Lares Celestiais—Famílias Eternas
PRESIDENTE THOMAS S. MONSON
Edificar um Lar Eterno
Nota
1. Carta da Primeira Presidência, de 11 de fevereiro de 1999; ver A Liahona,
dezembro de 1999, p.1.
PRESIDENTE THOMAS S. MONSON
Edificar um Lar Eterno
É com muita humildade que represento a Primeira Presidência como o último orador
desta reunião. Fomos inspirados e edificados pelas palavras do Élder Bednar, do Élder
Perry e da irmã Parkin. Nossos pensamentos se centralizaram no lar e na família ao
sermos relembrados que “o lar é a base de uma vida digna, e nenhuma outra coisa
pode substituí-lo nem cumprir suas funções essenciais”. 1
Um lar é muito mais do que uma casa construída com madeira, tijolos ou pedras. Um
lar é feito de amor, sacrifício e respeito. Somos responsáveis pelo lar que construímos.
Precisamos edificar com sabedoria, porque a eternidade não é uma viagem curta.
Haverá calmarias e ventos, sol e trevas, alegria e tristezas. Mas se realmente
tentarmos, nosso lar pode ser um pedaço do céu aqui na Terra. As coisas que
pensamos, as ações que praticamos, a vida que levamos, não apenas influenciam o
sucesso de nossa jornada terrena, como também assinalam o caminho para nossas
metas eternas.
Algumas famílias da Igreja são compostas de mãe, pai e filhos, todos em casa, ao
passo que outras testemunharam a triste partida de um, depois outro e mais outro de
seus membros. Às vezes, uma única pessoa compõe uma família. Seja qual for sua
composição, a família tem continuidade — porque as famílias podem ser eternas.
Podemos aprender com o Arquiteto Mestre — sim, o Senhor. Ele nos ensinou como
precisamos edificar. Ele declarou: “[Toda] casa dividida contra si mesma não
subsistirá” (Mateus 12:25). Mais tarde, admoestou: “Eis que minha casa é uma casa
de ordem (. . .) e não uma casa de confusão” (D&C 132:8).
Em uma revelação dada por intermédio do Profeta Joseph Smith em Kirtland, Ohio,
em 27 de dezembro de 1832, o Mestre aconselhou: “Organizai-vos; preparai todas as
coisas necessárias e estabelecei uma casa, sim, uma casa de oração, uma casa de
jejum, uma casa de fé, uma casa de aprendizado, uma casa de glória, uma casa de
ordem, uma casa de Deus” (D&C 88:119; ver também 109:8).
Onde poderíamos encontrar uma planta mais adequada com a qual Ele pudesse
edificar sábia e devidamente? Essa casa respeitaria o código de construção descrito
em Mateus, sim, uma casa construída “sobre a rocha” (Mateus 7:24, 25; ver também
Lucas 6:48; 3 Néfi 14:24, 25), uma casa capaz de suportar as chuvas da adversidade,
as enchentes da oposição e os ventos da dúvida, que estão sempre presentes em nosso
mundo desafiador e em constante mudança.
Alguns poderiam perguntar: “Mas essa revelação foi dada para orientar a construção
de um templo. Será que ela é relevante hoje em dia?”
Eu responderia: “Acaso não declarou o Apóstolo Paulo: ‘Não sabeis vós que sois o
templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?’” (I Coríntios 3:16).
Deixem que o Senhor seja o empreiteiro geral de nosso projeto de construção. Depois,
todos podemos ser mestres-de- obras, responsáveis por partes vitais do projeto inteiro.
Todos então seremos construtores. Além de edificar o nosso próprio lar, também
temos a responsabilidade de ajudar a edificar o reino de Deus aqui na Terra, servindo
fiel e eficazmente em nossos chamados na Igreja. Gostaria de prover-lhes diretrizes
divinas, lições de vida e pontos a ponderar ao começarmos a construir.
Ajoelhem-se para Orar
“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio
entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas
veredas” (Provérbios 3:5–6). Assim falou o sábio Salomão, filho de Davi, rei de
Israel.
Neste continente americano, Jacó, o irmão de Néfi, declarou: “Confiai em Deus com a
mente firme e orai a ele com grande fé” (Jacó 3:1).
Esse conselho divinamente inspirado chega até nós hoje tão claro quanto água
cristalina a uma Terra ressecada. Vivemos numa época complicada.
Há bem poucas gerações atrás, ninguém poderia imaginar o mundo em que vivemos
hoje e os problemas que nele existem. Estamos cercados pela imoralidade,
pornografia, violência, drogas e uma infinidade de outros males que afligem a
sociedade moderna. Temos o desafio, sim, a responsabilidade de não apenas manter-
nos “[imaculados]” (Tiago 1:27), mas também de guiar nossos filhos e outras pessoas
sob nossa responsabilidade com segurança através dos mares tempestuosos do pecado
que nos cercam, para que possamos voltar a viver um dia com nosso Pai Celestial.
A educação de nossa própria família exige nossa presença, nosso tempo e o máximo
de nosso empenho. Para sermos eficazes em nosso ensino, precisamos ser vigorosos
em nosso exemplo para os membros de nossa família estar disponíveis para passar
algum tempo com cada um deles e também para aconselhar e orientar.
Freqüentemente nos sentimos sobrecarregados com a tarefa que temos diante de nós.
Contudo, sempre contamos com ajuda. Ele que conhece cada um de Seus filhos
responderá nossa oração fervorosa e sincera, se buscarmos ajuda para guiá-los. Essa
oração resolverá mais problemas, aliviará mais sofrimentos, evitará mais
transgressões e proporcionará mais paz e alegria à alma humana do que qualquer
outra coisa.
Além de precisarmos dessa orientação para nossa própria família, fomos chamados a
cargos em que temos responsabilidade por outros: como bispo ou conselheiro, como
líder de um quórum do sacerdócio ou de uma organização auxiliar. Líder, você tem a
oportunidade de exercer uma grande influência na vida de outras pessoas. Pode haver
aqueles que têm familiares menos ativos ou não-membros; alguns podem ter-se
afastado dos pais, não dando atenção a suas súplicas e conselhos. Podemos muito bem
ser o instrumento nas mãos do Senhor para fazer algo importante na vida de alguém
em tal situação. Sem a orientação de nosso Pai Celestial, porém, não podemos fazer
tudo a que fomos chamados a fazer. Essa ajuda vem por meio da oração.
Foi perguntado a um famoso juiz americano o que nós, como cidadãos dos países do
mundo, poderíamos fazer para reduzir o crime e a desobediência à lei e trazer paz e
alegria à nossa vida e ao nosso país. Ele respondeu, pensativo: “Eu sugeriria uma
volta ao antigo costume de orar em família”.
Como povo, quão gratos somos pelo fato de a oração familiar não ser um costume
antiquado entre nós. Há um significado real neste conhecido ditado: “A família que
ora unida, permanece unida”.
O próprio Senhor ordenou que tivéssemos oração familiar, ao dizer: “Orai ao Pai no
seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que vossas mulheres e vossos
filhos sejam abençoados” (3 Néfi 18:21).
Como pais, professores e líderes em qualquer cargo, não podemos nos dar ao luxo de
tentar realizar essa jornada potencialmente perigosa pela mortalidade, sem o auxílio
celeste para ajudar-nos na orientação daqueles que estão sob nossa responsabilidade.
Ao oferecermos a Deus nossas orações familiares e pessoais, façamos isso com fé e
confiança Nele. Ajoelhem-se para orar.
Aceitem a Tarefa de Servir
Tomemos, como exemplo, a vida do Senhor. Tal como um brilhante facho de luz de
virtude foi a vida de Jesus, ao ministrar entre os homens. Ele deu força aos membros
do inválido, visão aos olhos dos cegos, audição aos ouvidos dos surdos e vida ao
corpo dos mortos.
Suas parábolas pregavam Seu poder. Com a parábola do bom samaritano Ele ensinou:
“Ama teu semelhante” (ver Lucas 10:30–35). Por meio de Sua bondade para com a
mulher apanhada em adultério, Ele ensinou a compreensão compassiva (ver João
8:3–11). Em Sua parábola dos talentos, Ele nos ensinou a progredir e a esforçar-nos
para alcançar a perfeição (ver Mateus 25:14–30). Ele bem poderia estar nos
preparando para nosso papel na edificação de uma família eterna.
Cada um de nós — seja um líder do sacerdócio ou de uma organização auxiliar — é
responsável por seu chamado sagrado. Fomos designados para o trabalho ao qual
fomos chamados. Em Doutrina e Convênios 107:99 o Senhor disse: “Portanto agora
todo homem aprenda seu dever e a agir no ofício para o qual for designado com toda
diligência”. Ao ajudarmos a abençoar e fortalecer os que estão sob nossa
responsabilidade em nossos chamados na Igreja, estamos de fato, abençoando e
fortalecendo sua família. Assim, o serviço que realizamos em nossa família e em
nossos chamados na Igreja pode ter conseqüências eternas.
Há muitos anos, como bispo em uma ala grande e heterogênea, de mais de mil
membros, localizada no centro de Salt Lake City, enfrentei inúmeros desafios.
Certa tarde de domingo, recebi o telefonema do proprietário de uma drogaria que
ficava dentro dos limites de nossa ala. Ele disse que naquela manhã, um rapaz tinha
ido até sua loja e comprado um sorvete. Ele pagara a compra com dinheiro que havia
tirado de um envelope e depois, quando saiu, esqueceu de levar o envelope. Quando o
proprietário teve a chance de examiná-lo, descobriu que era um envelope de oferta de
jejum com o nome e o telefone de nossa ala impresso nele. Ao descrever-me o menino
que estivera em sua loja, imediatamente identifiquei quem era: um jovem diácono de
nossa ala que fazia parte de uma família menos ativa.
Minha primeira reação foi ficar chocado e desapontado ao pensar que um de nossos
diáconos havia coletado dinheiro de oferta de jejum para ajudar os necessitados e
tinha ido a uma loja no domingo para comprar guloseimas com /’esse dinheiro. Decidi
visitar aquele menino naquela tarde para ensiná-lo a respeito dos fundos sagrados da
Igreja e ‘/de seu dever como diácono de coletar e proteger esse dinheiro.
Ao dirigir-me para sua casa, fiz uma oração silenciosa pedindo orientação sobre como
abordar a situação. Cheguei e bati na porta. A mãe do menino abriu a porta e me
convidou para entrar na sala de estar. Embora a sala estivesse mal iluminada, pude ver
que era pequena e pobre. Os poucos móveis que ali havia estavam bem estragados. A
própria mãe parecia muito cansada.
Minha indignação pelos atos do filho naquela manhã desapareceu de meus
pensamentos ao me dar conta que ali estava uma família realmente necessitada. Senti-
me inspirado a perguntar à mãe se havia comida na casa. Com lágrimas nos olhos, ela
admitiu que não havia nada. Disse-me que o marido estava desempregado havia
algum tempo e que eles estavam precisando desesperadamente não apenas de comida,
mas também de dinheiro para pagar o aluguel para que não fossem despejados
daquela casa tão pequena.
Não mencionei o assunto das doações de oferta de jejum, pois me dei conta de que o
menino provavelmente estava desesperadamente faminto quando parou na farmácia.
Em vez disso, cuidei imediatamente para que a família fosse ajudada, para que
tivessem alimento para comer e um teto sobre a cabeça. Além disso, com a ajuda dos
líderes do sacerdócio da ala, conseguimos arranjar emprego para o marido para que
ele pudesse prover o sustento da família no futuro.
Como líderes do sacerdócio e das auxiliares, temos o direito de receber a ajuda do
Senhor ao magnificarmos nossos chamados e cumprirmos nossas responsabilidades.
Busquem a ajuda Dele e, quando a inspiração chegar, sigam essa inspiração para
saberem aonde ir, quem visitar, o que dizer e como dizê-lo. Podemos ter uma idéia e
pensar nela constantemente, mas somente quando a colocamos em prática, é que
abençoamos vidas humanas.
Sejamos verdadeiros pastores dos que estão sob nossa responsabilidade. John Milton
escreveu este poema, “Lycidas”: “As ovelhas famintas erguem os olhos e não são
alimentadas” (linha 125). O próprio Senhor disse ao profeta Ezequiel: “Ai dos
pastores de Israel que (...) não [apascentam] as ovelhas” (Ezequiel 34:2–3).
Temos a responsabilidade de cuidar do rebanho, das preciosas ovelhas, dos ternos
carneiros que estão em toda parte — em casa em nossa própria família, nas casas de
nossos parentes e esperando por nós em nossos chamados na Igreja. Jesus é nosso
exemplo maior. Ele disse: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas” (João
10:14). Temos a responsabilidade de ser pastores. Que cada um de nós aceite a tarefa
de servir.
Estendam a Mão para Resgatar
Em nossa jornada pela trilha da vida, haverá vítimas. Algumas saem da estrada que
conduz à vida eterna, para descobrir que o atalho escolhido conduz a uma rua sem
saída. A indiferença, a negligência, o egoísmo e o pecado, todos trazem sérias
conseqüências em termos de vidas humanas. Há aqueles que, por motivo inexplicado,
seguem por um caminho diverso, para mais tarde descobrirem que seguiram o
caminho da dor e do sofrimento.
Em 1995, a Primeira Presidência, pensando naqueles que se perderam do rebanho de
Cristo, publicou uma declaração especial chamada “Um Convite para Voltar”. A
mensagem continha este apelo:
“Para você que por qualquer motivo estiver fora do convívio da Igreja, dizemos:
Volte. Convidamos você a retornar e partilhar da felicidade que conheceu. Você
encontrará muitos com os braços abertos para recebê-lo, ajudá-lo e dar-lhe consolo.
A Igreja precisa de sua força, amor, lealdade e devoção. Há um curso traçado e seguro
pelo qual uma pessoa pode voltar a ter as bênçãos plenas de ser membro da Igreja, e
estamos prontos para receber todos os que desejarem fazê-lo.”
Talvez uma cena freqüentemente repetida vá ajudá-los a compreender melhor suas
oportunidades pessoais de estender a mão para resgatar. Vejamos uma família que
tem um filho chamado Jack. Durante toda a juventude de Jack, ele e seu pai brigaram
muito. Certo dia, quando estava com 17 anos de idade, eles tiveram uma briga
particularmente feia. Jack disse ao pai: “Essa foi a gota d’água. Vou sair de casa para
nunca mais voltar!” Ele foi até o seu quarto e fez uma mala. A mãe implorou que ele
ficasse, mas ele estava zangado demais para ouvir. Deixou-a chorando junto à porta.
Saindo para o quintal, ele estava para atravessar o portão, quando ouviu o pai chamá-
lo: “Jack, sei que grande parte da culpa por você sair de casa é minha. Eu realmente
sinto muito por isso. Quero que saiba que quando quiser voltar, você será sempre
bem-vindo. E eu tentarei ser um pai melhor para você. Quero que saiba que eu amo
você e sempre o amarei”.
Jack não disse nada, mas foi para a estação rodoviária e comprou uma passagem para
um lugar distante. Enquanto estava sentado no ônibus vendo os quilômetros passarem,
seus pensamentos se voltaram para as palavras do pai. Ele começou a se dar conta de
quanta coragem e quanto amor foram exigidos do pai para que ele dissesse aquilo. O
pai tinha pedido perdão. Tinha-o convidado a voltar, e suas últimas palavras ficaram
soando no ar quente de verão: “Eu amo você”.
Jack sabia que o próximo passo deveria ser seu. Deu-se conta de que a única maneira
de ter paz consigo mesmo era mostrar ao pai o mesmo tipo de maturidade, bondade e
amor que o pai mostrara para com ele. Jack desceu do ônibus. Comprou uma
passagem de volta e começou a viagem de volta para casa.
Chegou pouco depois da meia-noite, entrou na casa e acendeu a luz. Ali na cadeira de
balanço estava seu pai, com a cabeça baixa. Quando ergueu o rosto e viu Jack, ele
ergueu-se da cadeira. Os dois correram um para os braços do outro. Jack disse mais
tarde: “Aqueles últimos anos que fiquei em casa estiveram entre os mais felizes da
minha vida”.
Ali estava um pai que, suprimindo a paixão e dominando o orgulho, estendeu a mão
para resgatar seu filho, antes que ele se tornasse parte daquele imenso “batalhão
perdido”, que resulta de famílias separadas e lares desfeitos. O amor é o grande
remédio, o bálsamo que cura; o amor tão freqüentemente sentido, tão raramente
expresso.
Do monte Sinai ressoa em nossos ouvidos: “Honra teu pai e tua mãe” (Êxodo 20:12).
E mais tarde, daquele mesmo Deus, veio o mandamento: “Juntos vivereis em amor”
(D&C 42:45).
Sigam a Planta do Senhor
Ajoelhem-se para orar. Aceitem a tarefa de servir. Estendam a mão para resgatar.
Cada uma dessas coisas é uma página essencial na planta de Deus para fazer da casa
um lar, e do lar, um pedaço do céu.
O equilíbrio é a chave para nós em nossas sagradas e solenes responsabilidades em
nosso próprio lar e em nossos chamados na Igreja. Precisamos usar de sabedoria,
inspiração e bom senso ao cuidarmos de nossa família e cumprirmos nossos chamados
na Igreja, pois cada uma dessas coisas é de fundamental importância. Não podemos
negligenciar nossa família; não podemos negligenciar nossos chamados na Igreja.
Edifiquemos com aptidão, não tomemos atalhos e sigamos Sua planta. Então, o
Senhor, nosso inspetor de construção, poderá dizer-nos, como disse quando apareceu
a Salomão, um construtor de outra época: “Santifiquei a casa que edificaste, a fim de
pôr ali o meu nome para sempre; e os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os
dias” (I Reis 9:3). Teremos então um lar celestial e uma família eterna e seremos
capazes de ajudar, fortalecer e abençoar outras famílias também.
Oro com muita humildade e sinceridade para que essa bênção seja concedida a cada
um de nós. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Nota
1. Carta da Primeira Presidência, de 11 de fevereiro de 1999; ver A Liahona,
dezembro de 1999, p.1.