terça-feira, 26 de agosto de 2014

Transformando-se

Conta uma lenda que em uma ilha longínqua vivia uma solitária deusa de sal. Ela era apaixonada pelo mar.
Passava dias, noites, horas na praia observando o balanço de suas ondas, sua beleza, seu mistério, sua magnitude. Um desejo enorme começou a apossar-se do seu coração: experimentar toda aquela beleza.
Esse desejo foi aumentando até que um dia a deusa resolveu entrar no mar. Logo que ela colocou os pés no mar, eles sumiram, derreteram-se.
Encantada com ele, ela seguiu em frente e suas pernas e coxas desapareceram.
A deusa, entretanto, seguiu adiante, sentindo partes do seu corpo derretendo-se, até ficar apenas com o rosto do lado de fora.
Uma estrela que observava tudo falou:
- Linda deusa, você vai desaparecer por completo. Daqui a pouco você não mais existirá.
A água do mar desfazia o rosto da deusa, mas ela respondeu fazendo um esforço:
- Continuarei existindo, porque agora eu sou o mar também.
Para conhecer e experimentar é preciso permitir-se, ir em frente. Quando isto acontece, a mudança se dá, mudamos.
A deusa mudou transformando-se em mar e fazendo parte dele, passou a ser o mar que ela tanto admirava da praia.
O mar por sua vez, também se transformou, porque foi salgado pela deusa. Ambos experimentaram a mudança: a deusa e o mar.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Esopo e a Língua

Esopo era um escravo de rara inteligência que servia à casa de um conhecido chefe militar da antiga Grécia. Certo dia, em que seu patrão conversava com outro companheiro sobre os males e as virtudes do mundo, Esopo foi chamado a dar sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu seguramente:
- Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra está à venda no mercado.
- Como? Perguntou o amo surpreso. Tens certeza do que está falando? Como podes afirmar tal coisa?
- Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei até lá e trarei a maior virtude da Terra.
Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e, dali a alguns minutos voltou carregando um pequeno embrulho. Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de língua, e, enfurecido, deu ao escravo uma chance para explicar-se.
- Meu amo, não vos enganei, retrucou Esopo. A língua é, realmente, a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar, esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinos dos filósofos são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras dos poetas se tornam conhecidas de todos.
- Acaso podeis negar essas verdades, meu amo?
- Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que és desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo.
- É perfeitamente possível, senhor, e com nova autorização de meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de toda terra.
Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e dali a minutos voltava com outro pacote semelhante ao primeiro. Ao abri-lo, os amigos encontraram novamente pedaços de língua. Desapontados, interrogaram o escravo e obtiveram dele surpreendente resposta:
- Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através dela tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela, as verdades mais santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas e apresentadas como anedotas vulgares e sem sentido. Através da língua, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio social. Acaso podeis refutar o que digo? indagou Esopo.
Impressionados com a inteligência invulgar do serviçal, ambos os senhores calaram-se, comovidos, e o velho chefe, no mesmo instante, reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como escravo, deu-lhe a liberdade. Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um contador de fábulas muito conhecido da antiguidade e cujas histórias até hoje se espalham por todo mundo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O rei Bahaudin


Bahaudin era um príncipe poderoso, eficiente na administração dos assuntos de Estado e despreocupado com as coisas da mente.
Um dia decidiu que era necessário tomar uma atitude com relação aos errantes e vagabundos que viviam em seus prósperos domínios. Ordenou aos guardas que prendessem todos os vagabundos e andarilhos e que, dentro de um mês a partir daquele dia, os levassem ao pátio do castelo para julgamento.
Um sufi que era membro da corte de Bahaudin pediu permissão para ausentar-se e empreender uma viagem.
Quando chegou o dia determinado todos os vagabundos foram reunidos. Mandaram que se sentassem e que ficassem à espera do rei Bahaudin.
Vendo tanta gente indesejável sentada diante de sua fortaleza, o rei encolerizou-se. Fez um longo discurso e terminou dizendo:
- A corte decreta que todos sejam açoitados como malfeitores e motivo de descrédito para nosso povo.
O cortesão sufi, vestido com seus farrapos, levantou-se no meio dos prisioneiros e falou:
- Ó príncipe da família do Profeta! Se um membro da tua própria corte foi preso por causa de sua roupa, e isso bastou para que o considerassem um vilão, devemos agir com cuidado. Se a roupa é suficiente para saber quem são os malfeitores, então existe o perigo de que o povo adquira esse costume e comece, como tu, a julgar seus governantes apenas por seus trajes, e não por suas qualidades. Que aconteceria então com a instituição de um governo justo?
Depois de ouvir isso Bahaudin renunciou ao trono. Está enterrado próximo a Kabul, no Afeganistão, onde o consideram um dos maiores sufis que existiram. A lição jamais foi esquecida, e todos se ajoelham ao passar por seu túmulo.

domingo, 17 de agosto de 2014

Aos Que Virão Depois de Nós


Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)


Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A Porta do Lado

Em entrevista dada pelo médico Drauzio Varella, disse ele que a gente tem um nível de exigência absurdo em relação à vida, que queremos que absolutamente tudo dê certo, e que, às vezes, por aborrecimentos mínimos, somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada. E aí ele deu um exemplo trivial, que acontece todo dia na vida da gente.
É quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao seu na garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do shopping). Em vez de simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e tratar da sua vida, você bufa, pragueja, esperneia e estraga o que resta do seu dia.
Eu acho que esta história de dois carros alinhados, impedindo a abertura da porta do motorista, é um bom exemplo do que torna a vida de algumas pessoas melhor, e de outras, pior. Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos, mas não entende por que eles parecem ser tão mais felizes. Será que nada dá errado para eles?
Dá aos montes. Só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor diferença. O que não falta neste mundo é gente que se acha o último biscoito do pacote.
Que "audácia" contrariá-los! São aqueles que nunca ouviram falar em saídas de emergência: fincam o pé, compram briga e não deixam barato.
Alguém aí falou em complexo de perseguição? Justamente. O mundo versus eles.
Eu entro muito pela outra porta, e às vezes saio por ela também. É incômodo, tem um freio de mão no meio do caminho, mas é um problema solúvel.
E como esse, a maioria dos nossos problemões podem ser resolvidos assim, rapidinho.
Basta um telefonema, um e-mail, um pedido de desculpas, um deixar barato.
Eu ando deixando de graça, para ser sincero. Vinte e quatro horas têm sido pouco para tudo o que eu tenho que fazer, então não vou perder ainda mais tempo ficando mal-humorado.
Se eu procurar, vou encontrar dezenas de situações irritantes e gente idem, pilhas de pessoas que vão atrasar meu dia.
Então eu uso a "porta do lado" e vou tratar do que é importante de fato.
Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o elixir do bom humor, a razão porque parece que tão pouca coisa na vida dos outros dá errado
Pense nisso... E prepare-se para uma nova vida.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Histórias para Alegrar o Coração

Montado em seu cavalo, o fazendeiro dirigia-se à cidade como fazia frequentemente, a fim de cuidar de seus negócios.
Nunca prestara atenção àquela casa humilde, quase escondida num desvio, à margem da estrada. Naquele dia experimentou insistente curiosidade.
Quem morava ali?
Cedendo ao impulso, aproximou-se. Contornou a residência e, sem desmontar, olhou por uma janela aberta e viu uma garotinha de aproximadamente dez anos, ajoelhada, de mãos postas, olhos lacrimejantes...
- Que faz você aí, minha filha?
- Estou orando a Deus, pedindo socorro... Meu pai morreu, minha mãe está doente, meus quatro irmãos têm fome...
- Que bobagem! - disse o fazendeiro. - O Céu não ajuda ninguém! Está muito distante... Temos que nos virar sozinhos!
Embora irreverente e um tanto rude, era um homem de bom coração. Compadeceu-se, tirou do bolso boa soma em dinheiro e o entregou à menina.
- Aí está. Vá comprar comida para os irmãos e remédio para a mamãe! E esqueça a oração.
Isto feito, retornou à estrada. Antes de completar duzentos metros, decidiu verificar se sua orientação estava sendo observada.
Para sua surpresa, a pequena devota continuava de joelhos.
- Ora essa, menina! Por que não vai fazer o que recomendei? Não lhe expliquei que não adianta pedir?
E a menina, feliz, respondeu:
- Já não estou mais pedindo, estou apenas agradecendo. Pedi a Deus e ele enviou o senhor!

Autor desconhecido

domingo, 10 de agosto de 2014

O Tédio

Autor: Henrique Hine, adaptação Mendes de Oliveira

Paciente: Venho doutor, fazer-lhe uma consulta.
A doença que me punge e esteriliza a mocidade e o espírito,
Resulta de uma chaga que nunca cicatriza.
Muito embora comum a toda gente, a de que sofro, atroz hipocondria,
Tanto me torna pensativo e doente, que já não sei o que é paz nem alegria..
Sendo o mais sábio clínico do mundo, sois também um filósofo notável, do
Peito humano auscultador profundo, curareis este mal inexorável.
Que me destrói o organismo fibra-a-fibra
Que me enevoa o cérebro e o condensa.
Eu tenho um coração que já não vibra
Suporto uma cabeça que não pensa.
Este tédio mortal, tédio agoureiro,
Que me envenena, que me escurece os dias,
É como os beijos dado á dinheiro, numa noite de orgias.

Doutor: O amigo tem razão, padece realmente
Contudo a infermidade, o morbus que o devora,
É um produto fatal do século de agora.
Uma emoção vibrante, um abalo violento, pode cura-lo
Creio. Apenas num momento. O tédio é uma sombria, uma
Fatal loucura. É a treva interior, a grande noite escura.
Onde se esquece tudo. A sorte, a vida amada. O nosso
Próprio ser e só se lembra o nada.
---diga-me. Alguma vez amou ?
Nunca em seu peito estrugiu das paixões o temporal desfeito ?
Como as vagas de um mar que se agita e encapela, ao soturno rumor do vento
E da procela ?

Paciente: Nunca.

Doutor: Pois meu caro. Procure a agitação constante.
Um prazer esquisito, um gozo triunfante.
Já visitou a Grécia, o Oriente a terra santa ?
Os sítios onde tudo hoje evoca e decanta, as glorias uma idade imorredoura
E eterna, que amesquinha e deslumbra a geração moderna ?

Paciente: Em híbridos festins passei a mocidade. Percorri viajando, o mundo
E a humanidade, como Judas da lenda.
E entre as mulheres todas, cujos lábios beijei
Em bacanais e bodas,
Mulher nenhuma eu vi sobre a terra tamanha
Que para mim não fosse uma visão estranha.
Como parti voltei. Sem achar lenitivo para este mal doutor.
Que assim me trás cativo.

Doutor: Frequente o circo, amigo. A figura brejeira do famoso Arlequim,
Que a esta cidade inteira palmas e aclamações constantemente arranca.
Talvez lhe restitua a gargalhada franca.

Paciente: Vejo doutor, que o meu caso é perdido.
O truão de que falas, o palhaço querido
Que anda no Coliseu assim tão aclamado, tem um riso
De morte, um riso mascarado, que encobre a dor sem fim
Do tédio e do cansaço... sou eu este Palhaço.

Limites

Qual o seu limite para sonhar e realizar objetivos em sua vida?
Nenhum.
O limite é você quem impõe.
Você é a única pessoa que pode colocar restrições nos seus desejos.
Veja que as grandes realizações do nosso século aconteceram quando alguém resolveu vencer o impossível...
Nas navegações, encontramos um Colombo determinado a seguir viagens pelo mar, mesmo estando cansado de ouvir que o mar acabava e estava cheio de monstros terríveis.
Santos Dumont, foi taxado de louco tantas vezes que nem mais ligava para os comentários, até fazer subir seu 14 Bis...
Ford foi ignorado por banqueiros e poderosos que não acreditavam em carros em série.
Einstein foi ridicularizado na Alemanha... Desistir de nossos projetos, ou aceitar palpites infelizes em nossas vidas é mais fácil do que lutar por eles.
Renunciar, chorar, aceitar a derrota é mais simples pelo simples fato de que não nos obriga ao trabalho.
E ser feliz, dá trabalho.
Ser feliz é questão de persistência, de lutas diárias, de encantos e desencantos.
Quantas pessoas passaram pela sua vida e te magoaram ???
Quantos passarão pela sua vida só para roubar tua energia ???
Quantos estarão realmente preocupados com você???
A questão é como você vai encarar essas situações.
Como ficarão seus projetos...eles resistirão as amarguras e desacertos do dia a dia???
O objetivo você já tem: ser feliz !!!
Como alcançar você já sabe: lutando !!!
Resta saber o quanto feliz você realmente quer ser.
E principalmente; qual o limite que você colocou em seus sonhos.
Lembre-se: não há limites para sonhar...
Não se limite, vá a luta!
O impossível é apenas algo que alguém ainda não realizou !!!
E sempre Sorria !!!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Sejam Gratos


Existe uma palavrinha que talvez tenha mais significado do que todas as outras: é a palavra "obrigado." Encontramos termos comparáveis em todas as línguas, como gracias, merci, danke, thank you, domo.

O hábito de agradecer é uma característica dos homens e mulheres nobres. Com quem o Senhor está descontente? Ele menciona "os que não confessam Sua mão em todas as coisas." (D&C 59:21) Ou seja, aqueles que não expressam gratidão. Tenham o coração grato, meus caros amigos. Agradeçam pelas bênçãos maravilhosas que possuem. Sejam gratos pelas formidáveis oportunidades que têm.

Sejam gratos aos pais que se importam tanto com vocês e que tanto já trabalharam para sustentá-los. Externem-lhes sua gratidão. Agradeçam à sua mãe e a seu pai. Agradeçam a seus amigos. Agradeçam a seus professores. Demonstrem gratidão a todos que lhes prestarem algum favor ou os ajudarem de qualquer maneira.

Agradeçam ao Senhor por Sua bondade para com vocês. Agradeçam ao Todo-Poderoso por Seu Filho Amado, Jesus Cristo, que fez por vocês o que ninguém mais em todo o mundo poderia. Agradeçam-Lhe por Seu grande exemplo, Seus extraordinários ensinamentos e por Sua mão que está sempre estendida para erguer e amparar. Pensem no significado de Sua expiação infinita. Leiam sobre Ele e leiam as palavras Dele no Novo Testamento e em 3 Néfi 11, no Livro de Mórmon. Leiam-nas em silêncio e ponderem-nas. Abram o coração para Ele agradecendo pelo dom de Seu Filho Amado.

Agradeçam ao Senhor por Sua Igreja maravilhosa que foi restaurada neste período excepcional da história. Agradeçam a Ele por tudo o que lhes oferece. Agradeçam pelos amigos e entes queridos, pelos pais e irmãos, pela família. Que um espírito de gratidão guie e abençoe seus dias e noites. Empenhem-se por isso e presenciarão resultados notáveis.


Trecho do Discurso do Presidente Gordon B Hinckley Texto de um discurso proferido para os jovens e jovens adultos solteiros da Igreja em 12 de novembro de 2000 no Centro de Conferências de Salt Lake City e transmitido via satélite para toda a Igreja.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O que Devemos Construir. Escolas ou Presídios?

A história daquele jovem de 18 anos, não é diferente das histórias de muitos jovens pobres dessa idade, em nosso país e nos demais países subdesenvolvidos.
Ele estava ali, contra o muro, ao lado do carro roubado, em frente às câmeras e ao repórter que fazia a matéria para levar ao ar num desses programas de TV que exploram as misérias humanas.
O jovem estava vestido com visível pobreza. Camiseta, bermuda e "chinelo de dedo".
Em pé, com as costas no muro, ele apertava as pálpebras para evitar que as lágrimas caíssem, mas elas brotavam, teimosas, e rolavam pelo seu rosto amedrontado, apavorado, indefeso.
Ele não havia roubado o carro, era apenas o entregador.
Perseguido pela polícia, na curva de um viaduto ele perdeu a direção do veículo e se chocou contra a murada.
Agora estava ali, com as mãos algemadas e rodeado por policiais e pelos repórteres.
O outro garoto que estava com ele no carro no momento do acidente não era focalizado, já que era menor de idade.
O repórter, que sabia parte da história, perguntou ao jovem, desejando saber mais sobre o assunto: "Sabemos que você não roubou esse veículo, mas poderia dizer para onde iria levá-lo?"
E a resposta do jovem: "Nóis não sabe. Nóis tava levando o carro e alguém ia informá pra nóis o que era pra fazê."
Não havia dúvida...
Estava ali a prova da nossa falência, como sociedade, dita civilizada.
Todos nós, brasileiros, somos responsáveis pelo que aconteceu com aquele jovem e com os demais jovens e crianças do nosso país.
Sim, ele, como os demais, é um dos filhos da nossa pátria, e, portanto, responsabilidade nossa.
Quando não se constroem escolas, é preciso construir presídios para segregar os delinqüentes, que não tiveram acesso às letras.
Sem dúvida que o acesso à escola não é garantia de honestidade, e disso temos provas diariamente.
No entanto, a falta de escola tem sido a grande responsável pela delinqüência de nossas crianças, adolescentes e jovens.
E esse era o caso daquele garoto, que ainda trazia no rosto o semblante da inocência, da fragilidade, da insegurança, do abandono social.
Não havia dúvida de que era fruto da miséria, filho de pais que também não tiveram acesso à escola, ou talvez nem tivesse pais.
Pelas necessidades que portava, foi usado por alguma quadrilha de ladrões de carros.
Para ganhar alguns trocados e sobreviver, arriscava a própria vida.
Talvez você esteja se perguntando: "E o que eu tenho a ver com isso? Isso é problema dos governantes."
Mas a própria consciência lhe pergunta: "E se fosse seu filho, seu irmão, seu neto, seu sobrinho?"
É preciso, não há dúvida, socorrer a infância, construir escolas, criar condições de acesso das crianças ao estudo, à alimentação, à moradia, à segurança.
Ou, então, não restará outra opção a não ser construir presídios e mais presídios...
E vale considerar que os custos de manutenção de um detento, em nosso país, é muito, mas muito maior do que os custos de um aluno na escola.
Além disso, o cárcere tem outros tantos prejuízos para o indivíduo e para a sociedade, que não deixa dúvida que a escola é a melhor e mais barata das alternativas.
E a decisão, como sempre, é nossa.
Pensemos nisso!

Enquanto os bons não tomarem atitude e enfrentar os maus, continuaremos a ser massa de manobra dos poderosos e corruptos.

domingo, 3 de agosto de 2014

Os Benefícios da Atenção


Narra um psicólogo que um casal trouxe o filho ao seu consultório. Garoto de quatorze anos, cabeludo, foi descrito pelos pais como um terrível problema. Ele já havia fugido de casa inúmeras vezes, só retornando ao lar por interferência policial.
O relacionamento entre pais e filho era muito ruim. A mãe chorosa disse ao psicólogo que não sabia mais o que fazer. Tudo que ela e o marido podiam, davam ao filho. Ele não tinha do que reclamar. Roupas, carro, dinheiro, viagens. E o comportamento não melhorava.
O terapeuta iniciou uma série de sessões com o adolescente. Depois de algum tempo, conquistou a sua confiança e o jovem contou o seu drama emocional:
Meus pais não ligam para mim. Dão coisas para mim, até o que nem quero. Mas, nunca fazemos alguma coisa juntos. Quando tento falar com meu pai, ele nem me olha. Muito menos me escuta. Já vai perguntando se eu quero mais dinheiro. Minha mãe vive a me criticar o cabelo, o brinco na orelha, mas nunca me ouve.
Estava descoberto o problema. A causa da rebeldia do garoto chamava-se rejeição. Os pais lhe davam coisas materiais mas não se doavam a ele, em momento algum.
Psiquiatras, psicólogos, educadores e religiosos já se posicionaram, oportunamente, dizendo que a melhor atitude pessoal para ajudar alguém em dificuldade, e em especial a juventude, é o domínio da arte de prestar atenção. O que quer dizer, se interessar pela pessoa.
Ouvir como quem deseja mesmo se inteirar do problema.
Observar atitudes que estejam a dizer: olhem para mim.
Isso porque toda criatura humana sente necessidade de ser ouvida. A ausência dessa atenção causa muitos problemas psicológicos a crianças, jovens e adultos.
Em verdade, a criança manhosa que fica puxando a saia da mãe ou o braço do pai, o adolescente revoltado, o desordeiro, até um determinado ponto estão gritando: eu quero a atenção de vocês.
E quem de nós não pode ceder alguns minutos para ouvir? Quando Anne Sullivan encontrou a menina Helen Keller, cega, surda e muda, ela parecia em seus seis anos de idade um animal selvagem.
Fechada em seu mundo, sem conseguir ser entendida, quando não faziam aquilo que ela queria, dava beliscões, pontapés, mordidas.
Anne Sullivan realizou o milagre dando-lhe atenção.
Atenção apoiada em afeição, motivada pelo interesse.
Anos mais tarde, Helen Keller escrevia em suas memórias:
"senti passos que se aproximavam. Estirei a mão, e alguém a pegou, fui levantada e segura pelos braços daquela que, vindo para me revelar todas as coisas, viera, acima de tudo, para me querer bem.
Registrem na memória essa relíquia de pensamento: a moeda de ouro da atenção - aprendam a dá-la graciosa e alegremente, que os dividendos hão de voltar, derramando-se em vocês."

Todos os seres humanos têm necessidade de segurança na jornada terrena, cheia de percalços.
Os pais, os educadores, os adultos em geral são modelos para a criança, que os amará, copiando suas atitudes ou os detestará, também incorporando inconscientemente sua maneira de ser.
O carinho na infância, o amor e a ternura, ao lado do respeito à criança são fundamentais para uma vida saudável.
Não esqueçamos que os seres humanos que compõem a nossa sociedade, com seus diversos comportamentos, são a resultante da educação na família e do seu nível de consciência individual.