quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Sete Universidades Brasileiras que Oferecem Cursos online (e gratuitos)


Se você gostaria de ampliar seus conhecimentos com professores de algumas das melhores universidades do Brasil, esta é uma excelente oportunidade para quem não tem a chance de estudar em instituições conceituadas. Confira a lista!
1 – USP (Universidade de São Paulo)

A USP oferece seus cursos e aulas em três diferente plataformas, são elas: UNIVESP TV,e-Aulas e Veduca.
2 – UNB (Universidade de Brasília)

A UNB disponibilizou gratuitamente um curso de graduação a distância através do portal Veduca.
3 – PUC – RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

As aulas estão disponíveis de graça no portal Condigital.
4 – UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas)

Basta escolher um dos 5 sites a seguir para acessar o conteúdo dos cursos e aulas da Unicamp: UNIVESP TV,  OCW UNICAMPGGTE UNICAMPe-UNICAMP e Câmera Web.
5 – FGV (Fundação Getulio Vargas)

Os cursos gratuitos estão disponíveis no site da FGV Online.
6 – UNESP (Universidade Estadual Paulista)

São mais de 70 cursos online grátis oferecidos através do portal UNESP ABERTA.
7 – UFF (Universidade Federal Fluminense)

Visite o site Videoaulas UFF para ter acesso de graça as aulas da instituição.
Estou fazendo um curso pela USP e estou adorando.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A implosão da mentira

Autor: Affonso Romano de Sant'Anna

Fragmento 1

               Mentiram-me. Mentiram-me ontem
               e hoje mentem novamente. Mentem
               de corpo e alma, completamente.
               E mentem de maneira tão pungente
               que acho que mentem sinceramente.

               Mentem, sobretudo, impune/mente.
               Não mentem tristes. Alegremente
               mentem. Mentem tão nacional/mente
               que acham que mentindo história afora
               vão enganar a morte eterna/mente.

               Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
               falam. E desfilam de tal modo nuas
               que mesmo um cego pode ver
               a verdade em trapos pelas ruas.

               Sei que a verdade é difícil
               e para alguns é cara e escura.
               Mas não se chega à verdade
               pela mentira, nem à democracia
               pela ditadura.

Fragmento 2

               Evidente/mente a crer
               nos que me mentem
               uma flor nasceu em Hiroshima
               e em Auschwitz havia um circo
               permanente.

               Mentem. Mentem caricatural-
               mente.
               Mentem como a careca
               mente ao pente,
               mentem como a dentadura
               mente ao dente,
               mentem como a carroça
               à besta em frente,
               mentem como a doença
               ao doente,
               mentem clara/mente
               como o espelho transparente.
               Mentem deslavadamente,
               como nenhuma lavadeira mente
               ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
               com a cara limpa e nas mãos
               o sangue quente. Mentem
               ardente/mente como um doente
               em seus instantes de febre. Mentem
               fabulosa/mente como o caçador que quer passar
               gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
               a caça é que caça o caçador
               com a armadilha.
               E assim cada qual
               mente industrial?mente,
               mente partidária?mente,
               mente incivil?mente,
               mente tropical?mente,
               mente incontinente?mente,
               mente hereditária?mente,
               mente, mente, mente.
               E de tanto mentir tão brava/mente
               constroem um país
               de mentira
                                       —diária/mente.

Fragmento 3

               Mentem no passado. E no presente
               passam a mentira a limpo. E no futuro
               mentem novamente.
               Mentem fazendo o sol girar
               em torno à terra medieval/mente.
               Por isto, desta vez, não é Galileu
               quem mente.
               mas o tribunal que o julga
               herege/mente.
               Mentem como se Colombo partindo
                do Ocidente para o Oriente
               pudesse descobrir de mentira
               um continente.

               Mentem desde Cabral, em calmaria,
               viajando pelo avesso, iludindo a corrente
               em curso, transformando a história do país
               num acidente de percurso.

Fragmento 4

               Tanta mentira assim industriada
               me faz partir para o deserto
               penitente/mente, ou me exilar
               com Mozart musical/mente em harpas
               e oboés, como um solista vegetal
               que absorve a vida indiferente.

               Penso nos animais que nunca mentem.
               mesmo se têm um caçador à sua frente.
               Penso nos pássaros
               cuja verdade do canto nos toca
               matinalmente.
               Penso nas flores
               cuja verdade das cores escorre no mel
               silvestremente.

               Penso no sol que morre diariamente
               jorrando luz, embora
               tenha a noite pela frente.

Fragmento 5

               Página branca onde escrevo. Único espaço
               de verdade que me resta. Onde transcrevo
               o arroubo, a esperança, e onde tarde
               ou cedo deposito meu espanto e medo.
               Para tanta mentira só mesmo um poema
               explosivo-conotativo
               onde o advérbio e o adjetivo não mentem
               ao substantivo
               e a rima rebenta a frase
               numa explosão da verdade.

               E a mentira repulsiva
               se não explode pra fora
               pra dentro explode
implosiva.

Este poema foi publicado em diversos jornais em 1980. Apesar do tempo decorrido, face aos acontecimentos políticos que vimos assistindo nesses últimos tempos, ele permanece atualíssimo.

Segundo 
Affonso Romano de Sant'Annafoi publicado também em várias antologias, como "A Poesia Possível", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1987, "mas os leitores a toda hora pendem cópias", afirma o poeta.
Conheça o autor e sua obra visitando "Biografias".

Estórias, Para Que Servem?

Gostei e quero compartilhar.

Autora: Mércia Regina de Santana Flannery

Os contos de exemplo, quando bem usados, ainda são os melhores e mais baratos cognitores de que pode dispor qualquer docente..

Mais do que conseguir dados para a minha tese de doutorado, a experiência de conversar com pessoas que descreveram essas circunstâncias e de ouvir suas estórias foi uma grande e pungente lição. Se pretendemos mesmo chegar a entender ao outro e evitar a geração de problemas no nosso lidar com indivíduos de formação e experiência diferentes da nossa, compartilhar suas estórias é um bom começo. 

As experiências de discriminação que coletei revelaram, entre outras coisas, os cenários e situações mais típicas em que a discriminação ocorre. Além disso, tais estórias oferecem a perspectiva daqueles que experimentaram a discriminação, detalhando como isso afeta a forma como se sentem.

Considere, por exemplo, a estória de um atleta profissional que chegou a ser detido pela polícia porque uma vendedora desconfiou de que ele e seu amigo não possuíssem os recursos necessários para comprar os objetos de uma loja. Ou ainda, o caso de uma estudante universitária que, indagando sobre o preço de um computador exposto em uma loja recebeu como resposta a infeliz explicação de que o computador em questão estava quebrado e que a loja não vendia computadores. (Nesse último caso, parece mesmo tratar-se de um duplo insulto na medida em que houve, de acordo com a autora do relato, não só um atitude preconceituosa e discriminatória por parte do vendedor, mas também uma implícita sugestão de que ela havia interpretado erroneamente a presença de um computador na loja.) Restou perguntar (o que, infelizmente, a nossa narradora não fez): se não estava à venda, para que fim mesmo é que o computador encontrava-se exposto?

Por se tratar de um assunto tão delicado e que põe aqueles que experimentaram a situação em uma posição onde se arrisca aquilo a que lingüistas chamam de "face negativa," seu desejo de serem respeitados e apreciados, nem todos com quem falei foram diretos ao descrever o preconceito a que foram sujeitos. Por exemplo, em alguns casos os autores dessas estórias não usaram o pronome de primeira pessoa, dando preferência a formas impessoais e coletivas, como "você" ou "a gente," respectivamente.

Quanto ao conteúdo, tais estórias também revelaram as "velhas formas" nas quais o preconceito se manifesta em nossa sociedade, os "velhos" receios, e as "velhas,", mas persistentes e infelizes noções de como evitar que futuras gerações venham a ter os mesmo problemas que as gerações anteriores: através do casamento com os de pele mais clara.

E, o que poderia parecer surpreendente, a maioria dos indivíduos a quem eu entrevistei não aprovava a medida governamental do regime de quotas universitárias para alunos negros. Muitos disseram achar que os problemas que se precisam combater estão situados bem antes da universidade, por exemplo, na qualidade do ensino público oferecido às populações pobres.

A lista daquilo que se pode aprender, e que eu tive a feliz experiência de poder ter aprendido com as pessoas a quem entrevistei, é extensa e o espaço aqui é limitado para relatá-lo em sua integridade. Porém, sobram uma certeza que vale a pena aqui referir: estórias, narrativas orais mesmo, aquelas que contamos no dia-a-dia, são importantes veículos para registrar, revelar e construir não só a nossa identidade, a ideia que fazemos de nós mesmos, mas também para revelar uma infinidade e riqueza de informações sobre aqueles com quem lidamos. Portanto, da próxima vez que alguém quiser lhe contar uma estória, preste atenção! Você poderá descobrir bem mais do que imagina...


Notas sobre a Autora:

Mércia Regina de Santana Flannery é Doutora em Linguística, Professora de Português e Cultura na Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, Estados Unidos. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Lenda Etíope


Há muito tempo, a Verdade, a Mentira, o Fogo e a Água estavam viajando e chegaram a um rebanho de gado. Discutiram o assunto e chegaram à conclusão de que seria melhor dividir o rebanho em quatro partes iguais para que cada um pudesse levar consigo uma quantidade igual de animais.
Mas a Mentira era gananciosa e arquitetou um plano para ficar com uma parte maior.
- Ouça o meu conselho - sussurrou ela, puxando a Água para um canto. - O Fogo está planejando queimar toda a relva e as árvores das suas margens para conduzir seu gado pelas planícies e ficar com os animais para si. Se eu fosse você, acabaria com ele logo agora, e assim repartiríamos a parte dele entre nós.
A Água foi tola o suficiente para acatar o conselho da Mentira e lançou-se sobre o Fogo, apagando-o.
E a Mentira dirigiu-se em seguida para a Verdade, sussurrando-lhe:
- Veja só o que fez a Água! Acabou com o Fogo para ficar com o gado dele. Não deveríamos associar-nos a alguém assim. Deveríamos pegar todo o gado e partir para as montanhas.
A Verdade acreditou nas palavras da Mentira e concordou com seu plano. E, juntas, levaram o gado para as montanhas.
- Esperem por mim - disse a Água, correndo no se encalço, mas é claro que não conseguiu correr morro acima. E foi deixada para trás, no vale.
Ao chegarem no topo da montanha mais alta, a Mentira virou-se para a Verdade e pôs-se a rir.
- Consegui enganá-la, sua idiota! - disse ela, soltando uma risada estridente. - Agora você vai me dar todo o gado e será minha escrava, ou eu a destruirei.
- Ora essa! Você me enganou - admitiu a Verdade. - Mas eu jamais serei sua escrava.
E as duas brigaram; e enquanto se batiam, os trovões ecoavam pelas montanhas. As duas se agrediram como o quê, mas nenhuma conseguiu destruir a outra.
Acabaram decidindo chamar o Vento para decidir quem seria a vencedora da disputa. E o Vento subiu a montanha a todo velocidade, e escutou o que ambas tinham a dizer. E por fim falou:
- Não me cabe apontar a vencedora. A Verdade e a Mentira estão fadadas à disputa. Às vezes, a Verdade ganhará; outras vezes a Mentira prevalecerá; neste caso, a Verdade deverá se erguer e tornar a lutar. Até o fim do mundo, a Verdade deverá combater a Mentira e jamais buscar o descanso ou baixar a guarda; caso contrário, será aniquilada para sempre.
Assim é que a Verdade e a Mentira continuam lutando até hoje.
O Livro das Virtudes - William J. Bennett - Editora Nova Fronteira

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Rei dos Animais

Por: Millôr Fernandes

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!".

     Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?".

     Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.

     Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que coisa, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".

M O R A L: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.

Este texto foi extraído de um dos mais geniais livros de Millôr: "Fábulas Fabulosas", editado por José Álvaro - Rio de Janeiro, 1964, pág. 23.
Agradeço a Ana Lúcia Nogueira de Miranda pela lembrança.