Por que sou obrigado a ver e conviver com essa degradação humana, com essa onda de insensatez, com essa total inversão de valores, com esse ódio que cada qual abraçou pelo seu semelhante, visto que só o hoje é o que vale, só o "eu" é importante? Que mundo é este? Que espécie de convívio degradante o bicho homem escolheu para usufruir da dádiva de "viver"?
Encolhido em sua casca, numa total ausência de coragem, numa aceitação tácita dos vícios que corrompem a sociedade e diretamente o atinge, o homem não reage, não luta, entregue ao poder cego que constrói seus alicerces sob o manto de uma justiça falida e inoperante, porque o povo preferiu, na sua santa imbecilidade, achar que apenas Deus deve operar o milagre da transformação. Por certo, esse aí não é o "meu Deus". O "meu Deus" deu-me de presente, toda a capacidade de raciocínio, as opções de escolha, os instrumentos para que eu desfrutasse da maravilha que poderia ser o convívio humano. O "meu Deus" faz milagres em mim quando enfraqueço, mas tenho certeza de que espera de mim, no mínimo, que eu percorra os caminhos do bem e da verdade.
E me vejo perdidO num mundo do qual não consigo fazer parte, não porque não queira, mas porque o cansaço me domina, as decepções me angustiam, a passividade que se generaliza está estendendo as garras sobre mim fazendo-me pensar que nada posso, que nada fiz, que nada faço. Pior ainda, que "nada mais poderei fazer"... Chegou o momento de que necessito de um milagre. Já não tenho mais ousadia na voz, o frescor da juventude, a força dos braços para sustentar um cajado. Restou-me a palavra escrita que se alia à vontade de acabar com esses desvios que estão nos levando a um fim trágico. Mas, o que são palavras, para a maioria pacífica e inoperante? Frutos do pensamento que não se adéqua à modernidade? Desabafos resultantes de desgastes emocionais? Falta-me pouco para ser chamada de louca, ou de "burra" talvez, visto que a maioria não está "nem aí para nada". No entanto, não morreu em mim o desejo de tentar, e tentar, e tentar... Não sei o quanto ainda posso, só sei que posso. Portanto, você aí que me lê, não pense que quero mudá-lo. O que eu desejo somente é que você "PENSE", que procure entender a gravidade de se enxergar tudo isso como NORMAL. E lembre-se que o que digo a você é o mesmo que estou dizendo a mim, porque somos iguais, perambulando no meio dessa massificação que, na maioria das vezes, nos torna cegos, mudos e inoperantes.
Você, homem, tão voltado para o seu luxo e conforto, faz do emprego e da luta pela subsistência, pelo "mais", por tudo o que a matéria lhe proporciona de prazer, uma verdadeira obsessão. Esquece a sua base, a sua esposa, os seus parentes, os seus amigos. Esquece que eles precisam da sua atenção, do seu amor, da sua presença, da sua constância, do seu exemplo, muito mais dos que os reais que você lhes oferece no final do mês. Claro que todos precisam disto, mas não como objetivo único, como se dele dependesse todos os demais. E você, que fala tanto em ser feliz, esquece que a felicidade é um estado de espírito e que, estado de espírito só se fortalece quando for alimentado com o amor e o amor implica em doação. Se você se doa somente ao trabalho (que é apenas uma das necessidades do ser humano) que tipo de felicidade pode dar a si mesmo? Você, que fica tão emocionado ao tomar nos braços o seu primeiro filho, desconhece que essa emoção precisa "continuar" através de demonstrações, não só de presentes, mas pelo fortalecimento desse laço, dessa união. Esquece que a sua presença é "marcante" e imprescindível? Esquece que esses laços precisam ser fortes para formar sua prole consciente para não se deixar levar por essa turba social inconseqüente, para que não se perca no caminho, para que não se junte a esse bando de despreparados que caminha para um fim trágico que ninguém deseja, mas também nada faz para impedir? Você, na ânsia de ser feliz, esquece toda a sua vida, o seu lugar, a sua "construção" e se entrega a qualquer paixão como se felicidade fosse apenas um prazer momentâneo. E vai amargar o desgosto depois. Algum imbecil disse uma vez que não haverá problema algum para os filhos de pais separados e os "interessados" aplaudiram porque era de seu interesse. Virou moda. O conveniente gritou mais alto que a verdade. Basta observar. Olhe ao redor, confira. Olhe lá dentro de você. Pergunte-se? Encontre soluções.
Você, mulher, que tanto lutou pela sua "independência", "sua igualdade", sua legitimidade como cidadã, sua atuação na vida pública, por acaso esqueceu que gerou e que tem responsabilidade para com sua prole? A responsabilidade da presença constante deu lugar a um bom-dia ou boa-noite rápidos, um beijo que, pelo cansaço da lida, perdeu o seu significado e não transmite a grandeza do seu amor, muito menos fortalece a segurança que os pequenos exigem, que necessitam. Deixou tudo isso com a "empregada", com a "babá", na maioria despreparada para esse mister, enquanto você se esmera, no tempo que lhe sobra, em academias para estar sempre "esbelta", não pensando em ser saudável, mas estar sempre em forma, linda na aparência, competindo com quem? Com os protótipos expostos em capas de revista? Você não vai ganhar jamais. Esses modelos foram criados apenas para ser "capa". Você não! Ou então, escolha não ter família, não gerar, não colocar neste mundo indivíduos que não terão seu apoio na formação de sua personalidade e que, muito provavelmente farão parte desse bloco que será a força do amanhã? E que "amanhã" você espera? Sonhar apenas, sem atitudes, não leva a nada. Colocar-se ao lado dos que acham que tudo é natural, que é o curso da própria existência, que é o resultado de um processo do qual você não fez parte atuante e, por tal, entrega-se à neutralidade, à omissão, não é uma opção correta. Você, querendo ou não, é responsável.
Você, professor, que hoje se intitula "instrutor" no lugar de "educador", esqueceu que a instrução é fundamental na educação? Deixou-se levar por propostas de pensadores distantes da realidade brasileira que descobriram uma milagrosa metodologia que, como eu já bradava nos anos setenta, não levaria ( como não levou) à qualidade de aprendizado? Esqueceu sua vocação, sua criatividade, sua capacidade de transmitir (ensinar não é apenas jogar palavras num discurso - ensinar é "fazer aprender" - arte de um verdadeiro Mestre). Não se iluda! Se estamos como estamos foi também porque você fechou os olhos para as suas potencialidades, abaixou a cabeça para métodos impostos, não cuidou de observar os resultados que já eram manifestos há anos atrás. Deixou de criar estratégias para atingir o educando nas suas diferenças, aceitou tacitamente as apostilas preparadas que seus alunos "tiveram que engolir" porque a Escola, para "aparecer", trocou a sua marca de "aqui se ensina e se aprende" por "aqui se usa o Método Tal", como se método algum fosse, por si só, capaz de garantir resultados satisfatórios. Aí está o presente para lhe mostrar que errou o caminho. E o coitado do jovem, ignorante, despreparado, iludido por filosofias vãs, com futuro incerto porque ninguém o preparou para "algo mais", afronta, desrespeita, desdenha daquele que deveria ser o mais importante dos seus modelos: o Mestre. E não se encontra solução para o caos porque, novamente e sempre, não nos preocupamos em corrigir as falhas nas suas origens. Deixamos para resolver os problemas nas suas conseqüências.
E a causa dessa decadência está aí. Só cego não enxerga. Falta-nos "EDUCAÇÃO", falta-nos civismo, falta-nos amor, falta-nos religiosidade e temência e, com essa ausência toda, falta-nos o RESPEITO, o que deixa uma fenda imensurável na formação do caráter digno.
Afundemos todos nesse lamaçal, se quisermos permanecer omissos, mas POUPEMOS AS NOSSAS CRIANÇAS que são apenas vítimas do nosso desdém. Por alguns minutos, esqueçamos o hoje. Pensemos no amanhã.
Brigue comigo, discorde, faça o que quiser mas, por favor, PENSE e AJA.Quem sabe não seja você uma alavanca para mover o mundo! Que sabe não lhe falte apenas uma alfinetada no ego...Quem sabe você consiga unir as colunas desse alicerce: pais, mestres e educandos num mesmo ideal. Jamais colocar uns contra os outros para fugir da culpa que cabe a todos nós. Humildade para reconhecer os erros e vontade de mudar tudo em torno desse ideal farão desse tripé a força para exigir dos órgãos governamentais ATITUDES, não discursos eleitoreiros populistas. Afinal, não vivemos sob a égide da democracia? E democracia não é o governo do povo, pelo povo e para o povo? Ou não? Exigir não é apenas um direito nosso. É DEVER
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