O sol entrava pelas janelas da sala de aula e ia brincar nos cabelos das crianças. Às vezes projetava uma mão na folha de papel, fazendo uma engraçada sombra. E era uma tentação para os pequenos. Alguns às escondidas, pegavam um lápis e desenhavam sobre a folha, enquanto a professora ditava: Primavera, nome de Estação, como se escreve, Marco? Marco acordava então das suas divagações de luz e de sombra, e respondia:
— Com letra maiúscula, professora.
A professora continuava… Gildinha, Joãozinho, Toninho… Venham fazer um trabalho de grupo. E Marcos pensava: e eu? E eu por que sou só Marcos e não Marquinho? E ficava pensando… talvez o meu nome não dê jeito… Mas ficava triste, sentia que para ele não havia tanta ternura. Aquelas duas sílabas bem marcadas do seu nome o feriam constantemente e ele sentia-se só… ele que nem sequer tinha irmãos.
Chegou a hora do recreio. Uma manhã banhada pela luz do sol. Os passarinhos chilreavam contentes, ostentando a sua bela plumagem e entoando doces trinados. As crianças brincavam tirando das suas mochilas, saborosos lanches que as mães tinham arrumado cuidadosamente. E brincavam, riam, pulavam. De repente, junto ao muro da escola, parou uma pobre menina, suja, com um irmãozinho no colo…
— Como te chamas? — perguntou Marcos.
— Sílvia — respondeu a menina embalando o irmãozinho que chorava.
Marcos pensou: — também ela não era Silviazinha.
— Queres pão?
— Quero.
Marcos partilhou a sua merenda com Sílvia e ficaram amigos. Todos os dias a menina aparecia, todos os dias Marcos partilhava com ela a sua merenda e a menina trazia-lhe uma flor silvestre, que ele guardava cuidadosamente entre as folhas do seu livro. Marcos pensava que a vida era cheia de contrastes de luz e de sombras… Mas também pensou que a amizade e o amor estão nos atos e não nas palavras, que não é por um simples inho ou inha que há mais amor. E, desse dia em diante, sentiu-se mais feliz.
Maria José Craveiro R. Valente
Do livro: O meu mundinho