflitos.
- A Fantasia: As pessoas podem se juntar numa união mística de almas.
Na década de 1920, o trapaceiro Oscar Hartzell ficou rico de repente com o velho truque de Sir Francis Drake — que prometia basicamente a qualquer otário que tivesse o sobrenome “Drake” uma boa parte do desaparecido “tesouro de Drake”, ao qual Hartzell tinha acesso. Milhares de pessoas de todo o Meio-Oeste caíram no logro, que Hartzell espertamente transformou numa cruzada contra o governo e todos que tentassem impedir que a fortuna de Drake chegasse às mãos de seus legítimos herdeiros. Criou-se uma união mística dos oprimidos Drake, com encontros e comícios exaltados. Prometa uma união desse tipo e você conquistará muito poder, mas é um poder perigoso que pode se voltar facilmente contra você. Esta é uma fantasia para demagogos.
- A Realidade: Morte. Os mortos não voltam, não se muda o passado.
- A Fantasia: Uma súbita inversão deste fato intolerável.
Esta trapaça tem muitas variações, mas exige grande habilidade e sutileza.
Há muito tempo que se reconhece a beleza e a importância da arte de Vermeer, mas seus quadros são poucos, e extremamente raros. Na década de 1930, entretanto, começaram a surgir Vermeer no mercado de arte. Chamaram especialistas para conferir, e eles garantiram que eram autênticos. Possuir um destes novos Vermeer seria o auge da carreira de um colecionador. Era como a ressurreição de Lázaro: curiosamente, Vermeer tinha ressuscitado. Alterou-se o passado.
Só mais tarde se soube que os novos Vermeer eram obra de um falsário holandês de meia-idade, um tal Han van Meegeren. E ele tinha escolhido Vermeer porque compreendeu o mecanismo da fantasia: os quadros pareceriam reais exatamente porque o público e os especialistas também queriam muito acreditar que eram.
Lembre-se: a chave para a fantasia é a distância. O que está distante fascina e promete, parece simples e sem problemas. O que você está oferecendo, portanto, deve ser inalcançável. Não deixe que se torne opressivamente familiar; é a miragem lá longe, que vai se afastando conforme o tolo se aproxima. Não seja muito objetivo ao descrever a fantasia — mantenha-a indefinida. Como um forjador de fantasias, deixe a vítima se aproximar o bastante para ver e se sentir tentada, mantendo-a porém afastada o suficiente para continuar sonhando e desejando.

A mentira é um feitiço, uma invenção, que pode ser ornamentada como uma fantasia. Pode estar revestida com idéias místicas. A verdade é fria, sóbria, não tão confortável de se assimilar. A mentira é mais apetitosa. A pessoa mais detestável do mundo é a que sempre fala a verdade, nunca romanceia... Eu acho sempre mais interessante e lucrativo romancear do que dizer a verdade.
Joseph Weil vulgo “The Yellow Kid”, 1875-1976

O FUNERAL DA LEOA
Tendo o leão perdido subitamente a sua rainha, todos se apressaram a mostrar fidelidade ao monarca oferecendo-lhe consolo. Mas infelizmente esses cumprimentos só esta vem deixando o viúvo mais aflito. Noticiou-se por todo o reino a hora e o lugar do funeral, os oficiais receberam ordem para ficar de prontidão, dirigir a cerimônia e distribuir as pessoas segundo seus respectivos lugares na sociedade. Pode-se bem imaginar que não faltou ninguém. O monarca deu vazão à sua tristeza e toda a caverna, visto que leões não têm outros templos, ressoava com seus lamentos. Seguindo o seu exemplo, todos os cortesãos rugiram, em seus diferentes tons. A corte é um lugar onde todos ficam tristes, alegres ou indiferentes de acordo com o príncipe reinante; ou, se alguém não se sente assim, pelo menos tenta parecer que sente; todos procuram imitar o senhor. Diz-se que uma só cabeça anima milhares de corpos, mostrando nitidamente que os seres humanos não passam de máquinas. Mas voltemos ao nosso assunto. Só o veado não chorava. Como ele era capuz disso, realmente? A morte da rainha era uma desforra pura ele; ela havia estrangulado a sua esposa e o seu filho. Um cortesão achou justo contar ao consternado monarca, e até afirmou ter visto o veado rir. A ira de um rei, diz Salomão, é terrível, principalmente a de um rei-leão. “Miserável forasteiro!” Exclamou, “ousas rir quando todos a sua volta se desfazem em lágrimas? Não sujaremos nossas garras reais com teu sangue profano! Vingarás, bravo lobo, a nossa rainha imolando esse traidor a sua augusta alma?” Ao que o veado respondeu: ‘Senhor, já não é mais hora de chorar, a tristeza aqui é supérflua. Vossa reverenciada esposa acabou de aparecer para mim repousando sobre um leito de rosas; eu a reconheci instantaneamente. ‘Amigo’. ela me disse, termine essa pompa fúnebre, faça cessar essas lágrimas inúteis. Provei milhares de delícias nos campos Elísios, conversando com santos como eu. Deixe que o desespero do rei permaneça por uns tempos incontido, ele me gratifica." Mal ele havia falado, quando alguém gritou: “Um milagre! Um milagre!” O veado, em vez de ser punido, recebeu um belo presente. Deixe que o rei sonhe, teça-lhe elogios, e conte-lhe algumas mentiras agradáveis e fantásticas: por mais indignado que ele esteja com você, engolirá a isca e fará de você o seu melhor amigo.
FÁBULAS, JEAN DE LA FONTAINE. 1621-1695

Se quiser contar mentiras que pareçam verídicas, não conte a verdade na qual ninguém vai acreditar.
IMPERADOR TOKUGAWA IEYASU DO JAPÃO,
SÉCULO XVII

Nenhum homem precisa se desesperar para convencer os outros das suas hipóteses mais extravagantes se tiver arte suficiente para apresentá-las em cores favoráveis.
David Hume, 1711-1 776

O INVERSO
Se há poder em despertar as fantasias das massas, também há riscos. A fantasia em geral tem um componente de jogo - o público percebe mais ou menos que está sendo enganado, mesmo assim alimenta o sonho, se diverte e aprecia o afastamento temporário da rotina que você está lhe proporcionando. Portanto, não exagere - não se aproxime demais do ponto onde se espera que você produza resultados. Esse lugar pode ser extremamente arriscado.
Uma última coisa: não cometa, jamais, o erro de achar que a fantasia é sempre fantástica. Ela sem dúvida contrasta com a realidade, mas a própria realidade é às vezes tão teatral e estilizada que a fantasia se torna um desejo por coisas simples. A imagem que Abraham Lincoln criou para si mesmo, por exemplo, como um simples advogado provinciano barbudo, fez dele o presidente do povo.
P. T. Barnum criou um ato de grande sucesso com Tom Thumb, um anão travestido de líderes famosos do passado, como Napoleão, e os satirizava maldosamente. O espetáculo agradava a todos, até a rainha Vitória, porque apelava para a fantasia da época: basta com os vaidosos governantes da história, o homem comum é que sabe das coisas. Tom Thumb inverteu o modelo familiar de fantasia em que o ideal é o que é estranho e desconhecido. Mas o ato continuava obedecendo à Lei, pois a base era a fantasia de que o homem simples não tem problemas, e é mais feliz do que o rico e poderoso.
Tanto Lincoln quanto Tom Thumb representaram o plebeu que se mantinha cuidadosamente à distância. Se você jogar com essa fantasia, deve também ter o cuidado de cultivar o distanciamento e não deixar que a sua persona “plebéia” se torne familiar demais, ou não se projetará como fantasia.

CAPÍTULO 31 LEI 31



CONTROLE AS OPÇÕES: QUEM DÁ AS CARTAS É VOCÊ


As melhores trapaças são as que parecem deixar ao outro uma opção: suas vítimas acham que estão no controle, mas na verdade são suas marionetes. Dê às pessoas opções que sempre resultem favoráveis a você. Force-as a escolher entre o menor de dois males, ambos atendendo a seu propósito. Coloque-as num dilema: não terão escapatória.
Palavras como “liberdade”, “opções” e ‘escolha” evocam possibilidades muito além dos seus reais benefícios. Examinando bem, as nossas opções —no mercado, nas urnas, rios empregos — tendem a ser incrivelmente limitadas: quase sempre trata-se de escolher entre A e B, o resto do alfabeto não entra. No entanto, se houver a mais leve miragem de opção lá longe, raramente tentamos ver as que faltam. Nós “escolhemos” acreditar que o jogo é limpo, e que mantemos a nossa liberdade. Preferimos não pensar muito no alcance da nossa liberdade de escolha.
Essa falta de vontade de sondar a limitação das nossas opções vem do fato de que liberdade em excesso gera ansiedade. A frase “opções ilimitadas” soa infinitamente promissora, mas na verdade as opções ilimitadas nos deixariam paralisados e perturbariam a nossa capacidade de optar. O nosso leque reduzido de opções é confortável.
Com isso, o esperto e o ardiloso ganham enormes oportunidades para trapacear. Quem está escolhendo entre duas alternativas acha difícil acreditar que está sendo manipulado ou enganado; não vê que você está lhe permitindo uma pequena porção de livre-arbítrio em troca da imposição muito mais forte do seu próprio arbítrio. Definir um leque estreito de opções, portanto, deve sempre fazer parte das suas trapaças. Existe um ditado: O pássaro que entra na gaiola por sua livre vontade canta melhor. Estas são algumas das formas mais comuns de “controle de opções”:
Disfarce as Opções. A técnica preferida de Henry Kissinger. Como secretário de Estado do presidente Richard Nixon, Kissinger se considerava mais bem informado do que o seu chefe, e acreditava que na maioria das situações era capaz de decidir melhor sozinho. Mas, se tentasse determinar a política, ofenderia ou quem sabe irritaria um homem notoriamente inseguro. Assim, Kissinger sugeria três ou quatro opções de ação para cada situação, e as apresentava de tal forma que a sua preferida sempre parecia ser a melhor comparada com as outras. Seguidas vezes, Nixon mordeu a isca, jamais desconfiando que estava sendo induzido por Kissinger. Era um artifício excelente para usar com o mestre inseguro.
Force o Resistente. Um dos principais problemas enfrentados pelo Dr. Milton H. Erickson, pioneiro da terapia pela hipnose na década de 1950, era a recaída. Seus pacientes pareciam estar se recuperando rapidamente, mas a aparente suscetibilidade à terapia mascarava uma profunda resistência: eles voltavam logo aos hábitos antigos, culpavam o médico e não o procuravam mais. Para evitar isso, Erickson começou a mandar que alguns pacientes tivessem uma recaída, que começassem a se sentir tão mal quanto na hora em que vieram procurá-lo — que voltassem para a estaca zero. Diante desta opção, os pacientes em geral “escolhiam” evitar a recaída — o que, é claro, era exatamente o que Erickson queria.
Esta é uma boa técnica para usar com crianças e outras pessoas voluntariosas que gostam de ser do contra: force-as a “escolher” o que você quer que elas façam, aparentando preferir o contrário.
Altere o Tabuleiro do Jogo. Na década de 1860, John D. Rockefeller decidiu criar um monopólio do petróleo. Se ele tentasse comprar as empresas menores, iam saber o que ele estava fazendo e reagiriam. Em vez disso, ele começou comprando secretamente as companhias de estradas de ferro que transportavam petróleo. Mais tarde, quando tentava comprar uma determinada empresa e encontrava resistência, ele lembrava que ela dependia das linhas de trem. Recusando-se a fazer o transporte, ou simplesmente aumentando as taxas, ele poderia arruinar o negócio deles. Rockefeller alterou o tabuleiro do jogo de tal forma que aos pequenos produtores de petróleo só restaram as opções que ele lhes oferecia.
Nesta tática, seus adversários sabem que estão sendo forçados, mas não importa. A técnica funciona com aqueles que resistem a qualquer custo.
Opções Reduzidas. O marchand do século XIX, Ambroise Vollard, aperfeiçoou esta técnica.
Os clientes vinham à loja de Vollard ver alguns Cézannes. Ele mostrava três quadros, esquecia de dizer o preço e fingia cochilar. Os visitantes tinham de sair sem ter decidido nada. Em geral voltavam no dia seguinte para ver os quadros novamente, mas aí Vollard mostrava obras menos interessantes, fingindo achar que eram as mesmas da véspera. Os clientes desconcertados examinavam as novas ofertas, e iam embora para pensar melhor e voltar depois. Mais uma vez a cena se repetia: Vollard mostrava quadros de qualidade ainda mais inferior. Finalmente os compradores percebiam que era melhor pegar o que ele estava mostrando porque amanhã poderiam ter de se satisfazer com algo pior, talvez até mais caro.
Uma variação desta técnica é elevar o preço todas as vezes que o comprador hesitar, adiando a decisão para o dia seguinte. E uma excelente tática de negociação com os indecisos crônicos, que vão achar que é melhor comprar hoje do que esperar até amanhã.
O Homem Fraco à Beira do Precipício. Os fracos são os mais fáceis de manobrar controlando suas opções. O cardeal de Retz, o grande agitador do século XVII, serviu como assistente extra-oficial do duque de Orleans, que era notoriamente indeciso. Era uma luta constante tentar convencer o duque a agir — ele hesitava, pesava as opções e aguardava até o último momento, provocando úlceras nas pessoas que viviam a sua volta. Mas Retz descobriu um jeito de lidar com ele: descrevia todos os tipos de perigos, exagerando-os ao máximo, até que o duque visse abismos se abrindo em todas as direções exceto uma: a que Retz o estava forçando a seguir.
Esta tática é semelhante à de “Disfarçar as Opções”, mas com os fracos você precisa ser mais agressivo. Trabalhe com as emoções deles — use o medo e o terror para forçá-los a tomar uma atitude. Tente a razão e eles sempre encontrarão um jeito de deixar para depois.
Irmãos no Crime. Esta é uma técnica tradicional de trambicagem: você atrai suas vítimas para algum esquema criminoso, criando entre vocês um vínculo de sangue e culpa. Eles participam da sua fraude, cometem um crime (ou acham que cometem), e são facilmente manipulados. Serge Stavisky, o grande trambiqueiro francês da década de 1920, envolveu o governo de tal forma nas suas fraudes e trapaças que o Estado não ousou processá-lo e “escolheu” deixá-lo em paz. E mais sensato envolver nas suas fraudes aquela pessoa que mais poderá prejudicá-lo se você falhar. Esse envolvimento pode ser sutil — a simples suposição de estarem envolvidos estreitará suas opções e comprará o seu silêncio.
As Garras de um Dilema. Esta idéia foi demonstrada na famosa marcha sobre a Georgia do general William Sherman, durante a Guerra Civil Americana. Embora os confederados soubessem em que direção Sherman estava indo, eles nunca sabiam se ele atacaria pela direita ou pela esquerda, pois ele dividia seus exércitos em duas alas — e, desviando-se de uma, eles enfrentavam a outra. Esta é uma técnica clássica usada pelos advogados nos julgamentos: o advogado leva as testemunhas a decidir entre duas explicações possíveis para o que aconteceu, ambas fragilizando a sua história. Elas têm de responder às perguntas do advogado, mas tudo que dizem as incrimina. A chave para este movimento é atacar rapidamente: não deixar que a vítima tenha tempo para pensar numa escapatória. Enquanto tentam resolver o dilema, cavam o próprio túmulo.

Compreenda: Na luta contra os seus rivais, em geral é necessário que você os magoe. Se você for nitidamente o agente da punição deles, espere um contra-ataque — espere a vingança. Se, no entanto, eles acharem que são eles mesmos os agentes do seu próprio infortúnio, vão se submeter quietos. Quando Ivan, o Terrível, trocou Moscou por uma cidadezinha no campo, os cidadãos que lhe pediram para voltar concordaram com sua exigência de poder absoluto. No futuro, eles se ressentiram menos com o terror que ele desencadeou por todo país, porque, afinal de contas, eles é que lhe tinham dado esse poder. Por isso, é sempre bom deixar que a vítima escolha o veneno, e dissimular ao máximo que é você quem está lhe oferecendo. Pois as feridas e todos os outros males que os homens infligem a si próprios espontaneamente, e por sua livre escolha, são a longo prazo menos dolorosos do que os infligidos por outras pessoas.
Nicolau Maquiavel, 1469-1527

O MENTIROSO
Era uma vez, na Arménia, um rei que, sentindo-se num estranho estado de espírito e precisando se divertir um pouco, enviou arautos por todo reino proclamando o seguinte: "Ouçam todos! Aquele que provar ser o maior mentiroso da Armênia receberá uma maçã de ouro das mãos de Sua Majestade, o Rei!” Gente de todas as cidades e aldeias, de todos os níveis e condições, príncipes, mercadores, fazendeiros, sacerdotes, ricos e pobres, altos e baixos, gordos e magros vieram em multidão ao palácio. Não faltavam mentirosos naquela terra, e cada um contou a sua mentira ao rei. Governantes, entretanto, estão acostumados contra todos 05 tipos de mentira, e nenhuma daquelas convenceu o rei de que era a melhor. Ele começou a se cansar com este povo esporte e já estava pensando em cancelar a competição sem declarar um vencedor, quando apareceu diante dele um homem pobre esfarrapado, carregando debaixo do braço uma grande ânfora de barro. “O que posso fazer por você?”, perguntou Sua Majestade. "Senhor!" disse o homem, ligeiramente espantado. "Sem dúvida, não se recorda? Deve-me um pote de ouro e vim pegá-lo" "Você é um grande mentiroso!" exclamou o rei. “Não lhe devo nada!” "Um grande mentiroso, eu sou?”, disse o homem pobre. “Então me dê a maçã de ouro!". O rei, percebendo que o homem estava tentando lhe passar a perna, "Não, não! Você não é mentiroso!” "Então. me dê o pote de ouro que me deve, senhor" disse o homem. O rei se viu num dilema, e lhe entregou a maçã de ouro.
CONTOS E FÁBULAS DO FOLCLORE ARMÊNIO-CHARLES DOWNING, 1993

O INVERSO
O controle das opções tem um só propósito: despistá-lo como agente de poder e punição. A tática funciona melhor, portanto, com aqueles cujo poder é frágil, que são incapazes de agir abertamente sem despertar suspeitas, ressentimento e raiva. Até como regra geral, raramente é sensato ser visto exercendo o poder de maneira direta e prepotente, não importa o quanto você seja seguro ou importante.
 Por outro lado, ao limitar as opções dos outros você às vezes limita as suas. Há situações em que é mais vantajoso deixar seus rivais com mais liberdade: vendo-os agir, você tem ótimas oportunidades para espionar, reunir informações e planejar suas fraudes. Um banqueiro do século XIX, James Rothschild, gostava deste método: ele sabia que se tentasse controlar os movimentos dos adversários perderia a chance de observar as suas estratégias e planejar uma ação mais eficaz. Quanto mais liberdade ele lhes dava a curto prazo, mais poderia impor a sua vontade a longo prazo.