segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Dicas do Procon

PROCON ALERTA SOBRE MENSAGENS DE EMAILS


Tendo em vista as diversas reclamações chegadas neste Órgão Estadual de Defesa e Proteção do Consumidor, a respeito dos denominados “emails maliciosos”, que disseminam vírus, que captam dados sigilosos dos usuários ou causam algum dano na máquina, nos dados, ou na privacidade das informações, o Procon resolveu fazer um alerta aos consumidores e fornecer algumas dicas sobre o assunto:

1) Grandes empresas NÃO usam correspondência do tipo corrente. A Microsoft e a AOL NÃO estão oferecendo US$ 245 a cada repasse de e-mail, e a Ericsson NÃO está doando celulares de graça.

2) A AMBEV e a NESTLÉ NÃO estão dando kits gratuitos para quem repassar e-mails e mandar confirmação para o endereço indicado.

3) A MTV NÃO lhe dará o direito de ficar nos bastidores se você remeter correspondência a um monte de gente.

4) NÃO é porque alguém escreveu, quatro degraus anteriores da pirâmide, que é verdade (observe, é mais uma mera mentira).

5) NÃO existe uma organização de ladrões de fígado. Ninguém está acordando numa banheira cheia de gelo, mesmo se um amigo jurar que isto aconteceu ao primo do amigo dele.

6) Se o(s) último(s) desastre (s) envolvendo foguetes da NASA espalharam partículas de plutônio sobre a Costa Leste Americana, você acha realmente que esta informação chegaria ao público por mail?

7) NÃO existem os vírus "Good Times", "Bad Times", "Sapinhos Budweiser" etc. Na verdade, você NUNCA, mas NUNCA mesmo, deve reenviar qualquer e-mail alertando sobre vírus antes de primeiro confirmar se um site confiável de uma companhia real, como por exemplo HYPERLINK "http://www.symantec.com.br"www.symantec.com.br o tenha identificado.

8) Corte aqueles quilômetros de cabeçalhos dos e-mails.

9) Existem mulheres que estão realmente sofrendo no Afeganistão, e as finanças de diversas empresas filantrópicas estão vulneráveis, mas reenviar um e-mail NÃO ajudará esta causa. Se você quiser ajudar, procure seu deputado, a Anistia Internacional ou a Cruz Vermelha. E-mails "os abaixo-assinado" geralmente são falsos, e nada significam para quem detém o poder para fazer alguma coisa sobre o que está sendo denunciado. São meios de obter endereços eletrônicos.

10) NÃO existe nenhum projeto para ser votado no Congresso que reduzirá a área da Floresta Amazônica em 50%; e nem para deixar de cobrar pedágio; portanto NÃO perca tempo nem "pague mico" assinando e repassando aqueles furiosos abaixo-assinados de protesto, ou comunicando este tipo de coisa.

11) Você NÃO vai morrer nem ter azar no amor se arrebentar uma corrente. Sejamos inteligentes e recusemos esse tipo imbecil de ajudar hackers e spammers (propagandas)

12) Escrever um e-mail ou enviar qualquer coisa pela Internet é fácil... NÃO acredite automaticamente em tudo. Observe o texto, reflita, analise tudo isto antes de repassar aos amigos.

13) Quando nós recebemos mensagens pedindo ajuda para alguém, com alguma foto comovente, NÃO repasse apenas "pra fazer a sua parte", pode haver alguém cheio de má intenção, por trás deste e-mail. Verifique a veracidade das informações, afinal, próximo de sua casa, há sempre alguém carente que você poderá ajudar, se esta for sua opção de vida.

14) Cuidado! Muito cuidado com mensagens-lista de dados de pessoas, que cada um vai assinando, colocando seus endereços e telefones reais, repassando... Podem facilmente serem utilizados por assaltantes, seqüestradores, etc.

15) Quando reenviarem mensagens, retirem os nomes e e-mails das pessoas por onde os e-mails já passaram (BASTA SELECIONAR OS PARÁGRAFOS COM O MOUSE E DEPOIS APERTAR A TECLA DELETE): tem programas rodando na Internet para "pegar" tudo que tiver antes e depois de um "@". Isso é vendido para Spamers, que muitas vezes espalham vírus.

16) Quando for mandar uma msg para mais de uma pessoa, não envie com o "Para" nem com o "Cc", envie com o "Cco" (carbon copy ocult) ou "Bbc" (blind copy), que não vai aparecer o endereço eletrônico de nenhum destinatário. Tire também o [Fw] ou [En].

Monteiro Lobato - Jeca Tatuzinho

Lançado em 1924, Jeca Tatuzinho veio ensinar noções de higiene e saneamento às crianças, por meio do personagem-símbolo criado por Monteiro Lobato. Adaptado no ano seguinte e, ao que consta, oferecido a seu amigo Cândido Fontoura para promoção dos produtos do laboratório Fontoura Serpe & Cia, em especial do Biotônico, chegaria a 100 milhões de exemplares no centenário do escritor.

Considerada a peça publicitária de maior sucesso na história da propaganda brasileira, inspiraria, naquele ano de 1982, a criação do Prêmio Jeca Tatu. Instituído pela agência CBBA - Castelo Branco e Associados, representou uma homenagem "à obra-prima da comunicação persuasiva de caráter educativo, plenamente enquadrada na missão social agregada ao marketing e à propaganda".

O folheto do Biotônico Fontoura, cujo texto aqui reproduzimos, foi ilustrado em suas primeiras edições por Belmonte e, em seguida, por J. U. Campos.



I

Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia, e de vários filhinhos pálidos e tristes.
Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atrás da casa. Perto corria um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo.
Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis, nem roupas, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, a espingardinha de carregar pela boca, muito ordinária, e só.
Todos que passavam por ali, murmuravam:
- Que grandessíssimo preguiçoso!

II

Jeca Tatu era tão fraco que, quando ia lenhar, vinha com um feixinho que parecia brincadeira. E vinha arcado, como se estivesse carregando um enorme peso.
- Por que não traz de uma vez um feixe grande? perguntaram-lhe um dia.
Jeca Tatu cortou a barbicha rala e respondeu:
- Não paga a pena.
Tudo para ele não pagava a pena. Não pagava a pena consertar a casa, nem fazer uma horta, nem plantar árvores de fruta, nem remendar a roupa.
Só pagava a pena beber pinga.
- Por que você bebe, Jeca? diziam-lhe.
- Bebo para esquecer.
- Esquecer do quê?
- Esquecer as desgraças da vida.
E os passantes murmuravam:
- Além de vadio, bêbado ...

III

Jeca possuía muitos alqueires de terra, mas não sabia aproveitá-la. Plantava todos os anos uma rocinha de milho, outra de feijão, uns pés de abóbora e mais nada. Criava em redor da casa um ou outro porquinho e meia dúzia de galinhas. Mas o porco e as aves que cavassem a vida, porque Jeca não lhes dava o que comer. Por esse motivo o porquinho nunca engordava, e as galinhas punham poucos ovos.
Jeca possuía ainda um cachorro, o Brinquinho, magro e sarnento, mas bom companheiro e leal amigo.
Brinquinho vivia cheio de bernes no lombo e muito sofria com isso. Pois apesar dos ganidos do cachorro, Jeca não se lembrava de lhe tirar os bernes. Por que? Desânimo, preguiça...
As pessoas que viam aquilo, franziam o nariz.
- Que criatura imprestável! Não serve nem para tirar berne de cachorro...

IV

Jeca só queria beber pinga e espichar-se ao sol, no terreiro. Ali ficava horas, com o cachorrinho rente, cochilando. A vida que rodasse, o mato que crescesse na roça, a casa que caísse. Jeca não queria saber de nada. Trabalhar não era com ele.
Perto morava um italiano já bastante arranjado, mas que ainda assim trabalhava o dia inteiro. Por que Jeca não fazia o mesmo?
Quando lhe perguntavam isso, ele dizia:
- Não paga a pena plantar. A formiga come tudo.
- Mas como é que seu vizinho italiano não tem formiga no sítio?
- É que ele mata.
E por que você não faz o mesmo?
Jeca coçava a cabeça, cuspia por entre os dentes e vinha sempre com a mesma história:
- Quá! Não paga a pena ...
- Além de preguiçoso, bêbado; e além de bêbado, idiota, era o que todos diziam.

V


Um dia um doutor portou lá por causa da chuva e espantou-se de tanta miséria. Vendo o caboclo tão amarelo e magro, resolveu examiná-lo.
- Amigo Jeca, o que você tem é doença.
- Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito, que responde na cacunda.
- Isso mesmo. Você sofre de ancilostomíase.
- Anci... o que?
- Sofre de amarelão, entende? Uma doença que muitos confundem com a maleita.
- Essa tal maleita não é sezão?
- Isso mesmo. Maleita, sezão, febre palustre ou febre intermitente: tudo a mesma coisa.
A sezão também produz anemia, moleza e esse desânimo do amarelão; mas é diferente. Conhece-se a maleita pelo arrepio ou calafrio que dá, pois é uma febre que vem sempre em horas certas e com muito suor. Quem sofre de sezão sara com o MALEITOSAN FONTOURA. Quem sofre de amarelão sara com a ANKILOSTOMINA FONTOURA. Eu vou curar você.

VI

O doutor receitou um vidro de ANKILOSTOMINA FONTOURA, para tomar assim: seis comprimidos hoje pela manhã e outros seis amanhã de manhã.
- Faça isto duas vezes, com o espaço de uma semana. E de cada vez tome também um purgante de sal amargo, se duas horas depois de ter ingerido a ANKILOSTOMINA não tiver evacuado. E trate de comprar um par de botinas e alguns vidros de BIOTÔNICO e nunca mais me ande descalço e nem beba pinga, ouviu?
-Ouvi, sim, senhor!
- Pois é isso, rematou o doutor, tomando o chapéu. A chuva já passou e vou-me embora. Faça o que mandei, que ficará forte, rijo e rico como o italiano. Na semana que vem estarei aqui de volta.
- Até por lá, sêo doutor!
Jeca ficou cismando. Não acreditava muito nas palavras da Ciência, mas por fim resolveu comprar os remédios, e também um par de botinas ringideiras.
Nos primeiros dias foi um horror. Ele andava pisando em ovos. Mas acostumou-se, afinal...

VII

Quando o doutor voltou, Jeca estava bem melhor, graças à ANKILOSTOMINA e ao BIOTÔNICO. O doutor mostrou-lhe com uma lente o que tinha saído das suas tripas:
- Veja, sêo Jeca, que bicharia tremenda estava você a criar na barriga! São os tais ancilóstomos, uns bichinhos dos lugares úmidos, que entram pelos pés, vão varando pela carne adentro até alcançarem os intestinos. Chegando lá, grudam-se nas tripas e escangalham com o freguês.
Tomando a ANKILOSTOMINA, você bota fora todos os ancilóstomos que tem no corpo. E andando sempre calçado, não deixa que entrem os que estão na terra. Fazendo isso e fortalecendo-se com alguns vidros de BIOTÔNICO, ovos e leite, você fica livre da doença para sempre.
Jeca abriu a boca, maravilhado.
- Os anjos digam amém, sêo doutor!

VIII

Mas Jeca não podia acreditar numa coisa: que os bichinhos entrassem pelo pé. Ele era "positivo" e dos tais que "só vendo". O doutor resolveu abrir-lhe os olhos: Levou-o a um lugar úmido, atrás de casa, e disse:
- Tire a botina e ande um pouco por aí.
Jeca obedeceu.
- Agora venha cá. Sente-se. Bote o pé em cima do joelho. Assim. Agora examine a pele com essa lente.
Jeca tomou a lente, olhou e percebeu vários vermes pequeninos que já estavam penetrando na sua pele, através dos poros. O pobre homem arregalou os olhos, assombrado.
- E não é que é mesmo? Quem "haverá" de dizer!...
- Pois é isso, sêo Jeca, e daqui por diante não duvide mais do que disser a Ciência.
- Nunca mais! Daqui por diante dona Ciência está dizendo, Jeca está jurando em cima! T'esconjuro! E pinga, então, nem para remédio...

IX

Tudo o que o doutor disse aconteceu direitinho! Três meses depois ninguém mais conhecia o Jeca. A ANKILOSTOMINA curou-o do Amarelão. O BIOTÔNICO deixou-o bonito, corado, forte como um touro.
A preguiça desapareceu. Quando ele agarrava no machado, as árvores tremiam de pavor.
Era pã, pã, pã... horas seguidas, e os maiores paus não tinham remédio senão cair.
E Jeca, cheio de coragem, botou abaixo o capoeirão, para fazer uma roça de três alqueires. E plantou eucaliptos nas terras que não se prestavam para cultura. E consertou todos os buracos da casa. E fez um chiqueiro para os porcos. E um galinheiro para as aves. O homem não parava, vivia a trabalhar com fúria que espantou até o seu vizinho italiano.
- Descanse um pouco, homem! Assim você arrebenta... diziam os passantes.
- Quero ganhar o tempo perdido, respondia ele, sem largar do machado. Quero tirar a prosa do "italiano".

X

Jeca, que era um medroso, virou valente. Não tinha mais medo de nada, nem de onça! Uma vez, ao entrar no mato, ouviu um miado estranho.
- Onça! Exclamou ele. É onça e eu aqui sem uma faca!...
Mas não perdeu a coragem. Esperou a onça, de pé firme. Quando a fera o atacou, ele ferrou-lhe tamanho murro na cara que a bicha rolou no chão, tonta. Jeca avançou de novo, agarrou-a pelo pescoço e estrangulou-a.
- Conheceu, papuda? Você pensa que está lidando com algum pinguço opilado? Fique sabendo que tomei ANKILOSTOMINA e BIOTÔNICO e uso botina ringideira!...
A companheira da onça, ao ouvir essas palavras, não quis saber de histórias - azulou! Dizem que até hoje está correndo...

XI

Ele, que antigamente, quando lenhava, só trazia três pausinhos, carregava agora cada feixe que metia medo. E carregava-os sorrindo, como se o enorme peso não passasse de brincadeira.
- Amigo Jeca, você arrebenta! diziam-lhe. Onde se viu carregar tanto pau de uma vez?
- Já não sou aquele de dantes! Isto para mim agora é canja... respondia o caboclo, sorrindo.
Quando teve de aumentar a casa, foi a mesma coisa. Derrubou no mato grossas perobas, atorou-as, lavrou-as e trouxe no muque para o terreiro as toras todas. Sozinho!
- Quero mostrar a essa paulama quanto vale um homem que tomou ANKILOSTOMINA e BIOTÔNICO, que usa botina cantadeira e que não bebe nem um só martelinho de cachaça!
O italiano via aquilo e coçava a cabeça.
- Se eu não tropicar direito, este diabo me passa na frente. Per Bacco!

XII

Dava gosto ver suas roças. Comprou arados e bois, e não plantava nada sem primeiro afofar a terra. O resultado foi que os milhos vinham lindos e o feijão era uma beleza.
O italiano abria a boca, admirado, e confessava nunca ter visto roças assim.
E Jeca já não plantava rocinhas, como antigamente. Só queria saber de roças grandes, cada vez maiores, que fizessem inveja no bairro.
E se alguém lhe perguntava:
- Mas para que tanta roça, homem? ele respondia:
- É que agora quero ficar rico. Não me contento com trabalhar para viver. Quero cultivar todas as minhas terras, e depois formar aqui duas enormes fazendas - a Fazenda Ankilostomina e Fazenda Biotônico. E hei de ser até coronel...
E ninguém duvidava mais. O italiano dizia:
- E forma mesmo! E vira mesmo coronel! Per la Madonna!...

XIII

Por esse tempo, o doutor passou por lá e ficou admiradíssimo com a transformação de seu doente.
Esperara que ele sarasse, mas não contara com tal mudança.
Jeca o recebeu de braços abertos e apresentou-o à mulher e aos filhos.
Os meninos cresciam viçosos, e viviam brincando, contentes como os passarinhos.
E toda gente ali andava calçada. O caboclo ficara com tanta fé no calçado, que metera botinas até nos animais caseiros!
Galinhas, patos, porcos, tudo de sapatinho nos pés! O galo, esse andava de bota e espora!
- Isso também é demais, sêo Jeca, disse o doutor. Isso é contra a natureza!
- Bem sei. Mas quero dar um exemplo a esta caipirada bronca. Eles vêm aqui, vêem isso e não se esquecem mais da história.

XIV

Em pouco tempo os resultados foram maravilhosos. A porcada aumentou de tal modo, que vinha gente de longe admirar aquilo. Jeca adquiriu um caminhão, e em vez de conduzir os porcos ao mercado pelo sistema antigo, levava-os de auto, num instantinho, buzinando pela estrada afora, fon-fon! Fon-fon! ...
As estradas eram péssimas; mas ele consertou-as à sua custa. Jeca parecia um doido. Só pensava em melhoramentos, progressos, coisas americanas. Aprendeu logo a ler, encheu a casa de livros e por fim tomou um professor de inglês.
- Quero falar a língua dos bifes para ir aos Estados Unidos ver como é lá a coisa.
O seu professor dizia:
- O Jeca só fala inglês agora. Não diz porco; é pig. Não diz galinha; é hen... Mas de álcool, nada. Antes quer ver o demônio, que um copinho da "branca"...

XV

Jeca só fumava charutos fabricados especialmente para ele, e só corria as roças montado em cavalos árabes de puro sangue.
- Quem o viu e quem o vê! Nem parece o mesmo. Está um "estranja" legítimo, até na fala.
Na "Fazenda Biotônico" havia de tudo. Campos de alfafa. Pomares belíssimos com quanta fruta há no mundo. Até criação do bicho-da-seda; Jeca formou um amoreiral que não tinha fim.
- Quero que tudo aqui ande na seda, mas seda fabricada em casa. Até os sacos aqui da fazenda tem que ser de seda, para moer os invejosos...
E ninguém duvidava de nada.
- O homem é mágico, diziam os vizinhos. Quando assenta de fazer uma coisa, faz mesmo, nem que seja um despropósito...

XVI

A "Fazenda Biotônico" tornou-se famosa no país inteiro. Tudo ali era por meio do rádio e da eletricidade. Jeca, de dentro do seu escritório, tocava num botão e o cocho do chiqueiro se enchia automaticamente de rações muito bem dosadas. Tocava outro botão e um repuxo de milho atraía todo o galinhame!...
Suas roças eram ligadas por telefones. Da cadeira de balanço na varanda, ele dava ordens aos feitores, lá longe.
Chegou a mandar buscar nos Estados Unidos um aparelho de televisão.
- Quero aqui desta varanda ver tudo o que se passa em minha fazenda.
E tanto fez, que viu. Jeca instalou os aparelhos, e assim pôde, da sua varanda, com o charutão na boca, não só falar por meio do rádio para qualquer ponto da fazenda, como ainda ver, por meio da televisão, o que os camaradas estavam fazendo.

XVII

Ficou rico e estimado, como era natural; mas não parou aí. Resolveu ensinar o caminho da saúde aos caipiras das redondezas. Para isso montou na fazenda e vilas próximas vários POSTOS DE MALEITOSAN, onde tratava os enfermos de sezões; e também POSTOS DE ANKILOSTOMINA, onde curava os doentes de amarelão e outras verminoses.
E quando algum empregado sentia alguma dor de cabeça, se estava resfriado, Jeca arrumava-lhe uns dois ou três comprimidos de Fontol, e imediatamente o homem estava bom, e pronto para o serviço.
O seu entusiasmo era enorme. "Hei de empregar tôda minha fortuna nesta obra de saúde geral, dizia. Meu patriotismo é este. Minha divisa: Curar gente. Abaixo a bicharia! Viva o Biotônico! Viva ANKILOSTOMINA! Viva o Maleitosan! Viva o Fontol!"
A estes vivas o coronel Jeca aumentou mais um. Foi quando apareceu o grande "liquida-insetos" chamado DETEFON e ele o experimentou na miuçalha da fazenda: pulgas, percevejos, piolhos, baratas, pernilongos e moscas. Deixou aquilo lá sem um só bichinho para remédio.
Não contente com isso, Jeca tomou o hábito de nunca sair a cavalo ou de automóvel sem levar a tiracolo a bomba de pulverizar o DETEFON. Entrava nos casebres de beira de caminho e antes do "Bom dia!" punha-se fon, fon, fon, detefon, a pulverizar tudo, coisas e gentes. Quando acaba, dizia:
- Ninguém faz a conta dos males que estes bichinhos causam à humanidade, como transmissores de moléstias... e dava mais umas bombadas de lambuja.
E a curar gente da roça passou Jeca toda a sua vida. Quando morreu, aos 89 anos, não teve estátua ou grandes elogios nos jornais. Mas ninguém ainda morreu de consciência mais tranqüila. Havia cumprido o seu dever até o fim.

XVIII

Meninos: nunca se esqueçam desta história; e, quando crescerem, tratem de imitar o Jeca. Se forem fazendeiros, procurem curar os camaradas. Além de ser para eles um grande benefício, é para você um alto negócio. Você verá o trabalho dessa gente produzir três vezes mais.
Uma país não vale pelo tamanho, nem pela quantidade de habitantes. Vale pelo trabalho que realiza e pela qualidade da sua gente.
Ora, ter mais saúde é a grande qualidade de um povo. Tudo mais vem daí. E o grande remédio que combate o amarelão, esse mal terrível que tantos braços preciosos rouba ao trabalho, é a ANKILOSTOMINA. Assim como o grande conservador da saúde, que produz energia, força e vigor, chama-se BIOTÔNICO FONTOURA.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Dara e Filipe

Os Ratinhos Desobedientes

O ratinho e a ratinha eram dois irmãos que viviam com sua mãe numa toca, em uma fazenda. Ali estavam quentes e resguardados, a salvo das inclemências do tempo. Sua mamãe dava-lhes todo alimento de que necessitavam e não tinham nada com que se preocupar.
Nenhum dos dois gostava quando a sua mãezinha os mandava dormir, e obedeciam sempre contrariados. Numa bela noite, saíram à procura de seus amigos; as estrelas brilhavam no céu e era muito agradável estar ao ar livre!
Por mais voltas que dessem, não encontraram nenhum de seus amigos; esses, é claro, dormiam um soninho descansado.
Continuaram andando, andando, até perceber que se tinham afastado muito de sua casa; não conheciam a paisagem que os rodeava. Sentiram medo porque o vento começou a uivar e a escuridão tornava-se ameaçadora.
Abraçaram-se um ao outro, e, de repente, ouviram um ruído. Estremeceram espantados. Seria um gato? O tempo parecia ter parado e o responsável pelos ruídos aproximava-se pouco a pouco. Começaram a bater os dentes de medo, incapazes de fazer qualquer movimento. Sentiam que tinha chegado a sua última hora, já que certamente se tratava do seu mais aguerrido inimigo: o gato.
Mas, afinal, tudo acabou bem. A mãe saíra à procura deles e tinha sido ela quem havia feito o barulho. Os dois ratinhos regressaram a casa muito contentes. Haviam passado um mau bocado e não voltariam a repetir a façanha. Não há nada como a nossa casa. Não acha que tenho razão, amiguinho?

Alimentos

  1. Alimentos transgênicos são seguros, saudáveis e essenciais se quisermos atingir padrões de vida decentes para a crescente população mundial। A moralização fora de propósito em torno deles no Ocidente está custando milhões de vidas nos países pobres।Há sete anos, a revista "Time" apresentou o biólogo suíço Ingo Potrykus em sua capa। Como principal criador do arroz geneticamente modificado -ou "arroz dourado"- ele foi saudado como potencialmente um dos maiores benfeitores da humanidade. O arroz dourado seria o início de uma nova revolução verde para melhorar as vidas de milhões das pessoas mais pobres do mundo. Ele ajudaria a corrigir a deficiência de vitamina A, a causa de entre 1 milhão e 2 milhões de mortes por ano, e poderia salvar até 500 mil crianças por ano da cegueira. Era a nau capitânia da biotecnologia vegetal.Sete anos depois, a previsão mais otimista é de que serão necessários mais cinco ou seis anos para que o arroz dourado possa ser cultivado comercialmente. A concretização do sonho de Potrykus continua se distanciando.O que deu errado? As promessas eram irreais ou a tecnologia dos transgênicos, como alegam seus oponentes, é falha -devido aos possíveis danos à segurança de seres humanos ou do meio ambiente, ou por ser inadequada para atender as necessidades dos agricultores pobres no mundo em desenvolvimento?A discussão pública de alimentos transgênicos nos meios de comunicação britânicos, e por toda a Europa, reflete uma suspeita persistente em relação aos alimentos transgênicos. Os supermercados exibem avisos de que seus produtos são "livres de transgênicos". As vendas de alimentos orgânicos, promovidos como uma alternativa natural aos produtos da agricultura científica moderna, estão crescendo cerca de 20% ao ano. O público é levado a acreditar que a tecnologia transgênica não é apenas insegura, mas prejudicial ao meio ambiente, e que atende apenas ao lucro das grandes empresas agrícolas. Raramente a percepção pública esteve mais fora de sintonia com os fatos.Na verdade, a natureza da tecnologia de modificação genética dificilmente seria mais perigosa do que a agricultura convencional. Ao longo da toda a história, agricultores buscaram melhorar sua produtividade cruzando plantas com características desejáveis. Mas o cruzamento é uma loteria e suas conseqüências não podem ser facilmente previstas. Pequenas mudanças genéticas que são desejáveis podem ser acompanhadas por outras que são indesejáveis. Podem ser necessárias gerações de cruzamentos para eliminação das características indesejáveis. O processo é, portanto, não apenas imprevisível, mas lento e caro, e pode ser ainda mais arriscado.Um dos métodos-padrão mais eficazes de reprodução para obtenção de melhores plantas cultiváveis é bombardear as sementes e plantas com raios gama para alterar seu DNA, causando mutações, sendo que algumas podem ser selecionadas por possuírem características desejadas. (Por acaso, os agricultores orgânicos, em seu desejo de evitar produtos químicos artificiais, são ainda mais dependentes do que os agricultores convencionais de variedades de plantas geradas por irradiação.)A irradiação altera tanto a estrutura dos cromossomos quanto a seqüência do genoma de forma aleatória. Além disso, não há exigência legal de testar tais produtos irradiados seja pelos efeitos à saúde ou pelo que possam causar ao meio ambiente. Em comparação, a modificação genética em laboratório introduz um gene ou genes bem caracterizados em um genótipo estabelecido sem grande perturbação. O que tal modificação faz é o mesmo que o cruzamento de plantas sempre fez, mas de forma mais rápida e precisa. Os oponentes freqüentemente argumentam que a tecnologia de engenharia genética é diferente por poder transferir genes entre espécies. Mas novamente, isto não é novo, já que ao longo da evolução genes foram transferidos entre espécies naturalmente. Este é o motivo para a existência de tamanha diversidade de vida vegetal.Além disso, aqueles que são contrários à modificação genética na agricultura freqüentemente abraçam a tecnologia na medicina. A insulina humana usada no tratamento da diabete, por exemplo, é modificada geneticamente: o gene humano responsável pela insulina foi transferido para bactérias e levedo, um processo que envolve o cruzamento da barreira entre espécies. Segundo que raciocínio a tecnologia pode ser segura e ética quando salva vidas em tratamento médico, mas não quando usada para tornar plantas resistentes a pragas visando salvar pessoas da fome?A história do arroz dourado de Potrykus sugere uma explicação. O desenvolvimento do produto em si foi um grande feito científico. Um gene de bactéria somado a dois genes de narciso foram inseridos no arroz para fazê-lo sintetizar o micronutriente "betacaroteno", que quando ingerido é convertido em vitamina A. Este processo levou 10 anos. Muitos outros anos foram gastos, com a ajuda da Syngenta e outras empresas de biotecnologia, na solução dos problemas de patente para permitir que o arroz dourado pudesse ser disponibilizado para pequenos agricultores sem pagamento de royalties. Então teve início a luta para obtenção de aprovação regulatória.Primeiro, apesar de ter sido aceito até mesmo pelos contrários à tecnologia que a presença do betacaroteno no grão de arroz não apresenta nenhum risco possível ao meio ambiente, nenhum campo de teste de pequena escala seria permitido. Assim, todo o arroz dourado deveria ser plantado em estufas -um processo que exige três anos. Cada planta deveria ser comprovada como sendo produto de uma transferência genética de seu DNA em proporções iguais. Então todas as proteínas deveriam ser extraídas e decompostas, caracterizadas bioquimicamente e sua função confirmada -análises que exigem pelo menos dois anos de trabalho intensivo em laboratório bem equipado.Em seguida, experiências de alimentação com roedores seriam exigidas, apesar da maioria das pessoas já ter comido alegremente estes genes -e as proteínas pelas quais são responsáveis- de outras fontes ao longo de suas vidas, e apesar das proteínas produzidas pelos genes do narciso não terem relação a qualquer toxina ou alérgeno. Nenhum risco hipotético por menor que fosse deveria permanecer não testado.Por que uma tecnologia com tanto a contribuir é impedida por regulamentações que não fazem sentido? Parte da culpa está no grande agronegócio. Ele inicialmente apreciou a regulamentação elaborada para desencorajar a concorrência de pequenas empresas incapazes de arcar com os custos. De fato, eles resistiram com sucesso a todas as tentativas dos conselheiros no governo Reagan de regular cada nova planta transgênica simplesmente como novo produto, em vez de pelo processo pelo qual foi derivada -uma abordagem que trataria as culturas transgênicas e convencionais de forma semelhante e faria mais sentido científico.Apesar da regulamentação rígida ter sido apoiada por alguns defensores dos transgênicos, que acreditavam que ela tranqüilizaria o público, ela teve o feito oposto. Se os governos parecem achar que é necessária extrema cautela, o público concluirá que a tecnologia deve ser perigosa.Mas a principal força por trás da regulação excessiva dos transgênicos é o culto da "volta à natureza", que também inspirou a propaganda contra a biotecnologia agrícola como um todo. Este culto tem muitas manifestações. Uma é a popularidade da agricultura orgânica, que se baseia no falso princípio de que produtos químicos artificiais são ruins e produtos químicos naturais são bons.Outra é a crescente moda por medicina alternativa, não comprovada. Os oponentes dogmáticos dos transgênicos na Europa acreditam que a interferência na composição genética das plantas é basicamente uma questão moral. Ela deve ser condenada como parte da tentativa pecaminosa da humanidade de controlar a natureza, que contribuiu para o aquecimento global, epidemias de câncer e todas as pragas da vida moderna.Apesar desta corrente de sentimento anticiência, há motivo para esperança. Neste ano, o então secretário britânico do meio ambiente, David Miliband, anunciou que não há evidência de que alimento orgânico é mais nutritivo do que alimento cultivado de forma convencional. Em princípio, o governo britânico se declarou pronto para autorizar o cultivo de transgênicos e apoiou sua promoção na Europa.Além disso, há sinais significativos de mudança em vários países europeus. A Espanha cultiva com sucesso milho transgênico há alguns anos. Na França, o número de hectares dedicados ao plantio de transgênicos aumentou de 500 para 50 mil em três anos. Mas o mais importante é a rápida disseminação de transgênicos na Índia e na China. Os chineses já estão à frente no teste de novas linhagens de arroz transgênico que poderão beneficiar 250 milhões de agricultores. A Índia não está muito atrás e defende um regime regulatório brando.Há pouca dúvida de que com o tempo os transgênicos serão aceitos mundialmente, mesmo na Europa. Mas ao adiar o cultivo, os lobbies antitransgênicos foram responsáveis por um custo pesado. Sua oposição minou o agronegócio na Europa e empurrou para o exterior grande parte da pesquisa de biotecnologia vegetal. A regulação excessiva pode tornar os custos da tecnologia mais altos do que o necessário. Acima de tudo, o atraso causou a perda desnecessária de milhões de vidas no mundo em desenvolvimento. Estes lobbies e seus amigos no movimento orgânico têm muito pelo que responder.*Dick Taverne é autor de "The March of Unreason: Science, Democracy and the New Fundamentalism".